O dossiê do dossiê (III): A reviravolta
Em novo depoimento, Gedimar Passos atira no pé... de Edmilson Bruno, o delegado das fotos. Segundo o ex-PF, Edmilson teria forçado a acusação de que Freud Godoy participava da compra do dossiê. Ao mesmo tempo, anuncia-se um depósito suspeito na conta do assessor.
Flávio Aguiar
Transcrevo nova carta de meu amigo Saul Leblon, da Moóca:
“Caro Flávio
Em carta anterior, eu disse que “tinha coisa” na presença de Gedimar Passos, ex-PF, na cena do crime (o hotel Ibis em S. Paulo, onde os petistas aqualoucos foram surpeendidos com o dinheiro para a compra do dossiê Vedoin/Serra/Barjas Negri).
Gedimar Passos tinha apresentado a versão de que o mandante de sua presença lá seria Freud Godoy (errando-lhe o nome), assessor do Palácio do Planalto. As manchetes e as fotos nos jornais foram espetaculares.
Freud declarou-se inocente. Telefonou ao Presidente da República e disse que por causa dele, Freud, Lula podia dormir tranqüilo.
Com o passar do tempo, informações vindas da PF diziam que nada havia sido encontrado contra o assessor, embora ele continuasse no rol das investigações, o que é normal, até o seu fim. A contragosto, os jornais conservadores noticiaram discretamente em páginas internas, sem manchetes ou sequer chamadas na capa, a notícia. Mas sempre que puderam, puseram a ênfase na segunda parte: Freud continua sendo investigado.
Agora o caso sofreu um abalo sísmico, registrado pela TV nos noticiários, mas novamente com discrição insatisfeita pela imprensa escrita: Gedimar Passos, em novo depoimento, diz que foi o delegado Edmilson Bruno, o homem da divulgação ilícita das fotos do dinheiro apreendido, quem o induziu, durante interrogatório, a apontar o nome de Freud. Na imprensa escrita essa informação veio, no dia 11/10, sempre contrabalançada pela de que a CPI da venda superfaturada de ambulâncias (vulgarmente denominada dos sanguessugas) vai investigar um depósito de R$ 396 mil na conta de Freud, ao que parece feito por Naji Nahas). No Estadão esse contrabalanço foi tal que a informação sobre o depósito foi parar na capa do jornal, em chamada central. No interior, a menção a que a PF não tem indícios contra Freud mereceu 6 linhas no fim da matéria sobre o depósito, ainda que ela venha encimada pela declaração do deputado Fernando Gabeira de que investigá-lo “não significa que Freud é culpado”. Além disso, só outras três linhas no comentário de Dora Kramer, assim mesmo, como parte de uma “Babel” de versões para confundir os eleitores.
Houve, deve-se registrar, jornalistas (Elio Gaspari e Gustavo Ioschpe, na Folha), que pediram desculpas a Freud por terem abrigado a primeira versão que o incriminava.
A nova declaração de Gedimar remete a uma rede de interpretações. Confirmando-se a certeza da inocência de Freud no episódio, seja qual for o resultado das eleições, isso vai terminar em processo por calúnia, difamação e outros substantivos igualmente pesados. Ele poderia estar tentando se proteger. Depois dos episódios das fotos, o delegado Edmilson, que disse, desdisse, desmentiu o dito, desmentiu o desmentido e depois confirmou tudo, que ele mesmo entregara as fotos, perdeu toda a credibilidade. Portanto, se é necessário desovar a culpa em alguém, Edmilson cavou a própria cova. Além disso, a versão agora apresentada por Gedimar aponta para um grave crime cometido pelo interrogador, que tem aura de chantagem: prometeu a liberdade caso a denúncia fosse feita. E confirmaria a frase atribuída ao delegado, que jornalistas teriam gravado (mas que os jornais nem confirmam nem desmentem, ou seja, non solo é vera, como debe essere bene registrata), sobre f... o PT e o governo. A versão de que Gedimar estaria tentando proteger Lorenzetti pode até ser verdadeira, mas ela não é suficiente para explicar o episódio: é necessário saber por que entre 180 milhões de brasileiros ele escolheu um para apontar o dedo: Freud.
De tudo isso, Flávio, pode-se concluir que:
1. a presença de Gedimar na cena do crime é fundamental para o esclarecimento de tudo, bem como de que jogo ele estava fazendo lá: era jogo duplo? Não era? Era uma implantação? Era aquilo mesmo: avaliar o conteúdo do tal de dossiê?
2. Se Freud está ou não implicado, isso é uma coisa, que até agora não tem foro de verdade, não só pela presunção de inocência, mas porque repetidas declarações o inocentam. Mas que houve um jogo para plantar seu nome no caso, isso houve.
3. A terceira conclusão, Flávio, é que o assunto vai longe, vai para depois das eleições.
4. A quarta conclusão, amigo, é que tudo quanto foi feito até agora não é suficiente para implodir a candidatura de Lula, conforme as mais recentes pesquisas de intenção de voto vem demonstrando. A raiva e a frustração dos arautos das classes dirigentes que já subiu pelas paredes, vai agora arranhar o reboco com as unhas. Virão mais marteladas nos dedos de quem defende a candidatura de Lula e o frenesi pela busca de novas acusações vai aumentar. Se a história recente do nosso partido (porque assim me considero, embora nunca tenha sido filiado) permitisse que nós dormíssemos tranqüilos, poderíamos começar a rir antecipadamente. No momento, é melhor sorrirmos para dentro, e manter a mira no inimigo, já que na mira dele seguramente estamos. Um fraterno abraço, do amigo Leblon.”
Flávio Aguiar é editor-chefe da Carta Maior.
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