domingo, novembro 05, 2006

Escola Base: Folha faz o primeiro acordo

Tiago Cordeiro

Fonte: Consultor Jurídico

Março de 1994. A imprensa veicula um suposto caso de abuso sexual na Escola Base, em São Paulo. As informações são baseadas em fontes oficiais e em depoimentos de pais e alunos. Após investigações, os acusados foram considerados inocentes, mas já era tarde para a escola. Depredada e falida, a situação ainda gerou ameaças anônimas para seus donos Icushiro Shimada e Maria Aparecida Shimada e para o motorista Maurício Monteiro de Alvarenga. Dez anos depois, as indenizações ultrapassam os R$ 8 milhões para réus como Estado de S. Paulo, TV Globo e IstoÉ e ainda tramitam no Supremo Tribunal de Justiça (STJ).

As vítimas ganharam em todas as instâncias contra o governo paulista. Em 2002, o STJ condenou o Estado de São Paulo a pagar R$ 250 mil a cada um dos autores. No total, com juros e correções, a indenização passa de R$ 1 milhão - que ainda não foi pago. Os jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo também foram condenados a pagar a mesma quantia. A Folha fechou o primeiro acordo do caso para pagar R$ 880 mil

“O processo já havia sido julgado em segunda instância e como a condenação estava confirmada, mesmo com os requisitos mais difíceis, optamos pelo acordo”, afirmou Mônica Filgueira Galvão, que defendeu a Folha com a advogada Taís Gasparian. Os desembargadores não aceitaram o argumento da defesa de que os repórteres usaram informações oficiais. Ao site Consultor Jurídico, Taís afirmou que a denúncia já fora divulgada pela TV Globo e o jornal publicou apenas a informação da mesma autoridade. Porém na sentença, a justiça afirmou que "o direito de informação e a liberdade de imprensa se sustentam no cuidado com a honra e dignidade das pessoas".

A rádio e a TV Bandeirantes tiveram suas sentenças favoráveis anuladas pelo STJ. Já o SBT terá seu julgamento em novembro, mas seu caso não foi para o STJ. Em agosto, a TV Globo de São Paulo não conseguiu se livrar da indenização aos proprietários da escola. A justiça de São Paulo manteve a sentença fixada em R$ 1,35 milhão.

A Editora Abril também teve sua sentença confirmada. A IstoÉ deve pagar R$ 120 mil, mais juros e correção, para cada um dos autores da ação. No julgamento, um do desembargadores considerou que as reportagens não tinham nenhum exagero e que o erro foi da autoridade policial, mas os demais magistrados discordaram.

Kalil Rocha Abdalla, advogado do casal Shimada e de Alvarenga, ainda tenta conseguir que os juros e correções contem a partir de 1994, ano em que ocorreram as denúncias, e não a partir das condenações, que foram sentenciadas, em média, após dez anos. Se o recurso for aceito, os valores das indenizações subirão além de R$ 1 milhão. Procurado pelo Comunique-se, o advogado não foi encontrado.

http://www.comunique-se.com.br/index.asp?p=Conteudo/NewsShow.asp&p2=idnot%3D32485%26Editoria%3D8%26Op2%3D1%26Op3%3D0%26pid%3D32411881089%26fnt%3Dfntnl

População critica cobertura; Globo faz abaixo-assinado pra se defender

Protestos contra atuação da mídia nas eleições saíram das críticas na internet e chegaram às ruas, como nas manifestações durante a festa da reeleição de Lula (foto). Para defender sua cobertura, chefia da Globo colocou abaixo-assinado "à disposição" dos jornalistas.

Bia Barbosa – Carta Maior

VEJA ÁLBUM DE FOTOS

SÃO PAULO – A cena foi das mais curiosas da festa em comemoração à vitória do presidente Lula na Avenida Paulista, na noite do último domingo (29): postado em frente ao palco onde discursava o presidente reeleito, o repórter da TV Globo não conseguia fazer sua passagem (no jargão jornalístico, o trecho da matéria em que o repórter aparece no vídeo) porque a população, do lado de trás da grade, não parava de gritar: “Fora, Rede Globo! Fora, Rede Globo!”. Horas depois, o carro da emissora saiu vaiado do local da festa. Eleitores de Lula carregavam cartazes que diziam: “Lula de novo, para a tristeza da Globo e alegria do povo”; “Lula, nós estamos com você. Veja e Globo, nós estamos de olho em vocês. 3o turno não!”; “FHC, Veja, Kamel, Globo: terroristas da democracia. Parem com o golpismo. Quem manda no meu voto sou eu” e “Viva as informações via internet”.

Junto com vários amigos, o professor Sebastião Alves de Oliveira Júnior encomendou uma grande faixa para o dia do segundo turno. Os dizeres “O povo venceu a mídia” atravessaram toda a pista esquerda da Avenida Paulista. E os aplausos de quem passava não foram poucos.

“Fizemos a faixa porque estamos indignados com a ditadura do quarto poder. Resolvemos fazer uma homenagem aos injustiçados. A mídia tentou influenciar muito nesta eleição. Não é possível ter quatro famílias mandando na opinião pública de um país de 180 milhões de pessoas. Temos que criar mecanismos para democratizar a mídia”, disse Oliveira.

Um pouco mais a frente, o servidor público Airton De Grande também era aplaudido por carregar o cartaz que dizia “Recado aos patrões da impren$a desonesta: Civitas, Marinhos, Mesquitas & Frias, vocês perderam!!! Agora só em 2010... antes é golpe”. Segundo De Grande, o cartaz representava um desabafo contra os quatro grandes veículos que “foram desleais ou no mínimo ineficientes do ponto de vista do bom jornalismo”. Apesar disso, avalia, o povo conseguiu fazer uma leitura adequada da mídia e saber quem errou.

Na segunda-feira, as críticas contra a atuação da grande imprensa continuaram em Brasília, quando militantes que se reuniram para receber o presidente Lula de volta à capital protestaram contra a imprensa. Nesta quarta (1/11), a relação da mídia com o governo está estampada na grande maioria dos jornais, em matérias que vão do programa de comunicação para o segundo mandato às repercussões das reclamações dos jornalistas da revista Veja após seu depoimento à Polícia Federal.

O aspecto positivo deste momento é que em poucos períodos da história recente do Brasil se discutiu tanto a atuação da imprensa nos processos eleitorais. O negativo é que tamanho debate é resultado concreto de um ultrapassar de limites da grande imprensa nas últimas eleições – o que ficou comprovado, inclusive, por meio das diversas análises realizadas pelo Observatório Brasileiro de Mídia ao longo da campanha (clique aqui para consultar os estudos).

Um dos episódios mais recentes deste embate foi o abaixo-assinado produzido por funcionários da Rede Globo em resposta às reportagens da revista Carta Capital acerca da omissão e manipulação de fatos durante o processo eleitoral por parte da grande mídia. O texto, assinado por 172 jornalistas, foi divulgado na internet dois dias antes do segundo turno e inicia falando da “revolta, perplexidade e pesar” que sentem os jornalistas da Globo, que se viram no “dever de denunciar a insistente tentativa de atingir nossa honra e nossa correção profissional por alguns supostos colegas nestes dias que antecedem o encerramento das eleições 2006”.

Em artigo publicado nesta terça na página do Observatório da Imprensa (Clique aqui e leia “Abaixo-assinado frustrado da TV Globo), Marcelo Salles afirma que, se a idéia da Globo era deslocar o eixo das críticas à empresa para o campo da ofensa pessoal, como faz entender este primeiro parágrafo, o resultado não foi o esperado.

“Em nenhum momento houve tentativa de calúnia ou ofensa à honra dos profissionais envolvidos na apuração, como tenta fazer parecer o abaixo-assinado. Basta pegar a revista e reler. Raimundo [Pereira, autor das reportagens de Carta Capital] inclusive chega a afirmar, na mesma página 23, que a 'questão da divulgação das fotos mobilizou a cúpula do jornalismo da tevê dos Marinho'”, escreveu Salles.

O documento continua, explicando a posição da reportagem da Globo sobre a divulgação, no Jornal Nacional, do acidente com o vôo 1907 da Gol na véspera do primeiro turno. Na verdade, o documento responde aos questionamentos feitos por Carta Capital sobre o fato da Globo não ter noticiado, naquele dia, o desaparecimento do avião da Gol, focando o jornal na divulgação das fotos do dinheiro apreendido durante a tentativa de compra do dossiê contra o PSDB.

O abaixo-assinado termina dizendo que os jornalistas não toleram que sua postura “correta de cautela e busca da precisão seja transformada numa mentira covarde e desonesta de um certo grupo de detratores. Estes, sim, traidores de um compromisso ético do jornalismo – porque nos acusam sem o menor pudor, sem conhecimento nenhum de nossos procedimentos. Em nome de nossa honra, nós, jornalistas da Rede Globo, registramos publicamente nosso repúdio às calúnias que têm sido feitas contra nosso trabalho na cobertura das eleições 2006. Somos jornalistas compromissados com a nossa profissão. Confiamos cada um no trabalho do colega ao lado. Jamais tomaríamos parte de complôs de natureza partidária, ou de qualquer outra, que, na verdade, têm vida apenas na cabeça daqueles que, dominados pela paixão política, não se envergonham de caluniar profissionais honestos”.

Na verdade, o abaixo-assinado, ao focar nas explicações da emissora acerca da cobertura do acidente da Gol, indiretamente tenta desqualificar toda a reportagem feita por Carta Capital sobre a cobertura da Globo nas eleições. Usa de um sofisma, tentando induzir o leitor a acreditar que, já que a postura da Globo estava correta em não noticiar o acidente naquele momento – e que, portanto, errados estavam os que criticaram essa opção –, também estava correta, por tabela, no que se refere ao restante da cobertura.

Não se trata, portanto, de fazer um abaixo-assinado para discutir se a emissora tinha ou não as informações completas sobre o desaparecimento do avião da Gol e, se tinha, por que resolveu não colocá-las no ar. Trata-se de uma defesa quase incondicional da postura do jornalismo da Rede Globo nas eleições – considerado imparcial –, assinada por 172 de seus profissionais.

Segundo declaração de Mônica Maria Barbosa, chefe de reportagem do Jornal Nacional, ao site Comunique-se, que divulgou o abaixo-assinado, o documento teria sido uma atitude “absolutamente espontânea dos profissionais”. Foi assim que o texto foi “vendido” para as praças da Globo, para facilitar a adesão dos colegas. Não é isso, no entanto, o que contam os jornalistas da emissora que conversaram com a reportagem da Carta Maior.

Segundo eles, o abaixo-assinado foi escrito a pedido da cúpula do jornalismo da emissora e teria circulado pronto na redação para a coleta de assinaturas. A responsável pelo texto seria a própria Mônica Maria Barbosa. No dia em que as assinaturas estavam sendo coletadas, houve um princípio de discussão sobre o assunto na redação de São Paulo. Diante dos questionamentos dos jornalistas, Mariano Boni, um dos chefes da reportagem, rebateu dizendo que “quem não estiver satisfeito com a cobertura da Globo que pegue o chapéu e vá para a Record”. Do Rio de Janeiro, a editora-chefe do Globo Repórter, Sílvia Sayão, ligou para sua equipe em São Paulo dizendo que “seria bom se os jornalistas assinassem o documento”.

O texto não circulou entre os repórteres-cinematográficos, considerados uma parcela da categoria mais avessa a essas atitudes da chefia. Alguns profissionais que antes tinham assinado o documento pediram a retirada de seus nomes – o que criou um forte constrangimento interno. Como vários jornalistas descreveram à Carta Maior, estava aberta ali a “caça às bruxas” dentro da Globo. “Não se trata de demitir quem não colocou o nome no abaixo-assinado, mas assim eles ficam sabendo com quem podem contar ali dentro”, disse um repórter. “Foi um jeito de colocar o guizo no rabo de alguns gatos”, disse outro.

Em alguns comentários de profissionais da Globo deixados nas páginas da internet que publicaram o abaixo-assinado fica claro como muitos realmente assinaram de forma espontânea o texto. Outros, no entanto, confessaram depois não ter percebido que isso seria usado como instrumento político pela empresa. Funcionaram como escudo para a chefia do jornalismo da Globo, principalmente para Ali Kamel, que ficou bastante exposto depois das reportagens de Carta Capital.

No dia 19 de outubro, depois da publicação da primeira capa de Carta Capital sobre a cobertura da imprensa do caso da compra do dossiê – que trazia uma página com as questões formuladas e não respondidas por Kamel –, a Globo soltou um comunicado interno aos seus funcionários, enviado a todos os usuários de email do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e Recife. Um trecho do texto dizia o seguinte:

“A revista Carta Capital publicou uma denúncia generalizada contra a chamada grande mídia e um ataque direto contra a TV Globo. Antes dessa veiculação, a revista enviara um questionário à Central Globo de Jornalismo, cujo teor não deixava dúvida de que estava mal-intencionada: as perguntas partiam sempre de premissas falsas e se referiam a episódios que nunca existiram. Preferimos dar uma resposta geral, reafirmando nossa convicção de que estamos realizando uma cobertura isenta das eleições. Era mesmo uma armadilha, já que os principais ataques da revista à TV Globo sequer constavam do questionário enviado”. Em anexo ao comunicado, a Central Globo de Pesquisa e Recursos Humanos enviou duas páginas escritas por Kamel rebatendo as acusações. O texto, pago pela Globo, foi publicado na Carta Capital da semana seguinte.

“Em vez de adotar uma postura humilde e se explicar, a direção da TV Globo insiste em se fazer de vítima e ainda contra-ataca, sem dar nomes, a todos os que 'não se envergonham de caluniar profissionais honestos'. Em outras palavras, todos os que questionaram a manipulação da Globo às vésperas do primeiro turno. Triste a empresa que não consegue justificar suas práticas condenáveis e se esconde atrás de 172 funcionários”, escreveu Marcelo Salles no Observatório da Imprensa.

Na semana em que o comunicado interno foi enviado, um repórter da emissora que trabalha no Rio de Janeiro viu Ali Kamel chorando na redação.

Na semana passada, a Rede Globo enviou um representante a Brasília para conversar com o governo Lula. Se isso se mostra necessário, sinal de que o receio da perda da credibilidade junto à população não é nada fictício.

Fotos: Bia Barbosa – Carta Maior

http://agenciacartamaior.uol.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=12733

04/11/2006 13:47h

A CPI QUE FALTA: RONALDO E A GLOBO

Paulo Henrique Amorim

Máximas e mínimas 5


. O jornal espanhol ABC.es publicou nesta sexta-feira, dia 3, uma entrevista com o jogador Ronaldo, “o Fenômeno” (clique aqui), em que ele diz:

1) “... depois de superar uma contusão de quase dois anos, lutar para ser titular me parece algo normal...”

2) “Venho de uma temporada meio contundido, de uma Copa do Mundo em que joguei com tendinite e de uma operação para acabar com a tendinite.”

3) “Estou igual ao que estava antes de me contundir ano passado contra o Atlético”.

. Ou seja, Ronaldo jogou a Copa do Mundo contundido.

. E estava contundido há dois anos.

. (Sem falar que estava – e está – acima do peso.)

. A minha modesta proposta seria instalar-se uma CPI para fazer a pergunta: Quem escalou Ronaldo – a Nike ou a Globo ?

. O primeiro convidado a depor (convidado, não intimado) seria o Galvão Bueno.

. A CPI poderia ser composta pelos seguintes campeões de CPI:

. ACM e ACM neto, que perderam a eleição na Bahia

. Rodrigo Maia, cujo pai perdeu a eleição no Rio.

. Tasso Jereissati, que perdeu a eleição no Ceará.

. Antero Paes e Barros, que perdeu a eleição em Mato Grosso.

. Eduardo Paes, que perdeu a eleição no Rio.

. Raul Jungmann, candidato a superintendente da PF num Governo Alckmin, cujo partido não ultrapassou a clausula de barreira.

. Garibaldi Maia, que perdeu a eleição no Rio Grande do Norte.

. Jorge Bornhausen, que busca na Justiça os votos que não tem na urna.

. E esse campeoníssimo de todas as CPIs, Arthur Virgilio, que disse que ia dar uma surra no Presidente Lula, e teve 5% dos votos para governador do Amazonas.

http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/398001-398500/398469/398469_1.html

04/11/2006 13:41h

NÃO COMA GATO POR LEBRE

O Conversa Afiada é um site de informação e opinião. Nesses tempos de intensa polêmica sobre o papel (lamentável) da mídia na campanha presidencial que passou, é importante fazer as seguintes observações para que o internauta não se deixe enganar. O Conversa Afiada não gosta de:

1) FHC

2) Daniel Dantas

(1 e 2 são fenômenos da mesma natureza, como breve se demonstrará).

3) Rede Globo

4) Imprensa farisaica

(3 e 4 são fenomenos da mesma natureza, como ficou luminosamente demonstrado na última eleição).

5) O Corvo do Lavradio

6) Ronaldo dito “o fenômeno”

7) C. R. Flamengo

8) Quem fala mal do Rio

8) Quem fala mal de nordestino

9) Brasília

10) Pós-moderno

11) Dry Martini com uma gota a mais de Martini

12) SUVs

13) Filme de terror

14) Amsterdam Avenue

15) Gatos

http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/398001-398500/398466/398466_1.html

LIBERDADE DE IMPRENSA? INDIGNAÇÃO, QUANDO CONVÉM

Diferenças na repercussão da suposta intimidação aos repórteres de Veja e da condenação de Emir Sader

Por Redação CartaCapital

Há várias formas de impedir avanços democráticos em uma sociedade. Um deles, talvez o mais eficiente do ponto de vista de quem defende determinados privilégios, é bloquear a discussão sobre certos temas. No Brasil, os donos da mídia decretaram ser proibido debater seus erros e excessos, desnudar seus interesses ou apresentar, sobre o papel dos meios de comunicação, uma visão diferente.

A respeito, vale citar declaração recente do deputado federal Ciro Gomes, eleito com mais de 600 mil votos no Ceará e um dos políticos mais demonizados pela imprensa justamente por ter idéias próprias. Em entrevista ao blog Conversa Afiada, do jornalista Paulo Henrique Amorim, sediado no portal iG, Ciro refletiu: “Precisamos ter clareza de que não temos de ter medo de avançar em uma questão substantiva, que é a questão da democratização dos meios de comunicação. Quando a gente discute esse tema, os que têm o monopólio da mídia vão sempre inventar que isso é autoritário. Não é”.

Dois casos exemplares da última semana mostram como levantar a bandeira da liberdade de imprensa é uma questão de conveniência dos veículos de comunicação.

A suposta intimidação de três repórteres da Veja, convidados a depor na Polícia Federal por causa de uma reportagem, produzida pela própria revista, que revelava um hipotético encontro às escondidas entre Freud Godoy e Gedimar Passos, mereceu editoriais indignados e alentados textos nos principais jornais e emissoras de tevê. Instituições de classe e a sempre atenta OAB lançaram notas a repudiar a “truculência” da PF e a exaltar a liberdade de imprensa. Como de costume.

Sutileza não faz parte da personalidade de policiais. Não há aqui defesa de ilegalidades por parte do aparelho de Estado. Nem se descarta a possibilidade de o delegado que ouviu os jornalistas ter cometido excessos injustificáveis contra cidadãos, qualquer que seja a profissão ou posição social, durante o depoimento.

Mas a situação está no seguinte pé. Em nota oficial, a direção da revista diz que seus profissionais foram intimidados. Também em nota, a Superintendência da PF em São Paulo nega. Em uma terceira correspondência, a procuradora Elizabeth Mitiko Kobayashi, escalada para acompanhar os depoimentos por ser representante de um órgão independente, afirmou que, no seu entendimento pessoal, não houve “qualquer ato de intimidação por parte da PF, o que teria provocado imediata reação de minha parte”.

A repercussão do episódio relativiza, porém, as versões fornecidas pelas partes. Enquanto editoriais e textos tratam as acusações de Veja como expressão da verdade absoluta, as negativas da PF e da procuradora são colocadas no condicional, desde sempre tratadas com salutar espírito crítico e distanciamento. Pergunta: Por que não proceder da mesma maneira em relação às declarações da revista? Por ora, interpretemos a reação em cadeia ao que teria sido um “ataque à liberdade de imprensa” na conta do viés corporativista tão recorrente. Corporativista, diga-se, quando, de certa forma, está em jogo a credibilidade das empresas de mídia.

A mesma solidariedade ou indignação não se nota, por exemplo, no caso da condenação do sociólogo Emir Sader, em processo movido pelo senador pefelista Jorge Bornhausen. Sader, em artigos na imprensa, havia chamado Bornhausen de “racista” por causa da famosa declaração do senador em que ele anunciava “o fim dessa raça”, ao se referir ao PT e a esquerdistas em geral.

O juiz auxiliar da 22ª Vara Criminal de São Paulo, Rodrigo César Muller Valente, condenou Sader a um ano de detenção, em regime aberto, e à perda do cargo de professor na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Cabe recurso.

Inaudita a decisão de Muller, pela tipificação do suposto crime, injúria, que teria sido cometido por Sader. Além do mais, é difícil negar que a frase do senador tenha sido racista, apesar de suas justificativas posteriores. Raras, porém, foram as manifestações de indignação diante do claro excesso do magistrado e da pena desproporcional. Em geral, deram-se em sites e blogs na internet. Nem uma linha em editoriais dos maiores jornais. Não houve sequer um colunista que tenha se comovido. Estes sempre vigilantes quando se trata não de defender um princípio, mas uma companhia. Ou um grupo delas.


MINO CARTA

A OPINIÃO PÚBLICA DERROTA A MÍDIA

Aqui está um dos significados da reeleição do presidente Lula

A liberdade de imprensa no Brasil é a das grandes empresas midiáticas deitarem e rolarem no esforço concentrado de servir o poder, ou, por outra, a si próprias. Assistimos neste momento ao lamentável espetáculo encenado pela mídia, ainda e sempre disposta a esconder o seu ódio de classe, o seu facciosismo, o seu golpismo, por trás do biombo da neutralidade.

Tenho a forte impressão de que o biombo está a ficar transparente. A eleição de Lula é a derrota da mídia. Patético é o esforço de insistir na idéia da eqüidistância e da isenção, como faz, por exemplo, o diretor de jornalismo da TV Globo, Ali Kamel. Diz ele que tal é a tradição global. Os porta-vozes de outras empresas de comunicação diriam o mesmo, impavidamente.

A tradição, de verdade, é aposta àquela pretendida, ainda que o tom da mídia, em 2002, tenha seguido pauta diferente daquele de 2006. Quando, há quatro anos, a eleição de Lula se desenhou como inevitável, o comportamento foi muito mais cauteloso, comedido, brando, do que desta vez. Pelo contrário, há um ano e meio, a mídia postou suas baterias e abriu fogo sobre Lula, o governo e o PT. Corrente para frente. E lá pelas tantas, concluído o primeiro turno, iludiu-se que a vitória de Alckmin seria possível.

Antes de chegar à encruzilhada da minha vida profissional, há quase 31 anos, para ser obrigado a partir de então a inventar meus empregos, tive patrões e sei que os homens se detestam. Não excluo exceções, mas, em geral, no plano pessoal e empresarial, um não tem o menor apreço pelo outro. Unem-se, porém, compacta e indissoluvelmente, sempre que divisam o risco comum.

Exemplos clássicos, que envolvem todos, e para não remontar aos sumérios, comecemos pela renúncia de Jânio Quadros e pela posse na Presidência do vice João Goulart. Ali começou a fermentar a idéia do golpe, já aflorada durante o governo constitucional de Getulio Vargas, e, logo após, o de Juscelino Kubitschek. A mídia implorou pela intervenção dos gendarmes, e ao se dar, enfim, a avançada grotesca dos tanques, saudaram-na como revolução, a redentora.

Depois da escravidão, o golpe de 1964 é a maior tragédia brasileira consolidada, digamos, pelo golpe dentro do golpe em dezembro de 1968. A ele os senhores da mídia não regatearam apoio em uníssono. Hoje alguns, com a extraordinária desfaçatez que os caracteriza, falam em anos de chumbo. Não para a maioria. Folha, Globo e Jornal do Brasil nunca foram censurados. O Estado foi, teve, porém, a regalia de preencher os cortes censoriais com versos de Camões. E assim, vale acentuar que uma briga entre golpistas convocou as tesouras, a mesma disputa capaz de condenar Carlos Lacerda à cassação.

A UDN de São Paulo queria mais poder do que o concedido pela ditadura. Mais esperto, Roberto Marinho entendia-se às mil maravilhas com o ministro Armando Falcão. Unidos, novamente, os donos da mídia, na oposição à campanha das Diretas Já, com a única exceção da Folha de S.Paulo. A equipe da Globo foi escorraçada pelos manifestantes durante o comício da Praça da Sé, dia 25 de janeiro de 1984.

E unidos a favor da candidatura Collor, o fio desencapado da vez, necessário, entretanto, para evitar Lula, em 1989. E unidos no apoio deslumbrado a Fernando Henrique Cardoso, para o primeiro e para o segundo mandato, aquele que resultou no maior engodo eleitoral da história da incipiente democracia brasileira. Foi quando Roberto Marinho confiou nos artigos de Miriam Leitão, a qual garantia que o real não seria desvalorizado.

Entre muitos lances da cobertura da campanha eleitoral neste ano, chamou-me atenção o espaço dado ao ex-presidente FHC na sua bem-sucedida exumação de Carlos Lacerda. Sem qualquer gênero de maravilha, ou surpresa, ou mesmo espanto, observo a atuação de inúmeros jornalistas que se prestam a fazer o jogo do patrão. Mas não é que o chamam de colega?

Leia, nesta edição, o artigo de Marcos Coimbra sobre a vitória da opinião pública contra a mídia que, como de hábito, tentou manipulá-la, desta feita em vão. De minha parte, apresso-me a homenagear os colegas que se recusaram a assinar o documento encaminhado às redações da Globo em todo o País pela chefe de produção do Jornal Nacional, Mônica Maria Barbosa. Não foram poucos, e alguns que subscreveram de imediato o texto que lhes apresentava o redator-chefe, acabaram por retirar suas assinaturas. Ora viva, nem todos são sabujos.

http://www.cartacapital.com.br/index.php?funcao=exibirSecao&id_secao=13

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