domingo, outubro 08, 2006

oyixb08/10/2006

Não deixem de ler a matéria logo abaixo desta que fala sobre o mesmo assunto, resgatando notícias de 2002 sobre o caso Lunus e os envolvidos.

CASO DOSSIÊ

'Holofotes' e teorias da conspiração incomodam Polícia Federal

Autoridades da Polícia Federal ouvidas pela Carta Maior apontam os equívocos ocorridos durante a investigação da tentativa de compra de um suposto dossiê contra tucanos e se dividem sobre a atuação do delegado Edmilson Bruno.

SÃO PAULO - Desde que teve início o imbróglio do Dossiê Vedoin (ou Operação Tabajara, como prefere o ministro Tarso Genro), a Polícia Federal tem sido um alvo preferencial de atenções – e pressões, segundo alguns membros da corporação – por parte da imprensa, do governo e da oposição.

Enquanto as investigações sobre o caso - com foco na origem do R$1,7 milhão destinado a pagar pelo suposto dossiê contra o tucano José Serra - estão sob responsabilidade da PF do Mato Grosso, e grande parte da imprensa tem feito plantão por lá, é à PF de São Paulo, onde toda a tramóia foi desvendada, que reponde um dos personagens centrais dessa história.

O delegado plantonista Edmilson Bruno, responsável pela prisão do empresário Valdebran Padilha e do ex-policial Gedimar Passos, com os quais apreendeu o dinheiro, descumprindo ordens internas bateu e divulgou à imprensa fotografias do dinheiro no fim da última semana. Aproveitando o ensejo da bomba em que se transformaram as imagens, falou em revelar "coisas surpreendentes", em “investigação paralela” e em armadilhas preparadas para ele.

Quanto à mídia, Bruno voltou às primeiras páginas e ao horário nobre de sexta (29/9) a segunda (02/10); mas, como acabou não falando nada “surpreendente”, seu nome começou a sumir do noticiário. Dentro da Polícia Federal, porém, o delegado continua sendo motivo de polêmicas. Sobre ele e o próprio caso.

Na sede da corporação em Brasília, segundo a assessoria, o diretor-geral Paulo Lacerda não fala mais com a imprensa desde o início desta semana em função da “forma predatória" com que a mídia vem tratando o tema e a própria instituição, muito em função das últimas atitudes do “louco do Edmilson Bruno”, como ele vem sendo tratado por alguns nos corredores da PF.

Em Mato Grosso, o superintendente da instituição, Geraldo da Silva Pereira, compartilha com Brasília a opinião sobre Bruno. Especialmente suas declarações sobre o dossiê no ato da apreensão do dinheiro – afirmou que seriam 2 mil páginas que envolveriam “partidos de A a Z” – irritaram Pereira. Questionado se a PF estaria investigando o conteúdo do dossiê, concomitantemente às investigações sobre a origem do dinheiro, o superintendente é enfático: “o Dossiê é só aquilo que a imprensa viu, as imagens da entrega das ambulâncias com a presença de José Serra, algumas notas fiscais, e só. Jamais fomos atrás de outro dossiê”.

Especialmente incomodado, Pereira critica o comportamento de Edmilson Bruno, que chamou de “delegado maluco de São Paulo”, uma vez que, para o superintendente, Bruno é, há dez anos, apenas “um plantonista, porque não tem capacidade” de ser algo mais.

“Ele fica no plantão, simplesmente cumpriu uma diligência em São Paulo até que os agentes da PF de Mato Grosso assumissem”, explica Pereira. A versão dada por Bruno é a de que ele foi “afastado do caso”, e que teria motivado, posteriormente, a iniciativa de fotografar o dinheiro apreendido. No dia 28/9, o delegado plantonista foi à unidade do Banco Central em São Paulo e à empresa Protege S/A para fazer as fotos. Aos funcionários das duas instituições Bruno mentiu dizendo que foi recolocado no caso pela PF. “Queremos dar um tratamento psicológico para ele”, arremata Pereira.

Defesa

A iniciativa de Bruno de divulgar imagens do dinheiro da compra do dossiê é avaliada de forma distinta por Francisco Garisto, presidente da Federação Nacional de Policiais Federais (Fenapef). Segundo ele, em situações similares – o R$ 1,3 milhão apreendido no escritório do marido da então candidata à presidência Roseana Sarney, em 2002, e o “dinheiro da cueca” (US$ 100 mil) encontrado com José Adalberto Vieira da Silva, braço-direito do irmão de José Genoino na Assembléia do Ceará, em 2005 – a PF agiu de maneira diferente do caso do dossiê, fotografando as quantias apreendidas e divulgando as imagens para a imprensa.

Na opinião do presidente da Fenapef, o gesto não teve motivação partidária nem teria sido encomendado pelo PSDB, como aventado por setores do governo, mas foi fruto de uma “posicionamento político pessoal, um sentimento pessoal” de indignação com a ordem da não-divulgação das imagens do dinheiro. Mas avalia que a forma em que a divulgação ocorreu foi equivocada, justamente pela falta de experiência do delegado em lidar com a “imprensa carniceira”, a quem pedir “off” em casos como este seria ingenuidade.

Garisto também avalia que a própria apreensão do dinheiro e de seus portadores foi feita de forma errada ou, ao menos, precipitada, em função da inexperiência de Bruno. O correto, segundo ele, teria sido permitir toda a transação para que se apreendesse também o suposto dossiê, do qual só teria aparecido um “resíduo de amostra grátis”.

Se realmente existe algo além do que foi apreendido, Garisto não tem certeza. “Não estou conseguindo acesso, mas existe a lenda de um dossiê de duas mil páginas que estaria com os Vedoin, que ainda não entregaram todo o material. Por isso, se fosse eu [na ação de São Paulo], não prenderia ninguém até o término da negociação”.

Como representante da categoria dos policiais federais, no entanto, Garisto se condói do tratamento dado a Bruno agora, uma vez que estaria sofrendo discriminação internamente na corporação. Afastado por um pedido de licença médica, o delegado não tem feito aparições públicas ou dado declarações.

Já o superintendente da PF no Mato Grosso, Geraldo Pereira, apesar de também não acreditar em motivações partidárias ou pagamento de propina, condena a “atitude equivocada” e o descumprimento da ordem interna contra a publicização das imagens do dinheiro. Segundo Pereira, a PF queria exatamente evitar o uso eleitoreiro das imagens, como já ocorreu no passado. “O caso Roseana (divulgação do dinheiro apreendido com seu marido em 2002) foi uma falha que não queríamos repetir. O que importa são as investigações, que estão seguindo”.

Pressões?

Para o PT, a solução rápida do caso do dossiê, apontado como a zebra deste primeiro turno “quase ganho”, é uma incômoda necessidade neste segundo turno. No início da semana, a imprensa afirmou que Lula defendeu pressa na finalização das investigações, o que teria sido ordenado pela superintendência de Brasília à PF do Mato Grosso. Geraldo Pereira nega. Em todo caso, o jogo político no qual a Polícia Federal se viu envolvida está aborrecendo a corporação, afirma Francisco Garisto, da Fenapef.

“A pressão está sendo grande de todos os lados, o que é muito natural porque os interessados estão em campanha. Mas a PF não está aí para agradar ninguém. Está agindo com isenção, e o único erro, na minha opinião, foi não divulgar imediatamente as fotos do dinheiro”.

Segundo Garisto, ao investigar tanto membros do PT, como Hamilton Lacerda, ex-assessor do candidato ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante, e suposto detentor de informações sobre a origem do dinheiro, como o empresário Abel Ferreira, ligado ao ex-ministro tucano Barjas Negri, e outro suposto negociador do dossiê, a PF tem cumprido rigorosamente e de forma independente o seu papel.

http://agenciacartamaior.uol.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=12470

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