domingo, outubro 15, 2006

15/10/2006

PRIVATIZAÇÃO DA CTEEP

Ministério Público investiga venda de transmissora de energia feita por Alckmin. Mas a imprensa não se interessa pelo caso.

As privatizações ganham força no noticiário de hoje sobre a disputa eleitoral. Alckmin, de um lado, esforçando-se para desmentir o que já disse um de seus principais assessores econômicos, Luiz Roberto Mendonça de Barros, aquele que era presidente do BNDES na privatização do setor de telecomunicações, que hoje, graças ao neologismo criado pelo jornalista Elio Gaspari, virou sinônimo de privataria. Lula, por sua vez, reforça a imagem de que o PSDB “é uma fábrica de privatizar”. Nos mandatos de Mário Covas e Geraldo Alckmin, São Paulo vendeu seis empresas do setor elétrico, uma de gás, dezoito unidades da Ceagesp, além do transporte ferroviário e de outras empresas e concessões públicas, totalizando R$ 71 bilhões.

A última privatização do governo Alckmin, da CTEEP, concretizada em julho passado, a transmissora de energia que Lula mencionou no debate da Bandeirantes, está sob investigação do Ministério Público. Apenas a Folha de S.Paulo questinou a venda. Primeiro, a partir de Luís Nassif, então um dos principais colunistas do jornal; em seguida, por uma reportagem informando sobre investigações do Ministério Público sobre o negócio.

Em resumo, a reportagem de Nassif, com o tírulo ” O mau negócio da Cteep”, apresentava os seguintes números: a CTEEP, que deu lucro de R$ 168 milhões no ano passado, foi privatizada por R$ 1,19 bilhão, com a justificativa de que o dinheiro serviria para abater a dívida da CESP. Se o abatimento da dívida se concretizar, a CESP, que deve R$ 13 bilhões, pagará R$ 161 milhões a menos nos juros. Traduzindo, argumento do governo para se desfazer da empresa desmorona com a constatação de que o resultado será um prejuízo anual de R$ 7 milhões.

Nassif não está mais na Folha, e talvez isso explique porque o assunto foi praticamente esquecido pelo jornal, com exceção da notícia de que o negócio estava sob investigação do Ministério Público.


As informações trazidas pelo ex-colunista e pela reportagem sobre as investigações seriam suficientes para render novas matérias, mas não foi isso que aconteceu. O assunto desapareceu, enquanto, nos demais, manteve-se o silêncio anterior.

A venda da CTEEP foi parar no Ministério Público, informou a Folha na única reportagem após o leilão. Por meio de uma correspondência anônima, acompanhada de comprovantes de embarque e recibos do hotel Sheraton de Bogotá, entre outros documentos, o promotor Saad Maslun ficou sabendo que o presidente da CTEEP, José Sidneu Colombo Martini, reuniu-se com diretores da Interconexión Eléctrica S.A., a estatal colombiana que venceria o leilão meses depois.

Martini viajou em companhia de Alexandre Rhinow, executivo da Rio Bravo, uma das consultorias escolhidas pelo governo Alckmin para “avaliação e modelagem da venda”. Coincidentemente, a Rio Bravo tem Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central de FHC, como sócio-fundador.

Em seu relatório, Martini escreveu que foi para Bogotá “fazer apresentações técnico-institucionais”. A justificativa é incongruente: para ter acesso às informações de empresas em processo de privatização, os interessados têm de pagar para ter acesso às informações, no chamado data room. A não ser que o apego do PSDB à venda de estatais tenha inspirado a privatização a domicílio para convencer os colombianos. Não seria necessário tanto esforço: com o lucro da empresa, em preço pago pela CTEEP será zerado em apenas três anos.

Com a exceção honrosa de Luís Nassif, no resto da imprensa impera o silêncio.

http://blog.contrapauta.com.br/2006/10/11/privatizacao-da-transmissora-de-energia-paulistaministerio-publico-tem-documentos-que-questionam-legalidade-da-venda-mas-a-imprensa-nao-se-interessa-pelo-caso/

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