sexta-feira, outubro 20, 2006

RESPOSTA A ALI KAMEL: TARTUFO TRABALHA NA GLOBO?

Revista Carta Capital

Ao ler sua contestação à reportagem de capa da semana passada haverá quem suponha que não ouviu a gravação feita por um de seus subordinados

O texto assinado por Ali Kamel, diretor de jornalismo da TV Globo, em anúncio pago pela emissora e veiculado na edição impressa, é, no mínimo, escorregadio ao tentar desqualificar as perguntas de CartaCapital que na semana passada se negou a responder. Kamel escorrega. E falseia.

Homer Simpson.
Bonner conta com este telespectador

Em comunicado remetido pela Central Globo de Pesquisa e Recursos Humanos, enviado a todos os usuários do e-mail do departamento de Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e Recife, lê-se que “a revista enviara um questionário, cujo teor não deixava dúvidas de que estava mal-intencionada: as perguntas partiam sempre de premissas falsas e se referiam a episódios que nunca existiram”.

Tartufo, aquela definitiva personagem de Molière, não faria melhor na sua infinita hipocrisia. É invenção de CartaCapital que 70% das ambulâncias da Planam foram liberadas durante o governo FHC e que a Globo cuidou de não mencionar o fato? E é invenção nossa que até hoje o JN não destacou um repórter para investigar as relações de Barjas Negri com Abel Pereira? E é que pelo menos uma reportagem foi produzida sobre Abel Pereira, e editada, e até hoje não foi ao ar?

Por aí iam as perguntas de CartaCapital. Um dos princípios que norteiam o nosso trabalho é a fidelidade canina à verdade factual, a qual, dizia Hannah Arendt, quando omitida jamais será recuperada. Dizia também: “Não há esperança de sobrevivência humana sem homens dispostos a relatar o que acontece, e que acontece porque é”. CartaCapital não esmorece na determinação de relatar o que acontece.

O texto de Ali Kamel alega isenção e objetividade, mas só ilude os desavisados, os mesmos que o JN busca alcançar. Como se sabe, o apresentador do jornal, William Bonner, iguala o telespectador-padrão a Homer Simpson, o simpático simplório do desenho animado. Esse desprezo pela platéia não é incomum no jornalismo brasileiro, muito pelo contrário. E é a razão primeira da decadência da nossa mídia.

Que ela sempre e sempre tenha prestado serviço ao poder é fato, mesmo porque é um dos rostos do próprio. Só para citar eventos mais ou menos recentes, ou nem tão remotos, basta recordar o golpe de 1964, o golpe dentro do golpe de 1968, a campanha das Diretas Já, as eleições de 1989. Mas se a questão moral sempre foi secundária, bastante secundária, para os patrões, vale sublinhar que já houve mais qualidade profissional.

Nunca houve tamanho desrespeito pelos leitores, ouvintes, espectadores. Desmoralização abissal e aviltamento progressivo da língua portuguesa, bela, forte, dúctil. A comparação entre o nosso jornalismo e o de muitos outros países é insustentável.

Claro que não é lícito condenar a Globo, bem como outros órgãos, e empresas, da mídia, por suas simpatias políticas. Insuportável é a tentativa de esconder a parcialidade por trás de uma neutralidade que os comportamentos traem a cada passo.

Jornalismo é informação e opinião. CartaCapital não hesita em manifestar as suas opiniões, neste momento, na escolha nítida de uma candidatura em lugar de outra, porque respeita seus leitores, a nação e o País. Quanto a Ali Kamel, experimentamos a impressão de que não ouviu a gravação da conversa dos repórteres com o delegado Bruno. Ainda que, a esta altura, ela seja do conhecimento até do mundo mineral.

http://www.cartacapital.com.br/index.php?funcao=exibirMateria&id_materia=5459

Leia também:

1 - Paulo Henrique Amorim: Kamel errou: o JN sabia da queda do GOL

2 - Clique aqui e leia o texto que ao Ali Kamel escreveu para o Observatório da Imprensa tentanto desqualificar a reportatem da Carta Capital.

3 - Os Fatos Ocultos - Confira a íntegra da reportagem da Carta Capital.

4 - OUÇA GRAVAÇÃO DO DELEGADO BRUNO SOBRE O JN

5 - PESQUISADORES ENCONTRAM GRAVES FALHAS EM URNA ELETRÔNICA - IDGNow e Paulo Henrique Amorim

6 -
O 1º GOLPE DE ESTADO JÁ HOUVE. E O 2º? - Paulo Hebrique Amorim

7 - Dossiê - Abel e os tucanos

8 - Escândalo: Revista revela conluio da imprensa para prejudicar Lula e o PT - Raimundo Rodrigues Pereira - Revista Carta Capital

20/10/2006 19:10h

KAMEL ERROU: O JN SABIA DA QUEDA DO GOL

Paulo Henrique Amorim

Na breve carta que mandou à revista Carta Capital para refutar as informações contidas na exemplar reportagem de Raimundo Rodrigues Pereira (“A trama que levou ao Segundo Turno”, publicada na semana passada), Ali Kamel, Diretor-executivo de jornalismo de Central Globo de Jornalismo (sic), diz que o Jornal Nacional não poderia dar a noticia da queda do avião da Gol, porque o primeiro a dar a informação foi o portal Terra, um minuto depois de o Jornal Nacional sair do ar.

Raimundo sustentou a tese de que naquele dia, 29 de setembro, véspera da eleição, o Jornal Nacional ignorou a tragédia para se concentrar na foto do dinheiro que o delegado Bruno cedeu com prioridade ao Jornal Nacional (como, de novo, Raimundo demonstra na edição da Carta Capital que chegou hoje, sexta feira, dia 20, às bancas: “Veja/Globo – contribuições ao dossiê da mídia”, com um interessante depoimento do repórter César Tralli).

Recebi às 18h30 desta sexta-feira, dia 20, um telefonema de Ricardo Boechat, editor-chefe do Jornal da Band. Ele acabara de ler a Carta Capital com a carta de Kamel e a reportagem de Raimundo. Me disse Boechat:

1) O Jornal da Band sai do ar imediatamente antes de o Jornal Nacional começar.

2) A ultima noticia do Jornal da Band no dia 29 de setembro foi o desastre da Gol.

3) Foi uma noticia que dizia que o avião da Gol tinha caído: não era uma noticia especulativa.

4) O Jornal da Band tinha conseguido confirmar a informação 3 minutos antes de acabar.

5) O primeiro boletim da Band, ao vivo, com mais detalhes do desastre, foi ao ar durante o Jornal Nacional.

http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/395501-396000/395960/395960_1.html

Leia também:


1 - Clique aqui e leia o texto que ao Ali Kamel escreveu para o Observatório da Imprensa tentanto desqualificar a reportatem da Carta Capital.

2 - Os Fatos Ocultos

3 - OUÇA GRAVAÇÃO DO DELEGADO BRUNO SOBRE O JN

4 - PESQUISADORES ENCONTRAM GRAVES FALHAS EM URNA ELETRÔNICA - IDGNow e Paulo Henrique Amorim

5 -
O 1º GOLPE DE ESTADO JÁ HOUVE. E O 2º? - Paulo Hebrique Amorim

6 - Dossiê - Abel e os tucanos

7 - Escândalo: Revista revela conluio da imprensa para prejudicar Lula e o PT - Raimundo Rodrigues Pereira - Revista Carta Capital

(Texto do email que e enviei hoje para o Zé Dirceu)

Essa história do menino em Uberlândia que pediu ao Alckmin para assinar um papel se compromentendo a não privatizar a Petrobrás, Caixa, Banco do Brasil, etc, é tudo armação da oposição para enganar o eleitor.

Um amigo meu que mora em Uberlândia, acabou de me ligar dizendo que foi tudo armado e ele viu o ensaio.

Em certo momento, o menino disse para o Alckimin e imprensa que teria vários parentes que trabalham nessas estatais e que estavam receiosos de votar no Alckmin com medo dele privatizar.

Essa é boa! Zé, você consegue imaginar que alguém que trabalha em qualquer uma dessas estatais votando no Alckmin ? Seria linchado pelos seus colegas de trabalho.

E ainda tem gente que acredita.

Essa história do menino é uma armação do marketing do Alckmin, que será usada nos seus programas na TV.

Abs.

PS: Eles estão à procura de um fato novo, na reta final, para eleger o Alckmin. Você achou que eles te deixariam em paz ?

Stanley.

Queda de tucanos em pesquisa local acirra disputa de votos no RS


Plantão Publicada em 20/10/2006 às 18h57m

Reuters

PORTO ALEGRE - A pouco mais de uma semana para o segundo turno das eleições, os candidatos presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB), desembarcam neste sábado em Porto Alegre em busca de votos, uma disputa que deve ficar ainda mais acirrada com a queda da vantagem tucana detectada por pesquisa recente de um instituto local.

A visita dos presidenciáveis ocorre em meio a uma possibilidade de alteração na tendência do eleitorado gaúcho. Contrariando o crescimento da vantagem tucana, registrado nas primeiras pesquisas de intenção de voto, o Centro de Pesquisas do jornal "Correio do Povo" divulgou, nesta sexta-feira, um levantamento que mostra uma sensível redução na diferença dos tucanos sobre os petistas na corrida pelo governo do estado e pelo Planalto.

Segundo a pesquisa, as intenções de voto em Yeda Crusius (PSDB) caíram de 61,7% para 55%, enquanto as de Olívio Dutra (PT) subiram de 31% para 37,9%, em relação ao levantamento feito em 10 de outubro. A diferença entre os dois candidatos despencou de 30,7 para 17,1 pontos percentuais nesse período.

No mesmo intervalo, Alckmin caiu de 59,9% para 53,9% e Lula passou de 32,2% para 39,9% na preferência do eleitorado. Com isso, a diferença entre os dois presidenciáveis caiu de 27,7 para 14 pontos percentuais. A margem de erro nas duas pesquisas é de 2,1 pontos percentuais.

Esses números contrastam com o resultado obtido pelo Ibope em sua última pesquisa local, em 8 de outubro, quando Yeda aparecia com 63% das intenções de voto, ante 29% de Olívio. Já a dianteira de Alckmin sobre Lula era de 59% a 32%, segundo o levantamento do Ibope.

Na votação de 1º de outubro, a vantagem tucana no Rio Grande do Sul foi clara, consagrando Alckmin e levando Yeda para o segundo turno. Esse resultado contrariou as expectativas geradas pela maioria das pesquisas eleitorais, que apontava o favoritismo do atual governador e então candidato à reeleição pelo PMDB, Germano Rigotto, e mostravam Yeda e Dutra na disputa pelo segundo lugar.

O Rio Grande do Sul é o quinto maior colégio eleitoral do país, com mais de 7 milhões de eleitores. No primeiro turno, Alckmin obteve 55,76% dos votos, ante 33,07% de Lula. Em 2002, Lula havia vencido os dois turnos da eleição presidencial no estado.

Na disputa pelo governo gaúcho, Yeda teve uma votação de 32,9% contra 27,39% de Olívio.

Além de promover-se como autêntico representante dos valores gaúchos, em crítica sutil ao fato de sua adversária ter nascido em São Paulo, Dutra reproduz, no âmbito local, propaganda sobre o caráter privatizante do PSDB. Na sua defesa, a tucana responsabiliza o governo Dutra pela perda de investimentos, como a opção da Ford pela instalação de uma fábrica na Bahia.

http://oglobo.globo.com/pais/eleicoes2006/mat/2006/10/20/286179542.asp

20/10/2006 17:07h

“MÍDIA LEVOU ELEIÇÃO PARA O SEGUNDO TURNO”

O cientista político e diretor do instituto de pesquisa Vox Populi, Marcos Coimbra, disse em entrevista a Paulo Henrique Amorim nesta sexta-feira, dia 20, que a atuação da mídia ajudou a levar a eleição presidencial para o segundo turno (aguarde o áudio).

Segundo Coimbra, esse bombardeio da imprensa nunca foi visto no Brasil, nem mesmo em 1989. “Apesar de termos tido em 89 uma eleição muito disputada entre Collor e Lula no segundo turno, nós tínhamos visto ainda uma atuação tão intensa da imprensa, especialmente na semana que antecedeu o primeiro turno”, disse Coimbra.

Marcos Coimbra lembrou que Lula sempre esteve 20 pontos à frente de Alckmin nas pesquisas que antecediam o primeiro turno numa simulação para o segundo turno. Segundo ele, o único momento em que essa diferença diminuiu foi próximo do dia 20 de setembro. Coimbra disse que Lula voltou a crescer nas pesquisas logo depois do primeiro turno e tem, segundo a pesquisa Vox Populi publicada pela revista Carta Capital nesta sexta-feira, dia 20, 22 pontos a mais que Alckmin nas intenções de voto (considerando os válidos).

Na pesquisa Vox Populi Lula aparece com 61% dos votos válidos e Alckmin com 39%, também dos válidos. Do ponto de vista geográfico, Lula cresceu na região Sudeste e tem 49% contra 43% de Alckmin (voto estimulado, em que os nomes dos candidatos são apresentados pelos pesquisadores). Lula continua com ampla maioria (78% a 18%) sobre Alckmin na região Nordeste. O candidato do PT ganha também na região Sul (43% a 53%). Alckmin só tem maioria no Centro-Oeste com 54% contra 39% de Lula.

Leia a íntegra da entrevista com Marcos Coimbra:

Paulo Henrique Amorim: Como você explica que o presidente Lula tenha subido e, sobretudo, por que Geraldo Alckmin caiu, porque, normalmente, quando as pessoas vão para o segundo turno, observação que você próprio fez na Carta Capital, raramente tem menos votos no segundo turno do que tinha no primeiro?

Marcos Coimbra: Nesse momento Alckmin está apenas repetindo, por assim dizer, os votos que ele teve no segundo turno. Quando a gente faz o cálculo do voto válido, vemos que, em termos relativos ele vem diminuindo a participação. Mas em termos de votação ele está preservando. É claro que pode acontecer alguma mudança. Mas no momento, o que me parece que ocorre, é que Alckmin está preservando o voto que recebeu no primeiro turno, não parece que está conseguindo agregar um voto novo e é o presidente Lula que está ganhando voto de eleitores que no primeiro turno votaram em branco e nulo e que votaram em outros candidatos.

Paulo Henrique Amorim: Você diria que Lula hoje absorve quanto de Heloísa Helena e de Cristóvam Buarque?

Marcos Coimbra: Quando você faz o cruzamento do voto no primeiro turno com a intenção de voto no segundo, nas pesquisas, o que se está vendo é que a maioria dos eleitores dos dois candidatos tende a ir para Lula. No começinho do segundo turno, os eleitores da Heloísa Helena tendiam a ir um pouco mais para Alckmin. Agora, passados já quinze dias depois da votação no primeiro turno, está acontecendo um outro fenômeno: os eleitores da Heloísa Helena migrando para Lula. Isso pode ser inclusive resultado da estratégia que o PT e a campanha Lula estão adotando que é marcar muito a candidatura Alckmin com o tema da privatização que, claro, não é algo que o eleitor da Heloísa Helena, que tende a ser um eleitor, digamos, mais próximo das teses de esquerda, não é um tema que esse eleitor valoriza. Então, pode ser que estejamos vendo agora um resultado de uma ação do ponto de vista estratégico correta que a campanha de Lula tomou de fazer essa confrontação do ponto de vista, digamos, ideológico.

Paulo Henrique Amorim: Nessa pesquisa que você divulga hoje, o que acontece de mais relevante com relação, por exemplo, à geografia, ao Nordeste, ao Sudeste, ao Sul? O que aconteceu do primeiro para o segundo turno e que se observa agora?

Marcos Coimbra: De uma maneira geral, houve uma melhora da candidatura Lula, coerente com esse crescimento que ele tem e isso se espalha de uma maneira mais ou menos parecida com o que aconteceu no primeiro turno: no Nordeste aumenta ainda mais a vantagem que ele já teve no primeiro turno; no Nordeste aumenta ainda mais a vantagem que ele já teve no primeiro turno, chegando a mais de 70%, 75%; em termos de votos válidos passando de 80%. No Centro Oeste e no Norte tende a haver um equilíbrio porque ele está pior no Centro Oeste, mas melhor na região Norte. No conjunto das duas, Lula está na frente. Mas a grande mudança é na região Sudeste, aonde no primeiro turno o Alckmin superou sozinho a votação do Lula e somados os votos de Heloísa Helena e Cristóvam Buarque nós temos o Lula tendo um desempenho bastante ruim no conjunto da região Sudeste porque foi mal em São Paulo e tendo uma decepção em Minas Gerais, onde esperava-se uma votação melhor para Lula. Agora no segundo turno o Lula passa com folga o Alckmin no conjunto do Sudeste porque ele recuperou uma vantagem muito ampla em Minas, está recebendo os votos da Heloísa Helena no Rio e mesmo em São Paulo continua atrás, mas menos que no primeiro turno. Na região Sul Alckmin continua na frente, mas com uma vantagem pequena.

Paulo Henrique Amorim: Você diz na sua análise que está na Carta Capital, se eu reproduzo corretamente, que o que se tem que explicar do primeiro para o segundo turno é basicamente por que o Lula caiu. Qual a sua explicação?

Marcos Coimbra: Se a gente olhar a intenção de voto da maioria do eleitorado desde muito cedo este ano é que o Lula mantinha uma vantagem de 20 pontos sobre o Alckmin em qualquer cenário de segundo turno. O único momento em que essa diferença caiu muito foi a partir de 20 de setembro, quando o Alckmin cresceu e o Lula caiu. Em parte por conta daquela tríplice influência da ausência no debate e as fotos (do dinheiro) nas últimas 48 horas. Foi um bombardeio que atingiu o eleitor fazendo com que muitos ficassem assustados e recuassem na intenção de voto. O eleitor não tinha uma opinião formada. Tanto é que logo após o primeiro turno não se passaram nem (...) e Lula voltou a ter uma folga significativa e voltou ao patamar “histórico” de 20 pontos de vantagem. O que eu creio é que tivemos um período em que o eleitor foi fortemente bombardeado com um noticiário negativo contra o Lula, claro que o noticiário quem causou em última instância foi o próprio PT, mas ele foi muito amplificado pela grande imprensa, fazendo com que se tornasse quase impossível ao eleitor votar tranqüilo e fazer uma opção de voto que ele já tinha feito há muito tempo.

Paulo Henrique Amorim: Você disse que esse bombardeio foi nunca visto, nem mesmo em 1989?

Marcos Coimbra: Eu acho (...) uma eleição muito disputada no segundo turno como Lula e Collor acho que a gente nunca tinha visto uma atuação tão intensa da mídia quanto esta semana que terminou, quando o eleitor foi atingido de todos os lados, o tempo todo, por emissoras de televisão, revistas, que foram não vou dizer nem críticos, foram fortemente negativos, mais do que críticos até.

Paulo Henrique Amorim: Você acha que a eleição foi para o segundo turno por causa da mídia?

Marcos Coimbra: Eu não tenho muita dúvida não, Paulo, eu acho que se o eleitor não tivesse sido atingido com tanta intensidade naqueles três ou quatro dias provavelmente teria confirmado a vitória de Lula, tanto é que ele não ganhou por um e pouco, foi muito perto. E logo após ele recuperou a vantagem. Houve uma coisa excepcional naquele final de semana. Houve o debate, sexta houve as fotos, sábado o noticiário, quando ele ( o eleitor) entrou para votar no domingo ele estava muito assustado com tudo que ele tinha ouvido e visto.

Paulo Henrique Amorim: Você acha que o eleitor reagiria da mesma maneira a um fato novo?

Marcos Coimbra: Depende da intensidade do fato. (..) e às vezes, como nós sabemos, não é nem a importância do fato e sim a versão. Aliás, é o que eu acho que aconteceu na reta final do primeiro turno. Eu não sei se os fatos tiveram a mesma importância que a versão acabou assumindo.

http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/395501-396000/395907/395907_1.html

20/10/2006 13:34

Mais do dossiê

Blog do Mino Carta da Revista Carta Capital

Segundo capítulo do Dossiê da Mídia, publicado por CartaCapital, que já está nas bancas em São Paulo. Raimundo Pereira volta à carga. Lê-se, lá pelas tantas, que logo depois de entregar aos repórteres uma cópia do CD das fotos do dinheiro do outro dossiê, o delegado Bruno “corre para entregar uma cópia a Cesar Tralli”. Os outros teriam de fazer cópias, o repórter da Globo recebeu a cópia pronta, por isso foi o primeiro jornalista a alcançar sua redação. O encontro com os repórteres aconteceu às 10h30 de sexta, 29 de setembro, quando Bruno aparentemente desqualificou Tralli, ao dizer algo como “ainda bem que não está aqui, ele é muito visado”. Encenação. As 11h30 ele estaria com Tralli, o qual agora anuncia a intenção de me processar, por ter dito neste blog, quarta passada, que ele teria recebido as fotos no dia 28. Ao que tudo indica errei, e sinto muito. Mas Tralli não poderá negar que foi privilegiado por Bruno em relação aos colegas.

Enviada por Mino.

Para ententer melhor, não deixe de ler a matéria logo abaixo desta.

OS FATOS OCULTOS - Confira a íntegra da reportagem.

A mídia, em especial a Globo, omitiu informações cruciais na divulgação do dossiê e contribuiu para levar a disputa ao 2º turno.

Por Raimundo Rodrigues Pereira - Revista Carta Capital

1. Pode-se começar a contar a história do famoso dossiê que os petistas teriam tentado comprar para incriminar os candidatos do PSDB José Serra e Geraldo Alckmin pela sexta-feira 15 de setembro, diante do prédio da Polícia Federal, em São Paulo. É uma construção pesada, com cerca de dez pavimentos, de cor cinza-escuro e como que decorada com uma espécie de coluna falsa, um revestimento de ladrilho azul brilhante, que vai do pé ao alto do edifício, à direita da grande porta de entrada. Dentro do prédio estão presos Valdebran Padilha e Gedimar Passos, ligados ao Partido dos Trabalhadores e com os quais foi encontrado cerca de 1,7 milhão de reais, em notas de real e dólar, para comprar o tal dossiê. Mas essa notícia é ainda praticamente desconhecida do grande público.

Preocupação.

“Tem de sair no Jornal Nacional”, exigiu o delegado Bruno ao entregar as fotos do dinheiro

É por volta das 5 da tarde. A essa altura, mais ou menos à frente do prédio, que fica na rua Hugo Dantola, perto da Ponte do Piqueri, na Marginal do rio Tietê, na altura da Lapa de Baixo, estaciona uma perua da Rede Globo. Ela pára entre duas outras equipes de tevê: uma da propaganda eleitoral de Geraldo Alckmin e outra da de José Serra.

Com o tempo vão chegando jornalistas de outras empresas: da CBN, da Folha, da TV Bandeirantes. E a presença das equipes de Serra e Alckmin provoca comentários. Que a Rede Globo fosse a primeira a chegar, tudo bem: ela tem uma enorme estrutura com esse objetivo. Mas como o pessoal do marketing político chegou antes? Cada uma das duas equipes tem meia dúzia de pessoas. A de Serra é chefiada por um homem e a de Alckmin, por uma mulher. As duas pertencem à GW, produtora de marketing político. Seus donos foram jornalistas: o G é de Luiz Gonzales, ex-TV Globo, e o W vem de Woile Guimarães, secretário de redação da famosa revista Realidade, do fim dos anos 1960. Entre os jornalistas, logo se sabe que foi Gonzales quem ligou para a Globo, avisando do que se passava na PF.

E quem avisou Gonzales? Foi alguém da Polícia Federal? Foi alguém do Ministério Público, de Cuiabá, de onde veio o pedido para a ação da PF? Uma fonte no Ministério da Justiça disse a CartaCapital que as equipes da GW chegaram à PF antes dos presos, que foram detidos no Hotel Ibis Congonhas por volta da 6 da manhã do dia 15 e demoraram a chegar à sede da polícia. Gente da equipe da GW diz que a empresa soube da história através de Cláudio Humberto, o ex-secretário de imprensa do ex-presidente Collor, que tem uma coluna de fofocas e escândalos na internet e que teria sido o primeiro a anunciar a prisão dos petistas.

Pode ser que sim, o que apenas leva à pergunta mais para a frente: quem avisou Cláudio Humberto? Mesmo sem ter a resposta, continuemos a pesquisar nessa mesma direção: a de procurar saber a quem interessava a divulgação da história do dossiê e como essa divulgação foi feita. Para isso, voltemos à região do prédio da PF duas semanas depois.

2. É 29 de setembro, vésperas da eleição presidencial, por volta das 10h30 da manhã. Sai do prédio da PF na Lapa de Baixo o delegado Edmilson Pereira Bruno, 43 anos, que estava de plantão no dia 15 e foi o autor da prisão de Valdebran e Gedimar. Ele convida quatro jornalistas para uma conversa: Lilian Christofoletti, da Folha de S.Paulo, Paulo Baraldi, de O Estado de S. Paulo, Tatiana Farah, do jornal O Globo, e André Guilherme, da rádio Jovem Pan. Bruno quer uma conversa reservada e propõe que ela seja feita a cerca de um quarteirão dali, na Bovinu’s, uma churrascaria. Um dos jornalistas argumenta que ali “só tem policial”. O grupo acaba conversando perto da Faculdade Rio Branco, que não se avista da frente da PF, mas é também ali por perto. Ficam na rua mesmo. O delegado não sabe, mas sua conversa está sendo gravada.

Bruno diz que quer passar para os jornalistas cópia das fotos do dinheiro apreendido com os petistas, que estavam sendo procuradas há muito, por muita gente. Leva um CD com as imagens, 23 fotos; e três CDs em branco para que eles copiem as imagens de modo a que cada um tenha uma cópia. Fala que eles devem dizer “alguém roubou e deu para vocês”, para explicar o aparecimento das fotos. Diz que ele próprio vai dizer coisa parecida a seus chefes na PF, que os jornalistas é que o roubaram: “Doutor, me furtaram. Sabe como é que é, não dá para confiar em repórter”. Recomenda que as fotos sejam editadas em computador com o programa Photoshop para tirar detalhes, como o nome da empresa na qual as células foram fotografadas, a fim de despistar a origem do material.

Algumas pessoas têm a fita de áudio com a conversa do delegado Bruno com os quatro repórteres. Mais pessoas ainda a ouviram. Uma delas é o repórter Luiz Carlos Azenha, que tornou públicos vários de seus trechos no seu site pessoal na internet “Vi o Mundo, o que nunca você pode ver na tevê”. (http://viomundo.globo.com/). Azenha, que é repórter da TV Globo, não quis dar entrevista a CartaCapital. Pediu que se procurasse a emissora. Para o que mais interessa ao desenrolar da nossa história, dos trechos da fita, deve-se destacar a preocupação de Bruno em fazer com que as fotos chegassem no dia ao Jornal Nacional. “Tem alguém da Globo aí?”, pergunta ele. Um dos quatro responde: “Tem o Bocardi”. “Não é o Tralli? O Tralli está muito visado”, Bruno diz, referindo-se a César Tralli e ao incidente, conhecido de muitos, de esse repórter da TV Globo ter podido acompanhar, praticamente disfarçado de Polícia Federal, a prisão de Flávio Maluf, filho de Paulo Maluf.

Mas a preocupação principal de Bruno é a que ele reitera nesse trecho: “Tem de sair hoje à noite na tevê. Tem de sair no Jornal Nacional”.

3. As fotos são divulgadas, como veremos no capítulo seguinte, com imenso destaque, no dia 29, vésperas das eleições, repita-se, no JN. Mas não apenas no JN. Veja-se a Folha de S.Paulo, por exemplo. Lá também a divulgação foi, pelo menos na opinião de alguns, espetacular: “Que primeira página mais linda, a de 30/9. É por isso que eu não consigo me separar da Folha”, escreveu o leitor Euclídes Araujo, no dia seguinte. “A glosa, a irreverência, a fina ironia falaram mais alto, mostrando aquela montanha de dinheiro em cima e, embaixo, Lula, sendo abraçado por uma mão morena e cobrindo o rosto, como se fosse um meliante conduzido ao distrito, tentando esconder a identidade. O que eles querem, o Pravda ou o Granma? Valeu, Folha!”

Visita à PF.

Primeiro chegaram as equipes de Alckmin e Serra. Depois, os acusados. E por fim os jornalistas

A Folha publicou, com grande destaque na primeira página, a foto na qual o dinheiro está empilhado de forma que as notas apareçam com a frente voltada para o leitor e que foi feita de baixo para cima, que é a que mais dá a impressão da “montanha de dinheiro” citada pelo admirador do jornal. E não divulgou que as fotos lhe tinham sido passadas por um policial visivelmente empenhado em fazer com que elas tivessem um uso político claro, de interferir no pleito de 1º de outubro.

A Folha também tinha a fita de áudio, que foi levada por sua repórter. A editora-executiva do jornal, Eleonora de Lucena, não quis responder por que omitiu as informações dessa fita, a nosso ver tão relevantes. Alguns dos quatro repórteres que receberam as fotos do delegado Bruno, ouvidos para esta matéria, disseram em defesa da tese de que o áudio não deveria ser divulgado, com o argumento de que o jornalista deve preservar o sigilo da fonte, com o que concordamos. Mas perguntamos a Eleonora: por que ela não deu a informação de que se tratava de uma intervenção política no processo eleitoral, publicando os trechos da fita de áudio, que tornam isso explícito, mas sem citar o nome da fonte?

O mais curioso, para dizer o mínimo, é que a Folha publica, junto com as fotos do dinheiro, uma matéria (“Imagens foram passadas em sigilo à imprensa”) na qual conta o que o delegado Bruno disse depois, na tarde do mesmo dia 29, ao conjunto de jornalistas, na frente da PF. No texto, assinado pela repórter do jornal que recebeu as fotos de Bruno pela manhã, se diz: “O delegado Bruno disse, ontem, em coletiva à imprensa, que o CD com as fotos havia sido furtado de sua sala, na PF – e que ele estava sendo injustamente acusado de ter repassado o material aos jornalistas”. Pergunta-se: qual é o sentido de publicar uma informação que a jornalista sabia que é evidentemente mentirosa e, no caso, ainda ajudava o policial a tentar enganar a própria imprensa?

O Estado de S. Paulo do dia 30 publica a mesma foto, das notas em posição de sentido. E com um texto, assinado por Fausto Macedo e Paulo Baraldi, ainda mais incrível, também para dizer o mínimo. O texto é praticamente uma diatribe contra o PT e em defesa de José Serra. Diz que a publicação das fotos é a abertura “de um segredo que o governo Lula mantinha a sete chaves”. Diz que o dinheiro veio de quem “pretendia jogar Serra na lama dos sanguessugas”. É também uma espécie de defesa do delegado Bruno, em favor do qual são ditas algumas mentiras. O texto diz que as fotos foram feitas por “um policial da Delegacia de Crimes Financeiros (Delefin)” na sexta-feira dia 15 de setembro. E que o delegado Bruno comandou uma perícia nas notas, a serviço da Polícia Federal, na sala de conferências da Protege S.A. Proteção e Transporte de Valores, em São Paulo. De fato, como se saberia no mesmo dia 30 em que o texto de Macedo e Baraldi sai publicado, as fotos foram feitas pelo próprio delegado Bruno, depois de enganar os peritos que analisavam as notas, dizendo-se autorizado pelo comando da PF. Pela infração, o delegado está sendo investigado por seus pares.

4. Tanto o Estado como a Folha dividem a primeira página do dia 30 entre a notícia das fotos do dinheiro e uma outra informação espetacular: a da queda do Boeing de passageiros da Gol com 154 pessoas, depois de um choque com o Legacy da Embraer, o jatinho executivo a serviço de empresários americanos. No dia 29, no Jornal Nacional, da Globo, no entanto, não há espaço para mais nada: a tragédia do avião da Gol não entra; o noticiário eleitoral, com destaque para as fotos do dinheiro dos petistas, é praticamente o único assunto.

A cena.

Neste local, próximo da PF, Bruno reuniu-se com repórteres da Folha, Globo, Estadão e Joven Pan

É uma omissão incrível. O Boeing partiu de Manaus às 15h35, hora de Brasília. Deveria ter chegado em Brasília às 18h12. Quando o JN começou, a notícia do desastre já corria mundo. No site Terra, por exemplo, às 20h10 uma extensa matéria já noticiava que o avião da Gol havia desaparecido nas imediações de São Félix do Araguaia, na floresta amazônica; e a causa apontada era o choque com o avião da Embraer.

Qual a razão da omissão do JN? A emissora levou um furo, como se diz no jargão jornalístico, ou decidiu concentrar seus esforços no que lhe pareceu mais importante?

Qualquer que seja o motivo, o certo é que a questão da divulgação das fotos mobilizou a cúpula do jornalismo da tevê dos Marinho. Como vimos, Bruno fora informado pelos jornalistas que Bocardi, da TV Globo, estava entre os jornalistas diante da PF no dia 29. Bocardi é Rodrigo Bocardi, repórter da TV Globo, que atendeu CartaCapital com muita má vontade. Disse que a matéria acabara sendo apresentada por César Tralli e não por ele; e não quis dar mais informações. De alguma forma, no entanto, tanto a fita de áudio com a conversa de Bruno com os jornalistas quanto o CD com as imagens do dinheiro foram passados à chefia de jornalismo do JN em São Paulo e de lá foram levadas a Ali Kamel, no Rio.

Kamel é uma espécie de guardião da doutrina da fé, o Ratzinger da Globo, como dizem ironicamente pessoas da organização dos Marinho, que criticam o excesso de zelo deste que é um editor em última instância de todo o noticiário político da emissora carioca. A crítica relembra o papel do cardeal Joseph Ratzinger, atualmente papa Bento XVI, no papado de João Paulo II.

Compreende-se por que a decisão sobre o que fazer com o áudio e com as fotos tivesse de ser tomada pelas mais altas autoridades da emissora. Se divulgasse o conteúdo exato das duas informações, a Globo estaria mostrando que o delegado queria usar a emissora para os claros fins políticos que manifestava e que a emissora tinha feito a sua parte nesse projeto. A saída de Kamel – aparentemente, segundo relato de terceiros, ouvidos por CartaCapital, já que ele mesmo não quis se manifestar – foi a de omitir qualquer referência à existência do áudio: “Não nos interessa ter essa fita. Para todos os efeitos, não a temos”, teria dito Kamel. A informação complicava a Globo. A informação sumiu.

5. O comportamento da Globo na cobertura do caso do dossiê provocou reclamações de vários funcionários da emissora, desde o início. Já na segunda-feira após o estouro do caso, dia 18 de setembro, houve conversas de alguns deles com Luiz Cláudio Latgé, diretor de jornalismo da TV Globo em São Paulo. A reclamação básica àquela altura era a de que não havia um tratamento igual para as duas pontas da história. A ponta que envolvia “a podridão dessa banda sindical petista”, como dizia um desses funcionários revoltados, referindo-se aos chefes da operação do dossiê no comitê eleitoral do presidente Lula, era amplamente noticiada. Já a outra, que envolvia articulações de Abel Pereira, empresário de Piracicaba, com interesses no Ministério da Saúde na época dos governos tucanos, era praticamente omitida.

Esse viés anti-PT e pró-tucano, que não foi apenas da Globo, mas dos principais jornais e revistas da imprensa, fez com que ficasse quase omitida do noticiário maior a informação de que a história do dossiê petista começa com a investigação, pelo grupo de inteligência comandado por Jorge Lorenzetti, da ida de Abel Pereira a Cuiabá, supostamente para tentar comprar dos Vedoin um outro dossiê, de informações que poderiam incriminar os tucanos José Serra e Barjas Negri, ministros da Saúde no governo Fernando Henrique Cardoso. No seu depoimento à Polícia Federal, após a prisão de Valdebran e Gedimar, Lorenzetti disse que, tanto Gedimar como Expedito Veloso e Osvaldo Bargas, outros dois petistas depois acusados de envolvimento no caso, foram enviados a Cuiabá numa operação de contra-espionagem.

Há provas desse trabalho. Nos dias 23 e 24 de agosto, Abel Pereira esteve em Cuiabá e foi espionado por um fotógrafo, contratado por Gedimar e Veloso, que flagrou o empresário na saída do Hotel Taiamã. Segundo Lorenzetti disse à PF, Abel tentava comprar, por 10 milhões de reais, as informações de que os Vedoin tinham contra os tucanos. A Polícia Federal tinha também três telefonemas de Abel para um parente dos Vedoin no dia 14 de setembro, data em que parece ter sido feito o acerto entre os petistas e os empresários da venda das ambulâncias superfaturadas conhecida como “operação sanguessuga”. Os telefonemas de Abel são outra indicação de que dossiês – e não apenas um – estavam sendo disputados. O dia 14 de setembro é também a data em que Bargas e Veloso acompanharam a entrevista da IstoÉ com os Vedoin e que resultou na reportagem de capa da revista naquela semana. A matéria mostrava o que é de conhecimento de todos os jornalistas que pesquisaram minimamente o assunto: que 70% das 891 ambulâncias comercializadas pela Planam, a empresa dos Vedoin, entre 2000 e 2004, tiveram suas verbas liberadas nas gestões de Serra e Negri.

É absolutamente razoável supor que Serra e Negri sejam pessoas acima de qualquer suspeita. É também razoável supor que as negociações de Abel com os Vedoin sejam lícitas, mesmo porque não é crime comprar informações. É também justo ficar indignado com o baixo nível da política que se fundamenta no esforço de provar que o candidato adversário ou é ladrão ou está ligado a ladrões. Mas pergunta-se: por que achar que os petistas são os piores de todos os políticos, a priori, sem investigar o outro lado? Essa era a pergunta que faziam à direção da Globo alguns dos seus funcionários de São Paulo.

6. Outra omissão relevante na cobertura, que mostra o partido que a imprensa conservadora assumiu no caso, é o pouco destaque dado ao comportamento do procurador da República Mário Lúcio Avelar, que comandou o desencadeamento da operação que levou à denúncia da compra do dossiê pelos petistas. Avelar é o mesmo procurador cujo trabalho resultou na divulgação, no começo de 2002, das fotos de dinheiro apreendido na firma Lunus, do marido da atual candidata ao governo do Maranhão, Roseana Sarney. Na época, ela era pretendente ao cargo de candidata da coligação PSDB-PFL para disputar a Presidência da República contra Lula. E as pesquisas de opinião pública mostravam àquela altura uma ascensão espetacular de seu nome, como um dos favoritos a desempenhar o papel do anti-Lula. As preferências pelo nome dela nas pesquisas de opinião pública aproximaram-se dos índices que Lula tinha na ocasião e superaram as marcas do outro, que, afinal, acabou sendo o candidato da coligação conservadora, José Serra. Com a divulgação das imagens do dinheiro apreendido, também numa operação da Polícia Federal, como agora, também com o vazamento das fotos para a imprensa e, especialmente, para o Jornal Nacional, Roseana despencou nas pesquisas e acabou ficando fora do pleito. Mais tarde, ao fim das investigações, o dinheiro foi devolvido à Lunus e se concluiu que nada tinha ocorrido de ilegal.

Assunto único.

No Jornal Nacional, não houve espaço para o avião da Gol

Avelar era, na época, procurador da República em Tocantins. De lá foi afastado no fim de 2002 pelo então procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, por ter indiciado políticos com mandato, sem ter competência legal para fazê-lo (só o procurador-geral pode decidir por esse tipo de ação). Em Mato Grosso, para onde seguiu depois, Avelar foi o comandante jurídico da Operação Curupira, conduzida pela Polícia Federal contra funcionários do Ibama e madeireiros, na qual foram presas 93 pessoas, entre elas Antônio Carlos Hummel, o diretor de florestas do Ibama. Hummel foi para Cuiabá algemado; pegou quatro noites de cadeia; foi liberado; e, depois, completamente inocentado. Avelar acabou confessando ao delegado que chefiou a investigação, depois de acompanhar o depoimento oficial de Hummel, que nem sequer devia tê-lo indiciado.

No caso do atual dossiê, logo no início da denúncia contra os petistas, Avelar insinuou que o dinheiro para pagamento aos Vedoin era público. Disse, em tom de ironia: “Veja bem, estamos falando de um partido político (o PT) que tem o comando do País. Não tem mais nada... Só o País. Pode sair de onde o dinheiro?” No dia 19 de setembro, Avelar pediu a prisão preventiva de Freud Godoy, uma espécie de segurança pessoal do presidente Lula, que de início passou vários dias em grande destaque nos jornais como o homem que teria comandado a operação de compra do dossiê. O juiz Marcos Alves Tavares, da Segunda Vara Federal, rejeitou o pedido de prisão feito por Avelar, e, além da argumentação contra o pedido, escreveu: é, “no mínimo, contraproducente que um pedido de prisão temporária seja divulgado na imprensa antes de sua análise pelo juízo”. Desde a manhã circulava a informação da prisão de Freud pela internet.

Avelar voltou à carga e pediu a prisão preventiva de Bargas, Lorenzetti, Freud, Veloso, Gedimar e Valdebran, no dia 25 de setembro, às 21 horas, três horas antes, portanto, do horário a partir do qual não são mais permitidas as prisões de qualquer cidadão, a não ser em caso de flagrante delito, em virtude da realização de eleições. A juíza Adverci de Abreu autorizou as prisões e enviou a ordem para a PF, onde o mandado chegou à 1h30 da madrugada; já, portanto, fora do prazo. Alguns jornais, na linha de ataque ao PT, noticiaram a história com manchetes do tipo “salvos pela Justiça Eleitoral”. Avelar comentou, reclamando de não poder continuar as investigações: “Houve um pedido de prisão. A juíza concedeu, mas não pôde prender por causa do período eleitoral. Tem uma investigação. Ela vai ter de parar por causa do processo eleitoral?”

7. A investigação do procedimento de Avelar é importante por um motivo que o jornalista maranhense Walter Rodrigues, que ajudou CartaCapital na preparação dessa matéria, chama de “o modus operandi” do tipo de infração no qual o promotor pode estar se especializando. Ela pode ser definida assim:

Vive-se um período eleitoral. Procuradores e policiais estão ativos, investigando diversos tipos de delito. E começam a misturar os trabalhos que estão fazendo com suas preocupações partidárias. E aí se desviam do mandado que receberam, passando a investigar pessoas e entidades adversárias.

Modus operandi.

O comportamento de Avelar ainda não mereceu uma investigação de peso

Isso é uma grave violação de princípios da Justiça. Como se sabe, na Idade Média, não havia um mandado para investigação: não se investigavam delitos; investigavam-se pessoas. Para exemplificar com o caso em tela: o mandado para a investigação de Cuiabá não era contra os Vedoin, pessoalmente. Era uma investigação de superfaturamento de ambulâncias e de suborno de parlamentares. No meio da investigação surgem os telefonemas dos arapongas do PT.

Mas do que os petistas do caso do dossiê são acusados? De comprar informações? Não, porque este não é um crime tipificado em lei. Porém, como não é a um crime, mas ao PT que se persegue, é preciso achar outro crime que os petistas possam ter cometido. Depois de ouvir o presidente do PT, Ricardo Berzoini, dizer que comprar dossiê não é crime, o jornal O Globo, dessa quinta, saiu exatamente à cata desses crimes. Encontrou advogados que lhe permitiram dizer: “Há duas hipóteses de o episódio vir a configurar crime. A primeira, se for comprovada a origem ilícita do dinheiro apreendido com os petistas Gedimar Passos e Valdebran Padilha. Nesse caso, os envolvidos poderiam ser processados por crime de ocultação de valor proveniente de ilícito (...) A segunda possibilidade é a de o dossiê conter falsas provas, configurando crime eleitoral de obtenção de documento material ou ideologicamente falso, para fins eleitorais”.
Os petistas já foram presos, agora trata-se de achar os crimes que possam ter cometido.

*Colaborou Antônio Carlos Queiroz


NÃO DEU NO JORNAL NACIONAL

Por que uma reportagem sobre Abel Pereira, produzida e editada, não foi ao ar? E outras nove perguntas a Ali Kamel

Por Mauricio Dias

Resposta.

O diretor de jornalismo da Globo considera a cobertura isenta
Na quarta-feira 11, a revista CartaCapital encaminhou 10 perguntas à Rede Globo, indagando sobre os critérios da cobertura jornalística adotados no Jornal Nacional durante o primeiro turno da eleição presidencial.

Eis as questões dirigidas ao jornalista Ali Kamel, diretor-executivo de Jornalismo da emissora:

1. Qual foi o critério adotado para a distribuição de tempo e espaço para os candidatos? Qual o princípio que norteou o critério adotado?

2. O critério adotado para esta eleição presidencial foi o mesmo das eleições anteriores ou, mais precisamente, o mesmo da eleição de 2002?

3. Por que, a partir do estouro do escândalo do dossiê, o Jornal Nacional não citou que 70% das ambulâncias da Planam foram liberadas na gestão do PSDB?

4. O Jornal Nacional, como ocorreu na edição de 23 de setembro, faz referência, com precisão, aos petistas Oswaldo Bargas, Jorge Lorenzetti e Expedito Veloso como “assessores da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, mas, quando se refere, nesse mesmo dia, às relações do senhor Barjas Negri com Luiz Antonio Vedoin, da máfia das ambulâncias, diz que ele é “ex-ministro do governo passado”? Não há, no caso, um tratamento desigual? (Em várias edições essa situação se repete.)

5. Por que, em nenhum momento, o JN não destacou um repórter para a investigação das relações de Barjas Negri e Abel Pereira em Piracicaba?

6. Temos informações seguras, que podem ser confirmadas pela equipe do SP-TV, de que um diretor da Globo vetou perguntas politicamente incômodas para o candidato a governador José Serra.

7. Na cobertura das eleições para o governo de São Paulo, os repórteres receberam a orientação de fazer entrevistas com os candidatos, nas ruas, com perspectivas propositivas. Ao candidato do PT, Aloizio Mercadante, não era dado espaço para falar do PCC e da perda de controle da ação policial no estado. Contrariamente, na campanha presidencial, era dado espaço amplo para críticas (justas ou injustas, não entramos no mérito) ao candidato Lula.

8. Sabe-se que foram produzidas matérias (pelo menos uma) sobre Abel Pereira. A reportagem foi editada, mas não foi ao ar. Qual o critério adotado nesse caso?

9. A Globo tem o áudio da conversa do delegado que entregou as fotos do dinheiro para a imprensa, mas não o divulgou. Além disso, adotou critérios diferentes para divulgar as fotos (obtidas ilegalmente) na véspera da eleição e não divulgar o dossiê de Cuiabá sob a alegação de que o material estava sob suspeita.

10. É fato que até hoje os telespectadores do JN não viram o governador eleito de São Paulo, José Serra, discursar na cerimônia de entrega das ambulâncias, ao lado de deputados sanguessugas. Por quê?

Eis a resposta do jornalista Ali Kamel:

“Se tem uma coisa que tem alegrado a nós, jornalistas da TV Globo, é o alto grau de isenção que temos conseguido imprimir na cobertura dessas eleições. Essa nossa convicção vem de três fontes: nossa própria avaliação, que é diária e procura verificar se temos nos conduzido com a isenção a que nos propusemos; a avaliação do público, que nos chega diariamente por nosso Centro de Atendimento ao Telespectador, com milhares de telefonemas e e-mails, e pela manifestação de todos os partidos políticos que têm atestado a isenção de nossos telejornais.

Clique aqui e leia o texto que ao Ali Kamel escreveu para o Observatório da Imprensa tentanto desqualificar a reportatem da Carta Capital.


Uma das mais recentes manifestações nesse sentido veio do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, em carta à TV Globo, justificando a ausência no debate na antevéspera da eleição, escreveu: ‘Aproveito para reafirmar o meu respeito à TV Globo e parabenizá-la pelo trabalho isento que vem fazendo na cobertura destas eleições’”.

Revista Carta Capital

1 - OUÇA GRAVAÇÃO DO DELEGADO BRUNO SOBRE O JN

2 - PESQUISADORES ENCONTRAM GRAVES FALHAS EM URNA ELETRÔNICA - IDGNow e Paulo Henrique Amorim

3 - O 1º GOLPE DE ESTADO JÁ HOUVE. E O 2º? - Paulo Hebrique Amorim

4 - Dossiê - Abel e os tucanos

5 - Escândalo: Revista revela conluio da imprensa para prejudicar Lula e o PT - Raimundo Rodrigues Pereira - Revista Carta Capital

Sobre o vídeo no qual o deputado do PFL de SP faz acusações pesadas contra o Alckmin e sua família, resolví retirar porque isso não acrescenta nada à campanha do Lula por se tratar de questões familiares. Acho que é baixaria.

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