SENADOR HERÁCLITO FORTES DO PFL DO PIAUÍ USOU 58 VEZES OS JATINHOS DO OPPORTUNITY
Jornal O Globo – 25/04/2006Bernardo de la Peña
BRASÍLIA. Motivo de polêmica na CPI dos Correios por causa da suspeita de que parlamentares teriam viajado em jatinhos da Brasil Telecom (BrT), a lista com as rotas de vôos dos três aviões da companhia, apontada como uma das fontes privadas do valerioduto pela CPI, mostra que 29% das 5.403 viagens feitas no Brasil foram para cidades fora da área de atuação da empresa. Os documentos, que fazem parte de uma ação judicial de Minas Gerais, citam, por exemplo, que os aviões foram, entre dezembro de 1998 e agosto de 2005, 58 vezes ao Piauí, terra do senador Heráclito Fortes (PFL).
Os vôos são referentes ao período em que a Brasil Telecom era comandada pelo Opportunity, do empresário Daniel Dantas. Fortes foi atacado pelos governistas da CPI sob a suspeita de agir como defensor de Dantas, por ser amigo de dirigentes do Opportunity. Dantas e a ex-presidente da BrT Carla Cicco tiveram seu indiciamento pedido pelo relatório final da comissão. “Grande parte dos vôos nacionais realizados pelo Opportunity foi para a Bahia, estado natal de Daniel Dantas, e Piauí, de onde é o senador Heráclito Fortes”, afirma trecho da auditoria à qual O GLOBO teve acesso.
Na ação em Minas, a nova direção da companhia — indicada pelos fundos de pensão que disputam com o Opportunity o controle da empresa — argumenta que o uso dos aviões deu um prejuízo de R$ 66 milhões à Brasil Telecom. Além das 5.043 viagens feitas pelo Brasil, os três aviões, dois jatos Citation e um turboélice King Air, fizeram 208 vôos para o exterior. Os documentos mostram ainda que os diretores do Opportunity orientavam os funcionários até sobre que tipo de vinho comprar para servir durante os vôos.
O senador Heráclito admite que usou os aviões da companhia, mas não nas 58 viagens a seu estado. Delas, 39 foram para Teresina e outras 19 para municípios do interior do estado, como Parnaíba, Picos, Bom Jesus da Gurguéia, Floriano e São Raimundo Nonato. Heráclito diz que pode ser responsável por, no máximo, 10% dessas viagens. O senador negou qualquer favorecimento ao banqueiro ou ao Opportunity.
— Não tem qualquer ilegalidade nisso. Nem a Brasil Telecom nem o Opportunity têm negócios no Piauí e não há órgão ao qual eu tenha ido em Brasília para defender interesses do Opportunity — disse o senador, que acredita estar citado nos documentos por ter feito acusações à Previ e aos fundos de pensão que hoje controlam a BrT, durante a CPI.
Depois de insistir, sem sucesso, na CPI dos Correios para ter acesso aos dados do consórcio VOA (que operava os aviões), o deputado Jamil Murad (PCdoB-SP) defendeu a continuação das investigações:
— Há o senador que defende o Daniel Dantas e que é o mesmo senador do Piauí. Existe uma conjugação de interesses que parece mais do que uma defesa de maneira desinteressada.
Ele estuda inclusive representar aos procuradores para que investiguem o caso. Mas não há nos processos sobre o VOA listas de passageiros dos jatinhos. Entre os destinos nacionais que chamam a atenção pelo inusitado, estão municípios pequenos no Pará, como Oriximiná. Há registros ainda de vôos para balneários como Búzios, Angra dos Reis ou cidades do sul da Bahia.
Para a terra de Dantas, a pedido do Opportunity, segundo o levantamento, foram 205 viagens. Apenas a Valença, no Sul do estado, foram 72 vôos. Oficialmente, o Opportunity não se manifestou. Mas para executivos do banco, a ação que envolve o consórcio é apenas mais uma batalha da guerra pela empresa. Eles defendem os controles do VOA e dizem que o objetivo da atual direção da companhia é atacar o Opportunity, que teria direito a usar os aviões.
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