quarta-feira, maio 17, 2006

ALCKMIN REDUZIU VERBA DE PENITENCIÁRIAS

Folha de São Paulo (17/05/06)

Fábio Schivartche para a Folha Online

Em seus últimos anos como governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), agora candidato à Presidência da República, reduziu a verba per capita gasta a cada ano com o sistema penitenciário paulista -berço do PCC. Em 2004, foi gasto R$ 1,145 bilhão com a administração e investimentos da rede prisional para uma população carcerária de 109.163 pessoas -uma média de R$ 10.494 per capita ao ano.

No ano passado, foi R$ 1,078 bilhão para 120.887 detentos -uma média per capita anual de R$ 8.917. É uma redução de 15% nos dois últimos anos completos de governo de Alckmin. Ele deixou o cargo em março último para seu vice, Cláudio Lembo (PFL). Os dados são da SAP (Secretaria de Estado da Administração Penitenciária). A Folha apenas atualizou os gastos com a inflação calculada pelo IPC-Fipe (índice que usa como base a capital paulista), comparando os valores de cada período com o ano de 2005.

A redução da verba utilizada nos presídios paulistas agrava os principais problemas que o sistema já enfrenta -principalmente a superlotação de suas dependências. Hoje, há 124.446 presos para 95.645 vagas em todo o Estado. O déficit é de 28.801 vagas. Tem havido esforços do governo nos últimos anos, mas não em número suficiente. No ano passado, por exemplo, foram criadas 8.138 vagas. Mas a população carcerária cresceu mais entre 2004 e 2005 -um aumento de 11.724 detentos no período. Outro problema comum nas prisões paulistas é o controle de segurança falho, que permite a entrada de telefones celulares, com os quais os presos organizam rebeliões. Com mais dinheiro, seria possível contratar mais agentes penitenciários e comprar sofisticados aparelhos para dificultar a comunicação na cadeia.

Para o governo do Estado, a redução da verba per capita revela maior eficiência administrativa. A SAP também informa que já foram criadas 3.872 vagas neste ano e que até dezembro outras 3.028 serão abertas nos presídios paulistas. As informações de gastos mais antigas repassadas pela SAP à reportagem referem-se a 2002. Naquela época, a média anual per capita (R$ 9.690) também era superior à do ano passado (veja tabela abaixo). Só em 2003 o valor per capita foi menor do que em 2005.

As estatísticas deste ano ainda estão incompletas, já que o governo continua executando o Orçamento. A previsão oficial é gastar R$ 1,305 bilhão com o sistema penitenciário em 2006. Se os números se confirmarem, será um aumento de 21% em relação a 2005.

Jornal Informante - http://www.informante.net/resources.php?catID=7&pergunta=1450#1450

‘NÃO INTERESSAM HERÓIS MORTOS’

Jornal O Globo – 17/05/2006

Chico de Gois*

SÃO PAULO

Na noite em que as ruas de São Paulo reproduziram o silêncio do medo da população que havia se refugiado em casa temendo a guerra entre bandidos e policiais, as forças de segurança paulistas abriram fogo contra suspeitos e elevaram em 86,8% o número de supostos criminosos mortos em comparação com o dia anterior. Balanço divulgado no início da tarde de ontem pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo contabilizava 71 bandidos mortos desde sexta-feira, quando começaram os ataques. No dia anterior, o governo paulista informara que até aquela data 38 suspeitos haviam sido mortos "em confronto com a polícia". Somente na madrugada de ontem, portanto, a polícia matou 33 pessoas que seriam ligadas ao crime organizado.

Paralelamente, o número de vítimas fatais entre policiais militares praticamente se manteve estável. Até a tarde de segunda-feira, eram 22 os mortos. Ontem, outro PM foi assassinado, elevando para 23 o número de PMs mortos nas ações da facção criminosa (além de seis policiais civis, três guardas metropolitanos, oito agentes penitenciários e quatro cidadãos comuns).

“O plasma que conheço é sangue”

O delegado-geral da Polícia Civil, Marco Antonio Desgualdo, fez questão de negar ter havido um acordo entre o governo e os bandidos para pôr fim às rebeliões nos presídios, mas não escondeu que as mortes foram uma reação da polícia às ações dos criminosos.

— Chegaram a dizer que os bandidos receberiam televisões de plasma. O plasma que eu conheço é o do sangue. A polícia foi para cima — disse Desgualdo.

Mas ele classificou de "mentira grosseira" uma pergunta sobre se havia ocorrido uma matança.

— Vocês conhecem nosso pessoal — disse Desgualdo aos repórteres, durante entrevista coletiva.

— Se cutucarem a onça com vara curta, vai ter encrenca. Mas tudo dentro da legalidade, embora não tenhamos de abaixar a cabeça. Nós representamos a força do bem, a voz da sociedade — completou o delegado.


O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Elizeu Eclair Teixeira Borges, também demonstrou que a corporação não estava para brincadeira:

— Se de manhã tínhamos cerca de 60 criminosos mortos e já temos 71 é porque a polícia está matando quem ousa nos enfrentar.

Para Borges, "o que salva a vida é o medo".

— Não me interessam heróis mortos. Quero soldados com receio, mas com técnica.

As afirmações de Desgualdo e de Borges ganhavam força com os casos de mortes registrados nos distritos policiais da cidade e da região metropolitana de São Paulo.

Além do grande aumento no número de mortes entre os bandidos, as prisões aumentaram ontem de 91 para 115.

Em Santo Amaro, Zona Sul da capital, dois homens foram mortos depois de trocar tiros com a Rota, a força de elite da PM. Com os suspeitos foram encontrados dois revólveres 38 e oito bananas de dinamite.

Na Zona Leste, outros dois homens foram mortos após atacar uma agência bancária. E em Guarulhos, na Região Metropolitana de São Paulo, mais duas pessoas foram mortas em confronto. A polícia informou que a dupla carregava seis coquetéis molotov.

Mesmo com o encerramento das rebeliões anteontem e com o endurecimento das forças de segurança, os atentados continuaram durante a noite de anteontem, a madrugada e o dia de ontem.

Em Diadema, também na Região Metropolitana, a casa de um soldado da Polícia Militar foi atacada na noite de anteontem por homens que dispararam cinco vezes. Os criminosos também jogaram uma bomba de fabricação caseira contra a porta do imóvel. Apesar do susto, ninguém foi ferido e os suspeitos conseguiram fugir.

Do xadrez para o futebol americano

Os números divulgados ontem pela Secretaria de Segurança Pública registraram um total de 251 atentados (até o dia anterior, eram 184 casos). Desse total, 80 foram ônibus incendiados (anteontem, a polícia chegou a dizer que eram 85 ônibus queimados, dos quais 56 na capital). Além disso, uma garagem de ônibus também foi alvo dos criminosos. A polícia conta também que 15 agências bancárias foram danificadas pelos bandidos.

A estratégia adotada pela polícia para encurralar os criminosos valeu-se também de pressão sobre famílias de suspeitos. O delegado-geral afirmou que o trabalho de inteligência das forças de segurança paulista consistiu em "identificar residências" de pessoas que pudessem ter ligação com a facção criminosa. A mãe de um preso acusado de participar das ações contra a polícia foi encontrada morta em sua casa.

— A inteligência da polícia identificou as residências dessas pessoas. Sabedoras disso, elas tiveram de dar uma brecada nas ações — afirmou Marco Antonio Desgualdo.

O delegado fez uma analogia com jogos para demonstrar que a polícia endureceria a reação se julgasse preciso.

— Se for necessário, vamos ter o prazer de deixar o tabuleiro de xadrez (onde há mais estratégia para a ação) e partir para o futebol americano (jogo conhecido pelo confronto físico entre seus oponentes).

Especial para O GLOBO

Jornal O Globo – 17/05/2006

POLÍCIA NÃO DIVULGA LISTA DE MORTOS

SÃO PAULO. Nem o governo nem a polícia divulgaram o nome das 71 pessoas que foram mortas e são suspeitas de participarem da facção criminosa que comandou uma onda de violência em São Paulo. Desde sexta-feira, quando começaram os ataques, as autoridades não fornecem informações sobre as pessoas mortas, que estariam agindo, segundo a polícia, a mando do crime organizado.

Segundo os boletins divulgados pela Secretaria de Segurança, todos os mortos são criminosos. O comandante-geral da Polícia Militar de São Paulo, coronel Eliseu Eclair Teixeira Borges, admitiu porém ontem que a corporação não preparou um levantamento sobre as vítimas. Segundo ele, muitas não foram ainda identificadas e seus corpos ainda estariam no Instituto Médico Legal.

Numa entrevista no Palácio dos Bandeirantes, depois de um encontro com o governador Claudio Lembo, o coronel disse, contraditoriamente, que alguns mortos já haviam sido identicados. Ele admitiu que não tem conhecimento sobre quem foi morto pela polícia.

— Não veio para mim essa informação. Não vou prometer, mas vou tentar (obter a lista ainda ontem). Temos várias pessoas que não foram identificadas, já que ninguém reclama o corpo. Mas temos uns 70% totalmente identificados — disse o coronel, afirmando que muitas das pessoas assassinadas estão no banco de dados do Fotocrim, um sistema que reúne informações sobre criminosos fichados na polícia.

http://oglobo.globo.com/jornal/pais/247205453.asp

Grifo meu em 17/05/2006: Todos os destaques em negrito na matéria acima foram feitos por mim. Na rádio CBN, que para mim perdeu toda a credibilidade, o apresentador Heródoto Barbeiro, que a cara me lembra um dos "Gremlins", está fazendo todo o possível para jogar no Lula a culpa dos últimos acontecimentos em São Paulo. Disse que o governo federal deixou de investir milhões em segurança pública mas se esqueceu de dizer que o PCC surgiu em 1993/94, quase treze anos atrás, durante o governo do FHC/Covas/Alckmin. Na Folha de São Paulo, o Josias de Souza diz que na pesquisa do Datafolha (que não confio por ser mídia paulista e muito menos por ser da Folha de São Paulo) feita em São Paulo, após os acontecimentos, o povo diz que o Lula tem 39% de culpa; o Alckmin tem 37% de culpa e o Lembo tem 30% de culpa. Mas o Josias não diz em nenhum momento que o Lembo e o Alckmin são coligados e que o somatório dos percentuais dos dois chega a 67%. A Lúcia Hippólito que se acha a última Coca-Cola gelada do sertão ou o último cheeseburguer de Biafra, também, tenta jogar a conta da confusão paulista no Lula. Todos esses acham que somos idiotas como eles gostariam que fôssemos.

Stanley Burburinho.

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