sexta-feira, outubro 13, 2006

13/10/2006 19:04

A imprensa que aceita mentir

enviada por Zé Dirceu

A reportagem de capa da Carta Capital desta semana aponta como “a mídia, em especial a Rede Globo, omitiu informações cruciais na divulgação do dossiê e contribuiu para levar a disputa (presidencial) ao segundo turno”. São inúmeras perguntas não respondidas sobre a operação, e muitos os fatos relevantes a que a emissora e também os jornais Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo tiveram acesso, mas preferiram não levar a seus leitores. Entre elas, a decisão da mídia de acobertar a ação do delegado da PF, Edmilson Pereira Bruno, que reuniu quatro repórteres, às vésperas da eleição, para divulgar as fotos do dinheiro apreendido com os petistas e atribuir o vazamento das imagens a um falso roubo. A conversa foi gravada. Na ocasião, diz a revista, Bruno ainda fez questão de ressaltar: “Tem de sair hoje à noite na tevê. Tem de sair no Jornal Nacional”. Os jornalistas – citados nominalmente na reportagem – levam as imagens às redações, onde as chefias aceitam publicá-las e, mais ainda, corroborar a falsa versão combinada com o delegado, com matérias construídas na pura e completa fantasia.

Afirma a reportagem da Carta Capital: “No texto, assinado pela repórter do jornal que recebeu as fotos de Bruno pela manhã, se diz: 'O delegado Bruno disse, ontem, em coletiva à imprensa, que o CD com as fotos havia sido furtado de sua sala, na PF – e que ele estava sendo injustamente acusado de ter repasso o material aos jornalistas.' Pergunta-se: qual é o sentido de publicar uma informação que a jornalista sabia que é evidentemente mentirosa e, no caso, ainda ajudava o policial a tentar enganhar a própria imprensa?”

No Estadão, dá-se o mesmo. “O Estado de S.Paulo publica a mesma foto, das notas em posição de sentido. E com um texto, assinado por Fausto Macedo e Paulo Baraldi, ainda mais incrível, também para dizer o mínimo. O texto é praticamente uma diatribe contra o PT e em defesa de José Serra. (...) É também uma espécie de defesa do delegado Bruno, em favor do qual são ditas algumas mentiras.”

Há outras questões levantadas pela Carta Capital. Por exemplo: por que a Rede Globo produziu e editou uma reportagem sobre o empresário Abel Pereira, ligado a Barjas Negri, secretário de Serra no Ministério da Saúde e também ex-titular da pasta, mas optou por não levá-la ao ar?

Ou, no primeiro lance dessa operação, no dia 15 de setembro, quem avisou as equipes de tevê da campanha de Alckmin e de Serra, as primeiras, seguidas da perua da Rede Globo, a chegar ao prédio da PF, em São Paulo, onde estavam detidos Valdebran Padilha e Gedimar Passos? Segundo a revista, Luiz Gonzales, um dos sócios da GW, produtora de marketing político, a serviço da campanha tucana, avisou à Globo. Mas quem avisou a ele? Fontes informaram à Carta Capital que a GW chegou à PF antes mesmo dos presos.

Também sobre o “modus operandi” do procurador Mário Lúcio Avelar, outro personagem questionado na reportagem, a imprensa se faz de morta (se é que não está mesmo). Certa está Marilena Chauí que, em entrevista recente, declarou-se de prontidão para qualquer ataque bárbaro dos meios de comunicação. “Eu estou de armadura e lança em punho, porque estou esperando todas essas barbaridades”. Conforme link.

Trecho da reportagem de Carta Capital está no link, e a íntegra, nas bancas.

enviada por Zé Dirceu

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