segunda-feira, outubro 16, 2006

O Globo - Blog da Tereza Cruvinel - 16/10/2006 - 0:46

O incrível delegado Bruno


Muitos me pediram um comentário sobre a matéria de Carta Capital a respeito do vazamento das fotos da dinheirama do dossiê pelo delegado Bruno, num acerto com jornalistas. Uma excelente reportagem de Raimundo Pereira, grande repórter.

Estes colegas, a meu ver, vivem uma escolha de Sofia. Ganharam de bandeja a notícia que todos procuravam nos últimos dias. E num encontro coletivo entre concorrentes, o que tornou o material ainda mais importante. Quem o desprezasse seria furado. Viram-se também diante de um dos offs mais esquisitos da historia do jornalismo. (Grifo meu: Existe sigilo em entrevista coletiva? Não. Então, por que não publicam o áudio da conversa com o delegado? Porque não há interesse que o público fique sabendo.) O sujeito dizia que se apropriou do material, deixava claro que tinha interesse político em sua divulgação, com o claro propósito de influir na eleição que ocorreria dentro de algumas horas. Mais ainda, informa-lhes que vai mentir, lavrar um boletim de ocorrência criminoso, falso, dizendo que foi roubado.

Que podiam fazer os jornalistas? A meu ver, nenhum jornalista do mundo diria: "estou fora". Todos pegariam o material e iriam discutir com suas chefias o que fazer, como publicar, como tratar o off. O resto, não foi responsabilidade deles, mas de seus chefes, editores etc. As matérias que despistam a identidade do vazador não precisavam ser feitas. Este expediente serve para desmoralizar o off, um instrumento importante do jornalismo, na defesa da informação de utilidade pública. Aqui entra o conflito: as imagens do dinheiro eram de interesse público? Eram, os eleitores tinham direito a conhecê-las. Havia interesses particulares, politico-eleitorais, em jogo? Também havia. Se os veículos optassem por jogar fora o CD do delegado, estariam sendo éticos? Não estariam também omitindo informação de interesse público? (Grifo meu: Por que os jornalistas que sabiam que o delegado havia mentido, omitiram o fato do público, mesmo sem citar a fonte? Porque havia interesses.) Não estou aqui para julgar os jornalistas e os editores mas acho que este episódio cobra uma boa reflexão. (Grifo meu: Quem testificou, no momento, que as fotos que foram entregues pelo delegado para a imprensa, eram, realmente, do dinheiro apreendido? Ninguém. E mesmo assim, sem qualquer investigação, publicaram as fotos ? Sim. Isso é normal? Não. Só quando já se sabe de tudo, previamente, e há interesses.)

Mas vamos ao incrível delegado Bruno, cuja atuação é para lá de suspeita. Se estava ressentido por ter sido afastado do caso, como disse depois, sua melhor arma era a denúncia. (Grifo meu: O delegado disse que entregou as fotos para a imprensa porque havia sido retirado das investigações. A investigação do dossiê corre paralela às sanguessugas, que sempre foram investigadas pela PF de Cuiabá, e o delegado só entrou na história porque a PF de Cuiabá precisou que fosse efetuada a prisão do pessoal no Ibis, em São Paulo, e ele estava de plantão no dia. Após a conclusão da diligência, a pedido da PF de Cuiabá, a investigação continuou em Cuiabá.) Ele já havia dado uma entrevista à Folha e nela disse que seu afastamento era natural, afinal, estava apenas de plantão no dia das prisões. Por que mesmo os aloprados do PT ficaram 3 dias no hotel com o dinheiro e só foram presos no dia do plantão dele? Raimundo, na matéria, enumera todas as transgressões que Bruno cometeu neste processo: mentiu para poder fazer as fotos, mentiu de novo ao lavrar o boletim de ocorrência dizendo que o CD foi roubado. A historia do dossiê tem que ser esclarecida, a origem do dinheiro e tudo mais, mas também as estripulias do delegado Bruno. (Grifo meu: Existe no código penal algum artigo que tipifique como ilegal a compra de documentos e punição para pessoas pilhadas com R$ 1,7 milhão de provedor desconhecido? Não. Então, porque não falam nada sobre isso? Porque não há interesse que o público fique sabendo. Se a compra do tal dossiê não foi consumada, onde está o crime? Não existe crime. Então, porque não falam nada sobre isso? Porque não há interesse que o público fique sabendo.)

Há informações na PF sobre a sessão de tortura psicológica que ele teria feito com Gedimar e Valdebran para que acusassem Freud Godoy. Não sei se procedem. Jânio de Freitas, hoje na Folha de São Paulo, também levanta aspectos estranhos desta história. No Pt, há convicção de que os aloprados foram atraídos para uma armadilha. Delirante, dizem todos, e parece mesmo delírio. Como se Bush tivesse mandado explodir as torres gêmeas para desencadear sua guerra ao Islã, alguém escreveu neste domingo. Vedoim teria oferecido o dossiê dizendo que recusou 10 milhões de Abel Pereira mas, preferia ter proteção jurídica do Governo Lula, certa que parecia a eleição de Lula no primeiro turno. Ter-lhes-ia dito: Vão ao Hotel tal e confirmem se o Abel não está hospedado lá. E estava mesmo. O olho cresceu. Estavam em Cuiabá, para a conversa com Vedoin, o Expedido, do Banco do Brasil, e o Bargas. Só uma semana depois, na hora de gravar entrevista, Vedoiin a teria condicionado ao pagamento de dois milhões de reais. Teriam que ser entregues em SP ao um enviado seu, com o dossiê em mãos, mas antes mandaria Valdebran Padilha, um petista, para confirmar a existência do dinheiro. Nesta visão conspiratória, Vedoin vendeu a Abel a operação "petista com a boca na botija". O delegado Bruno, em seu plantão, seria peça da engrenagem. O dossiê não seria fajuto. Vedoin teria mostrado extratos bancários, mas ao mandar seu parente para o aeroporto, já sabendo que seria preso, colocou no envelope apenas as fotografias já conhecidas de Serra entregando ambulâncias tendo ao lado sanguessugas - o que nada prova contra ele - e um CD, com as mesmas imagens. (Grifo meu: Quem testificou que o conteúdo do tal dossiê é falso ou verdadeiro? Ninguém. Então, por que não falam do tal dossiê com a mesma intensidade que mostram o dinheiro? Porque não existe interesse que o público fique sabendo.) Segurou os extratos que teriam interessando tanto aos aloprados. Muito fantástico para ser verdade, e ainda que fosse, não suprimiria o fato de que os petistas tentaram comprar um dossiê contra os adversários, para tentar influir na eleição paulista. (Grifo meu: Para configurar crime eleitoral, o dinheiro não teria que ter saído do bolso de algum político ou partido político? É o caso? Não. Então, porque não falam nada sobre isso? Porque não há interesse que o público fique sabendo.) Mas que os pontos obscuros precisam ser investigados também, isso precisam. O que mesmo estava fazendo Abel Pereira em Cuiabá?

Grifo meu: Por que em nenhum momento no texto, ela diz que o delegado disse para os jornalistas que as imagens do dinheiro tinham que ser mostradas no Jornal Nacional ? Acho que ela está achando que somos idiotas como ela gostaria que fôssemos.

http://oglobo.globo.com/blogs/tereza/

Grifo meu: Que cheiro é esse que estamos sentindo no ar ultimamente? Cheiro de golpe.

Grifo meu: O texto acima, claramente, tenta isentar as organizações Globo do crime de conivência, cumplicidade e, também, vergonha (não disse nada sobre a queda do avião da Gol, que tinha ocorrido horas antes do Jornal Nacional e todos os demais veículos cobriram), e acredito que a Cruvinel tenha sido escolhida pela cúpula das organizações Globo, como boi de piranha, para escrever o texto acima, devido ao fato dela, ainda, ter credibilidade perante boa parte dos leitores, numa tentativa de amenizar a indignação de todos nós. As organizações Globo têm recebido, diariamente, milhões de e-mails de pessoas indignadas.

No seu texto acima, a Cruvinel, não sei intencionalmente ou por desconhecer o assunto, ela não esclareceu algumas questões que coloquei como "grifos meus", em letras vermelhas.

Clique nos links abaixo e leia as matérias de jornalistas consagrados, sobre o mesmo assunto:

O 1º GOLPE DE ESTADO JÁ HOUVE. E O 2º? - Paulo Hebrique Amorim

Dossiê - Abel e os tucanos

Escândalo: Revista revela conluio da imprensa para prejudicar Lula e o PT - Raimundo Rodrigues Pereira - Revista Carta Capital

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