domingo, outubro 15, 2006

06/10/2006

Governo quer cortar despesas

O programa do candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, também está centrado na remoção dos desequilíbrios fiscais e na força da idéia do déficit nominal zero. O diagnóstico dos tucanos não é muito diferente do que o PT faz: é preciso colocar um freio urgente nas despesas correntes do setor público, pois um país com uma carga tributária próxima a 40% do PIB - necessária para financiar os gastos -, uma dívida interna líquida de cerca de 50% do PIB e juros reais elevadíssimos está condenado a crescer de forma modesta.

Para enfrentar um corte substancial das despesas, algo como 3% do PIB, segundo as contas de economistas ligados a Alckmin, há um nome: Yoshiaki Nakano, professor da FGV, ex- secretário de Fazenda de SP e secretário de Política Econômica durante a gestão de Bresser Pereira no Ministério da Fazenda, no final dos anos 80. Durante a gestão de Mário Covas no governo de São Paulo, lembra um tucano, Nakano demitiu devagar e sem qualquer alarde cerca de 120 mil funcionários públicos. Seria um nome ideal para comandar o Ministério do Planejamento e de lá fazer uma reforma do Estado, reduzindo programas e extinguindo ministérios, caso Alckmin vença no segundo turno.

Ambos os programas, portanto, coincidem no diagnóstico de que há um problema fiscal que precisa ser superado e quanto maior for o esforço do corte de gastos públicos, mais acelerado poderá ser o ritmo da redução da taxa de juros Selic, esta sim a grande anomalia da economia brasileira; e quanto menor a diferença entre os juros internos e os externos, menor será a tendência de valorização da taxa de câmbio.

Diferenças começam a surgir a partir daí, seja entre os dois possíveis governos, seja intra forças que os apóiam. O PT, por exemplo, não pretende colocar a reforma da previdência social no topo da sua lista de prioridades. Os economistas do PSDB, ao contrário, avaliam que essa é a principal raiz dos problemas fiscais. Assessores do governo Lula acham que se reeleito, o presidente deveria passar os três primeiros anos do seu segundo mandato sem conceder qualquer aumento real ao salário mínimo, para colocar um freio nas despesas da seguridade social. Proposta que arrepia os petistas.

Os grandes dilemas macroeconômicos se encerrariam com uma nova equação fiscal de longo prazo, e as atenções do governo, seja Lula ou Alckmin, passariam a ser em questões mais microeconômicas. Estas envolveriam a reforma tributária, uma agenda de inovação, melhoria substancial da educação, aumento dos investimentos públicos e privados, entre tantos outros temas que se descortinam e que precisam ser enfrentados para aumentar a produtividade da economia. Com inflação baixa e solidez externa, o momento é bastante oportuno para desobstruir os caminhos do crescimento.

Claudia Safatle é diretora adjunta de redação e escreve às sextas-feiras

http://www.valoronline.com.br/valoreconomico/285/primeirocaderno/brasil/Dois+candidatos+e+um+programa,safatle,,63,3936604.html

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