No dia 1º de março de 2002, em plena campanha pela escolha dos pré-candidatos à Presidência da República, dentro dos partidos, precisamente às 14h15, a Polícia Federal invade a Lunus, empresa de Jorge Murad, marido da pré-candidata à presidência do PLF, Roseana Sarney. Lá, os agentes encontraram documentos que ligavam a empresa ao escândalo Sudam (pelo qual vinha sendo investigada) e mais R$ 1,34 milhão em dinheiro. Às 19h, FHC e Sarney têm uma conversa ríspida por telefone, na qual o senador denunciava o que seria uma "armação suja" do governo para derrubar sua filha e beneficiar o candidato do PSDB à presidência, José Serra. Três dias depois, o PFL deixa o primeiro escalão do governo FHC. No dia 12 de março, Murad renuncia ao cargo de secretário de Planejamento do Maranhão e diz que o dinheiro achado na Lunus era para a campanha de Roseana. No dia 20 de março, o senador José Sarney sobe à tribuna do Senado e faz um discurso de 80 minutos, culpando José Serra e o governo de FHC pela espionagem contra sua filha Roseana. Na ocasião, Sarney comparou o caso ao do Watergate, que levou à renúncia o presidente norte-americano Richard Nixon. Finalmente, no dia 13 de abril, Roseana retira-se oficialmente da disputa pela vaga de candidata do PFL à presidência (1).
O caso teve ampla cobertura da imprensa, mas, até hoje, ninguém sabe QUEM PAGOU a empresa de espionagem que teria fornecido os dados para que o plano de tirar Roseana da disputa presidencial tivesse sido bem sucedido. DE ONDE VEM O DINHEIRO? É sempre a pergunta que tem atormentado os brasileiros diante das inúmeras denúncias que vêm sendo feitas há anos no Brasil. As investigações sempre morrem quando se chega a esta fatídica pergunta. Será diferente agora, no caso do “dossiê” comprado pelos petistas em sociedade com uma revista de circulação nacional (“supostamente” a IstoÉ) para prejudicar as candidaturas de José Serra ao governo de São Paulo e de Geraldo Alckmin à presidência da República?
(A FOTO ACIMA SAIU NA REVISTA VEJA, DE 13 DE MARÇO DE 2002. A REPORTAGEM TRATAVA DO EPISÓDIO DO FLAGRANTE E QUESTIONAVA SOBRE A ORIGEM DO DINHEIRO - A VEJA NÃO FALAVA DE ARMAÇÕES TUCANAS E NEM DAVA INFINITOS DETALHES DE NOMES E SOBRENOMES DE "PROVÁVEIS" ENVOLVIDOS COM A ESPIONAGEM, COMO O FAZIA A ISTO É)
O que de fato acaba acontecendo é que, se há toda uma investigação, através de instituições, das polícias, da imprensa e de órgãos governamentais, e nunca há uma conclusão definitiva, inclusive com a exemplar punição dos envolvidos, cabe a nós, cidadãos brasileiros, tirar nossas próprias conclusões e fazer todas as ilações que acharmos plausíveis. Aliás, isso é o que nos tem restado. O mais recente caso que escandaliza a nação – o caso do dossiê Vedoin -, por exemplo, nos remete imediatamente ao caso Roseana – há muitas semelhanças entre os dois, talvez até muito mais do que suponha a nossa vã filosofia. Mas, vamos começar do começo.
Na corrida pela seleção dos candidatos que iriam disputar as eleições presidenciais, de 2002, havia nomes de peso: José Serra (PSDB), Roseana Sarney (PFL), Lula (PT), Ciro Gomes (PPS), Anthony Garotinho (PSB) e até Sílvio Santos (também cogitado pelo PFL). Segundo pesquisas de projeção eleitorais, eram grandes as chances de termos um segundo turno com Roseana e Lula na disputa. Nesse caso, e o PT sabia disso muito bem, Roseana poderia realmente ganhar as eleições, por ter, além de todas as já tradicionais condições (cultura, inteligência, popularidade, etc.) tinha também o apelo do extraordinário: uma mulher na Presidência; assim como Lula: um trabalhador na presidência.
Vejam o que dizia Anamaria Rossi, da equipe do Correio Brasiliense, em 15 de março de 2002 (
http://www2.correioweb.com.br/cw/2002-03-15/mat_36547.htm) para que se constate (ou se relembre) o quão relevante era a posição da candidata do PLF, mesmo já depois da apreensão do dinheiro na Lunus:
‘‘Roseana não está morta, não.’’ Assim um dirigente do PFL resumiu a impressão deixada entre os pefelistas pelas explicações do pesquisador Paulo Guimarães. Ele é diretor do instituto GPP, responsável pelas sondagens eleitorais para o partido. Com argumentos numéricos, Guimarães convenceu a Executiva do PFL de que Roseana Sarney ainda tem fôlego, pelo menos por enquanto, para manter-se no jogo da sucessão. Segundo a GPP, o crescimento real do candidato do PSDB, José Serra, depois das denúncias envolvendo Roseana não passa de cinco pontos percentuais. Na pesquisa GPP, nas duas últimas semanas o tucano passou de 10% para 15%. No mesmo período, Roseana caiu de 23% para 18%... O PFL fez as contas e concluiu que Roseana ainda está em segundo lugar, e não em terceiro, como aponta o Ibope. Nova rodada GPP será feita em duas semanas. Só então os pefelistas poderão dizer se sua candidata tem condições de continuar no páreo. Torcem para que nenhum novo escândalo estoure envolvendo o nome dela. E que os tucanos continuem sendo alvos de denúncias de espionagem...
Logo após a apreensão do dinheiro na Lunus, pela PF (1 de março de 2002), a edição da
Revista IstoÉ, de 13 de março de 2002, portanto menos de uma semana depois (para ser benevolente, já que não daria para entregar todo o material da reportagem de capa no dia 7, para uma revista que estaria nas bancas de todo o país no dia 8), saiu com uma série de dados novos, que certamente deveriam ser produto de demorada investigação. A matéria (de capa), assinada pelo jornalista Weiller Diniz - Duplo Haraquiri -, estava cheia de acusações: “Uma história recheada de intrigas, grampos ilegais, mentiras, chantagens e contratação de arapongas ligados ao antigo Serviço Nacional de Informações (SNI), tendo como motivação a guerra entre o PSDB e o PFL pela sucessão presidencial”.
No corpo da reportagem, as informações: “A reportagem de IstoÉ apurou que o ex-presidente José Sarney está certo quando levanta suspeitas de que sua filha foi alvo de arapongagem ilegal. Em dezembro do ano passado, uma firma de segurança foi contratada para fazer escutas nos telefones da governadora e de sua família e um levantamento detalhado da atuação de suas empresas. O trabalho desses arapongas, incluindo fotos em situações íntimas, foi oferecido, a custo zero, no final de fevereiro ao governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB), para ser usado como arma na campanha eleitoral. O governador recusou o material, mas procurou Sarney e informou que o interlocutor se apresentou como emissário do deputado Márcio Fortes, um dos coordenadores da campanha presidencial do senador tucano José Serra (SP)... O secretário-geral do PSDB, Márcio Fortes, tem negado qualquer participação no dossiê. Mas, no final do ano passado, um grupo de arapongas circulou por Brasília afirmando que havia sido contratado pelo PSDB para produzir o tal levantamento a respeito da família Sarney...”
Na edição seguinte da IstoÉ (20/03/2002), a revista continua fazendo denúncias e acusações, também na reportagem de capa –
Poder Paralelo (*) -, assinada por Ricardo Miranda, Vasconcelos Quadros e novamente por Weiller Diniz: “
Surgem novos indícios do envolvimento de tucanos no grampo ilegal com o aparecimento de arapongas. A crise política esquenta com pedidos de cassação e até de uma CPI. É a guerra total entre PSDB e PFL que pode inviabilizar o governo FHC”.
A reportagem apontava uma pequena firma de Brasília - a Interforte Sistemas de Segurança, que vendia kits de espionagem, como sendo a autora dos grampos. A empresa era do policial federal Jonathan Sardenberg e de seu amigo, José Heitor Nunes. Jonathan foi segurança do presidente Fernando Henrique Cardoso, na campanha de 1994, e também já havia cuidado de um ex-ministro das Comunicações - Sérgio Mota. A Interforte fora contratada, em dezembro de 2001, para fazer escutas clandestinas nos telefones de Roseana e de sua família. “Os autores da operação descobriram, pelo grampo, o dia em que haveria dinheiro na Lunus” e a “arapongagem virou um dossiê bombástico”, classifica a matéria. Jonathan negava ter participado do dossiê: “Essa história de dossiê é uma viagem”. Entretanto, também segundo a reportagem, Heitor teria ido a São Luiz (MA) por volta de outubro para fazer varredura nos telefones de um cliente
A reportagem citava ainda que, no Ministério da Saúde, chefiado até fevereiro daquele ano pelo então senador José Serra, “
a proximidade com arapongas era mais do que conhecida”. A “prova” em que se baseava a revista para dizer isso, era o fato de que Serra era amigo do delegado Marcelo Itagiba, superintendente da Polícia Federal no Rio, afirmando igualmente que o delegado era ligado a um coronel reformado do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI), Enio Fontenelle, dono de uma firma especializada em detectar escutas – a Fence - que tinha com o Ministério da Saúde um contrato de R$ 1,8 milhão por ano. A revista alegou ter pesquisado com firmas especializadas que disseram que uma varredura não saía por mais de R$ 5 mil (adivinhem com quem pesquisaram? Com a Interforte) por mês e lançou no ar a suspeita: “
Se a Fence só fez mesmo varreduras, teria que fazer mais de 370 por ano”. Várias mentiras em poucos parágrafos: 1) Enio Fontenelle nunca foi ligado a Itagiba; 2) as varreduras não saíam por no máximo R$ 5 mil, como disse a revista. As investigações do Tribunal de Contas da União comprovaram que os preços unitários da Interforte eram mais caros que os da Fence; 3) a revista deveria ter especificado que o contrato compreendia varreduras de vários tipos e nos mais diversos tipos de aparelhos e ambientes, cada qual com um valor diferente. Como estava na reportagem, parace que as varreduras eram somente feitas em telefones, o que fez com que muitas pessoas saíssem fazendo o cálculo absurdo de 600 aparelhos por mês.
“Depois do Sivam e das privatizações das Teles, a ISTOÉ mostrou que o País virou uma grampolândia”, dizia na matéria o então deputado José Genoíno (PT-SP) – com a empáfia de ícone da ética que sustentavam, para a opinão pública, os petistas, naquela época. “Fernando Henrique destruiu minha filha. Vou destruí-lo”, foram as palavras de Sarney já na parte final da matéria. Penso que isto dê luz a muito do que hoje acontece no país, com Sarney dando apoio inconteste a Luiz Inácio da Silva – evidentemente é uma questão de ordem pessoal e não de ordem nacional, como deveria ser a de um senador da república, eleito com o voto popular.
Na época, a reação do PT foi bem diferente da que atualmente o presidente Lula cobra de seus adversários políticos, especialmente nessa crise do “dossiê Vedoin”. Está tudo registrado:
Correio Brasiliense - 15 de março de 2002 – por Anamaria Rossi
CPI para apurar a arapongagem
PT e PFL articulam-se para criar comissão de inquérito para investigar o envolvimento do PSDB e do governo no esquema de espionagem e montagem de dossiês contra candidatos à Presidência da República adversários de José Serra.
O PT começa hoje a colher assinaturas para o pedido de abertura de uma CPI Mista — com deputados e senadores — para investigar o esquema de espionagem encravado na administração federal... ‘‘O governo federal especializou-se em alta tecnologia de espionagem’’, dispara o deputado Walter Pinheiro (BA), vice-líder do PT. Segundo ele, o PT não quer apenas investigar os grampos descobertos nos últimos anos na administração federal, como os do Sivam e do BNDES. ‘‘Queremos partir destes casos para chegar aos responsáveis. A estrutura de inteligência do governo tem que responder pelos fatos de espionagem na esfera pública’’, diz o deputado...
... No Senado, o PFL quer convocar o ministro da Saúde, Barjas Negri, para explicar a contratação da empresa Fence Consultoria Empresarial por R$ 1,8 milhão para fazer varreduras contra grampo telefônico no Ministério. Os pefelistas consideraram ‘‘o fato mais importante da semana’’ a descoberta do contrato, assinado pelo candidato do PSDB à Presidência, José Serra quando era ministro. A informação foi publicada ontem pelo Correio... Os pefelistas querem saber por que a pasta comandada por Serra precisou contratar uma empresa privada para fazer o serviço de varredura por um valor infinitamente maior que o pago por outros ministérios... De acordo com o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), o Ministério de Esporte e Turismo, até a semana passada comandado pelo pefelista Carlos Melles, gastou menos de R$ 10 mil em dois anos pelo mesmo serviço. ‘‘Tanto dinheiro foi gasto só para rastreamento de grampo telefônico, ou para algum serviço mais?’’, pergunta Agripino. ‘‘O trabalho de remover grampo poderia ser feito a custo zero pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência), pela Polícia Federal ou pelas concessionárias de telefonia.’’
Bem, os motivos que teriam levado José Serra a contratar serviços particulares de sua confiança poderiam ser muitos, mas certamente estão entre eles os seguintes: em primeiro lugar, não sei se feliz ou infelizmente, a PF já vem se comportando internamente como uma polícia política não é de hoje - no mínimo por estar diretamente subordinada ao Ministério da Justiça – e isso já diz tudo: não é um organismo independente. Pelo mesmo motivo, não se podia confiar na Abin. Em segundo lugar, pressupõe-se que os serviços de segurança devam ser prestados por pessoas em quem o interessado confie e não por estranhos, que não se sabe a quem podem servir. Por isso, não há como se comparar a importância do Ministério da Saúde, principalmente quando se encontrava no cargo de ministro um provável candidato à presidência, e onde se travava uma séria batalha contra a indústria internacional de medicamentos, com a do Ministério de Esporte e Turismo. Portanto, José Agripino Maia (PFL-RN) usou de má fé ao fazer a absurda comparação. Aliás, essa deveria ser a maior prova de que não havia ambiente de confiança entre Serra e os serviços de segurança do governo – coisa da qual estava sendo acusado. Essa é a lógica.
Ainda não acabou. Novamente a revita IstoÉ, no dia 15 de maio de 2002, publica outra matéria -
Aparece o contato –, assinada por Leonel Rocha, Ricardo Miranda, Sônia Filgueiras e Weiller Diniz, ainda acusando o PSDB na estória da arapongagem contra Roseana. A reportagem dizia que “o jogo pesado utilizado para aniquilar a principal adversária dos tucanos, a ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney (PFL)... acabou se voltando contra o candidato José Serra (PSDB)”. Dessa vez, a revista já afirmava que desde novembro de 2001, José Heitor Nunes, sócio da Interforte (contratada para espionar a governadora e sua família) juntamente com o policial federal Jonathan Sardenberg já faziam “um serviço sujo sob encomenda: escutas clandestinas nos telefones de Roseana e Murad, levantamento sobre os negócios da família e tudo o que caísse na rede, até fotos íntimas”.
A revista dizia também que Heitor deixara vazar o que estava fazendo, em conversas com pessoas do meio político, oferecendo-se para vender parte do material e até para entregar o nome do cliente que encomendara a tocaia: Luiz Alberto Marques, o Lam, um publicitário de Brasília, que a reportagem afirmava ter trânsito livre no tucanato e amizades influentes.
A matéria revelava que Lam trocara dezenas de telefonemas com os mesmos arapongas que montaram a escuta nas linhas de Roseana, divulgando uma relação de ligações telefônicas que pretendia provar a intensa confabulação entre eles: “Do final de fevereiro ao início de março, Lam, usando seu celular (61-9982-4991), trocou 13 telefonemas com Heitor”, num total de 18m28s... nos dias 20, 21, 25 e 28 de fevereiro e 4 de março... No dia 28 de fevereiro, foram três ligações, inclusive a mais longa delas, de 5m49s...”
Em resposta, uma carta do acusado:
Tendo em vista matéria publicada na revista ISTOÉ, sob título “Aparece o contato” (ISTOÉ 1702), acusando-me de ser o responsável por uma operação de informação entre empresas, tenho a esclarecer o que segue: 1) A empresa Interforte Sistemas de Segurança Ltda., citada na matéria, foi contratada no dia 6 de fevereiro pelo nosso escritório de Brasília para a verificação do seu sistema de telefonia. Para a realização desse serviço a Interforte apresentou proposta, efetivamente realizou o trabalho, entregou relatório técnico e recebeu os seus honorários estipulados no contrato, como qualquer empresa do mercado; 2) Antes de 6 de fevereiro, nem eu e nenhum dos nossos colaboradores conhecia ou mantinha qualquer contato com os diretores da Interforte citados na matéria; 3) Por iniciativa própria e abalado pela mencionada matéria, coloco, a partir desta data, à disposição das autoridades, sem quaisquer restrições de sigilo, meus telefones pessoal, profissional e da família, assim como minhas contas bancárias, referentes aos últimos 30 anos; 4) Movido unicamente pelo desejo de que se apure a verdade e se faça justiça, afasto-me das minhas funções da direção da empresa em Brasília durante o tempo necessário para que sejam realizadas quaisquer investigações desse danoso episódio. Não tenho motivo para temer nem mentir; 5) O envolvimento injusto de um profissional que nem sequer transita nas esferas da política partidária são indícios claros de um movimento em favor de causas nebulosas, desconhecidas e inconseqüentes; 6) Diante de acusações graves, contra minha pessoa, estou tomando todas as providências legais para defender os meus direitos.
Luiz Alberto Marquez Brasília – DF
Antes de continuar, é preciso fazer alguns esclarecimentos que são imprescindíveis para argumentar a teoria que mais adiante seguirá, dando uma outra suposta versão para o caso do grampo nos Sarney.
Luiz Alberto Marquez
O publicitário, ao contrário do que teria acontecido se tivesse agido em conluio com o PSDB (e bem diferente do que aconteceu com a Fence), não teve seu emprego comprometido e nem a agência de publicidade que dirigia deixou de atuar normalmente no mercado, tendo, inclusive, mantido e/ou assinado outros contratos no atual governo de Lula. Isso pode ser confirmado no depoimento que Luiz Alberto Márquez prestou na CPI dos Correios. Seguem alguns trechos de seu depoimento:
Sr. LUIZ ALBERTO COSTA MARQUES (DIA 16 DE NOVEMBRO DE 2005 ÀS 10:30 HORAS):
PRESIDENTE (Juíza Denise Frossard. PPS – RJ): - Indago de V. Sª se tem algum impedimento para prestar o compromisso de dizer a verdade, sob pena de falso testemunho?
SR. LUIZ ALBERTO COSTA MARQUES (LAM): - De jeito nenhum. Isso já está inclusive assinado.
PRESIDENTE: - Advirto-o de que o falso testemunho é um crime previsto no Código do Processo Penal, que diz que é crime fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade como testemunha, perito, tradutor ou intérprete em processo policial, judicial ou administrativo ou em juízo arbitral e cuja pena é de um a três anos de reclusão e multa. Há formas agravadas e formas atenuadas, mas o tipo fundamental é esse. V. Sª está de acordo?
LAM: - De acordo... Meu nome é Luiz Alberto Marques. Há trinta anos sou publicitário, sou formado em Economia e Administração de Empresas. Desses trinta anos na publicidade, estou há quinze anos em Brasília. Desses quinze anos, eu dirijo o escritório local da Ogylvi Brasil Comunicações e estou perfeitamente a par de todas as nossas operações no atendimento publicitário de contas públicas em Brasília, durante esse período... A Ogylvi é um nome conhecido internacionalmente. É um grande publicitário inglês, falecido há três ou quatro anos, era titular, criou uma organização de publicidade chamada Ogylvi & Mather, que, ao chegar ao Brasil, associou-se com uma empresa brasileira chamada Standard. Durante muitos anos, operou no Brasil com o nome de Standard, Ogylvi & Mather. Há cerca de três ou quatro anos, ela assumiu uma nova personalidade de marca e começou a se tratar ou a ser conhecida como Ogylvi. É uma organização que tem 99,9% do seu capital comandado pela sua matriz em Londres, tem ações na Bolsa de Londres e na Bolsa de Nova Iorque, é uma empresa absolutamente auditada, permanentemente auditada exatamente por esse motivo, pelo fato de estar nas Bolsas de Londres e Nova Iorque, sujeita inclusive aos rigores das leis americana e inglesa sobre esse assunto... A matriz brasileira está em São Paulo, tem um escritório no Rio e temos o escritório em Brasília, o qual dirijo durante esse período de dez anos.
O SR. RELATOR (José Eduardo Cardozo. PT – SP): – A função que V. Sª exerce na Ogylvi?
LAM: – Exclusivamente a direção do escritório de Brasília, a diretoria geral do escritório de Brasília... Nós começamos, a Ogylvi começou a trabalhar com órgãos públicos, Excelência, exatamente em 1997.
RELATOR: – Com que órgão?
LAM: – Veio com os Correios, a licitação ganha foi com os Correios. Posteriormente, muito tempo depois, em 2002, com o Ministério da Saúde; em 2003 com o Banco do Brasil e, neste ano, começamos a trabalhar com o MDS, Ministério do Desenvolvimento Social.
RELATOR: – Em 2005?
LAM: – É, só que a conta Correios atendemos de 97 até 2003. O Ministério da Saúde de 2002 a ?... De 2002 até março de 2005.
RELATOR: – Banco do Brasil?
LAM: – A partir de setembro de 2003.
RELATOR: – Permanece em curso o contrato?
LAM: – Permanece em curso o contrato. Teve uma renovação ao término do primeiro ano, em 2004.
(...) RELATOR: – O senhor tem condições de nos descrever, mais ou menos, relativamente aos gastos que o Banco do Brasil tem feito nos seus contratos? Qual foi a evolução, se há um crescente, se houve diminuição ou se há linearidade?
LAM: – No primeiro ano, assinamos um contrato – se não me engano, estava especificado na própria licitação – de R$152 milhões.
RELATOR: – Quanto, efetivamente, os senhores receberam nesse primeiro ano?
LAM: – Deputado, no primeiro ano, em 2003, recebemos R$5 milhões. Estou considerando o ano janeiro/dezembro. O contrato foi assinado em setembro e é considerado de setembro a setembro, mas os meus números são pelo meu sistema de contabilização, que é o ano fiscal. Em 2003 e 2004 foram R$57 milhões.
RELATOR: – Foram R$5 milhões em 2003...
LAM: – E mais R$52 milhões em 2004.
RELATOR: – Foram R$52 milhões em 2004. E em 2005?
LAM: – Em 2005, até o dia 21 de novembro, estávamos com R$67 milhões. Houve um aumento proporcional, inclusive pela saída da DNA, que parou operações. (...)