domingo, outubro 22, 2006

Onde foi que eles erraram

Postado por Luiz Weis em 22/10/2006 às 9:22:39 AM

À altura do respeito profissional que faz por merecer, o ombudsman da Folha, Marcelo Beraba, talvez o mais rigoroso dos colegas que já passaram pela função, critica hoje duramente o seu jornal pela forma como deu a história das fotos do dinheiro do dossiê.

As suas críticas valem sem tirar nem pôr para o comportamento dos outros órgãos de mídia no episódio. A diferença - a grande diferença - é que a Folha pelo menos torna públicas as avaliações de seu crítico.

Os juízos de Beraba coincidem com os que venho publicando sucessivamente neste espaço desde a irrupção do caso. A saber:

A mídia fez a coisa certa ao divulgar as fotos e ao não divulgar quem as vazou, pedindo para não ser identificado. Aceito o pedido, seria inaceitável ignorar o compromisso.

A mídia fez a coisa errada - e ponha-se errada nisso - ao compactuar com a farsa montada pelo delegado PF Edimilson Pereira Bruno para a explicar o vazamento: um suposto furto do material de sua escrivaninha. Sempre preservando o sigilo da fonte, a imprensa tinha a obrigação de contar a falsidade que ela fabricara para se preservar. Para isso, não seria necessário nominá-la nem revelar a sua ocupação.

Beraba cita a defesa da editora-executiva da Folha, Eleonora de Lucena, para quem o jornal "agiu com correção, rigor e transparência". Segundo ela, omitir as palavras do delegado, que falava on the records em furto e negava a sua participação do caso "significaria censurar uma declaração pública do protagonista do evento".

Tem toda a razão.

Mas, ainda segundo ela, "qualquer outra ressalva ou adendo representaria a quebra do compromisso de sigilo da fonte assumido pelo jornal".

É o caso de comentar: fala sério!

Quando um jornalista fica sabendo, pela boca da própria fonte, que ela está mentindo, é seu dever elementar expor a mentira. Isso não representaria quebra de compromisso coisa nenhuma.

Por não ter contado a verdade sobre o vazamento - preservado o nome do vazador - a mídia se acumpliciou com um trapaça.

Tanto que o ombudsman rebate:

"A Folha podia ter publicado as fotos com a informação de que as tinha recebido de uma fonte que não podia aparecer. Não precisava coonestar a farsa armada pelo delegado."

Essa é a tecla que venho martelando. Simples assim.

Para reflexão do eventual leitor, transcrevo, assinando em baixo, o fecho da coluna de Beraba:

"A imprensa deixou claro nesta eleição que, apesar do amadurecimento experimentado nas últimas duas décadas, continua preferindo uma fofoca, um bate-boca, um jogo de cena, uma pesquisa, uma pauta subordinada aos caprichos dos marqueteiros, ao trabalho estafante de pensar, refletir, analisar e investigar. Nesse sentido, ela sem dúvida também contribuiu para o clima deteriorado neste fim de campanha eleitoral."

http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id_blog=3&id={A304A620-2DC7-40F2-A049-4ED0D252E865
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