A mídia e o poder
Mino Carta
Sempre e sempre, a mídia nativa serviu o poder, salvo raras e honrosas exceções. Faz sentido, ela é uma das faces do próprio. Nunca, no entanto, a não ser há mais de quatro décadas, na preparação do golpe de 1964, e na campanha de 1989 a favor do caçador de marajás, a mídia nativa assumiu de forma tão desbragada o papel de partido político. Já disse neste espaço, e volto a repetir: só falta convocar a Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade.
A desfaçatez, a hipocrisia, a má fé estão a ser exibidas em triunfo. A reportagem de capa da Veja desta semana, sobre os pretensos esforços do ministro Marcio Thomaz Bastos para “blindar” Lula no caso dossiê, é uma aula de jornalismo às avessas. Aliás, este verbo, blindar, deveria ser banido das redações, como inúmeros outros vocábulos esbanjados ao longo de textos penosamente primários, todos eles representativos do lugar comum. A mídia nativa venera o lugar comum.
Observe-se que a reportagem da Veja justifica a reunião urgente das lideranças tucanas, prontas a uma investigação sobre o assunto, embora ali não haja uma única escassa prova de opiniões apresentadas como sacrossanta verdade.
Quem sabe jornalistas e políticos do PSDB estejam em perfeita sintonia. Assim como o tucanato conta com solertes informantes dentro da Polícia Federal. De outra maneira, como explicar que as equipes de Alckmin e Serra tenham chegado ao prédio da PF antes dos jornalistas, dia 15 de setembro, quando foram presos Valdebran Padilha e Gedimar Passos? Não se trata de tomar o partido de Lula, ou de minimizar a gravidade do dossiê, trapalhada de puríssima marca petista. Mas, cadê os paladinos de verdade, os perdigueiros da informação isenta?
Blog do Mino Carta, Diretor e fundador da Revista Carta Capital
<< Home