quarta-feira, outubro 11, 2006

Gedimar isenta Freud Godoy de envolvimento na compra do dossiê

Publicada em 10/10/2006 às 21h54m

RMT Online / O Globo Online / O Globo / Reuters / Jornal Nacional

CUIABÁ e BRASÍLIA - O policial federal aposentado Gedimar Passos isentou nesta terça-feira o ex-assessor da Presidência Freud Godoy de envolvimento na compra do dossiê contra candidatos tucanos .

De acordo com a defesa apresentada por seus advogados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gedimar só citou o nome de Freud diante da promessa de liberdade feita pelo delegado da Polícia Federal Edmílson Bruno durante o interrogatório. Freud e Gedimar também já haviam trabalhado juntos. O delegado é o mesmo que fez as fotos do dinheiro do dossiê e as divulgou. Por isso, ele responde a inquérito e sindicância na PF.

Ainda de acordo com os advogados, Gedimar afirmou que a "autoridade policial não se conformava com a verdade, ou seja com o absoluto desconhecimento" da origem do R$ 1,7 milhão que seria usado para a compra do dossiê. Ele disse ainda que "o conteúdo do depoimento reflete muito mais as apreciações de quem perguntava do que a verdade de quem respondia". Ele declarou também só ter tido conhecimento do dinheiro quando "dois desconhecidos levaram a quantia até ele".

Na defesa, os advogados de Gedimar argumentam que ele "não é filiado e nunca foi a nenhum partido político". Gedimar foi contratado pelo ex-chefe do núcleo de informação e risco do PT Jorge Lorenzetti para trabalhar no comitê de campanha da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele deveria analisar e testar a autenticidade de documentos.

Gedimar, porém, não explicou na defesa porque não citou o nome de Lorenzetti. Seus advogados argumentaram que no primeiro depoimento ele estava "extenuado e moralmente abalado". Ele disse ainda que foi ouvido sem um advogado e sem um mandato judicial da justiça federal de São Paulo.

Advogado de Freud Godoy, Augusto de Arruda Botelho disse que seu cliente reagiu aliviado à defesa de Gedimar:

- Freud recebeu com alívio. Essa era uma questão que não havia sido respondida. A justiça está sendo feita finalmente - disse.

Na segunda-feira, em defesa apresentada ao TSE, Freud já havia negado seu envolvimento

no caso do dossiê, tendo confirmado apenas os contatos telefônicos com Gedimar.

De acordo com a PF, qualquer irregularidade que Edmílson Bruno tenha cometido será apurada e que Gedimar poderia ter retificado a declaração em relação a Freud Godoy quando foi ouvido por outro delegado, mas decidiu ficar em silêncio.

Nesta terça-feira, a justiça federal do Mato Grosso autorizou a quebra de sigilo de 650 linhas referentes a contatos telefônicos mantidos por Gedimar, Valdebran Padilha, Jorge Lorenzetti, Oswaldo Bargas, Hamilton Lacerda, Expedito Veloso e Freud Godoy, petistas acusados no caso do dossiê. Segundo a PF, o objetivo é investigar as chamadas telefônicas que eles possam ter feito entre si. De acordo com o delegado responsável pela investigação, Diógenes Curado, "a quebra foi autorizada pela Justiça, mas ainda não está com a Polícia".

Além de investigar as ligações telefônicas dos sete, a PF vai examinar informações bancárias que foram levadas a Cuiabá pelo delegado Luiz Flávio Zampronha. De acordo com ele, todos aqueles que compraram dólares no Banco Sofisa estão sendo investigados, incluindo casas de câmbio, pessoas jurídicas e pessoas físicas. A justiça federal solicitou ainda informações sobre alguns documentos apreendidos com Vedoin.

No total, a PF já solicitou a quebra do sigilo telefônico de 720 linhas. Entre elas, está a do telefone público próximo à casa de câmbio Confidence, no aeroporto de Florianópolis, em Santa Catarina. Os policiais que participam da investigação suspeitam que possa ter vindo da Confidence parte dos US$ 248 mil que seriam usados para comprar o dossiê de Vedoin.

Os policiais têm dois indícios de que isso poderia ter acontecido. Do telefone público saiu uma ligação para um dos seis investigados dos quais a PF já tem os extratos telefônicos. Ao quebrar o sigilo do telefone público, a PF quer descobrir se foram feitas outras ligações para algum dos outros envolvidos no caso daquele número. A rede de casas de câmbio Confidence, uma das maiores do país, também recebeu regularmente parte do lote de US$ 15 milhões do Banco Sofisa de onde saiu uma parcela de US$ 110 mil do dinheiro apreendido com os dois petistas, segundo a PF.

Em nota enviada ao GLOBO, a Confidence afirmou que não participou de qualquer operação ilegal: "Informamos que no período investigado pela Polícia Federal compramos dólares do Banco Sofisa S/A, assim como fazemos diariamente durante os dez anos de existência da Confidence, não apenas do Sofisa, mas também de outros bancos, para atender as vendas efetuadas no varejo para clientes da corretora. (...) Todo o procedimento, tanto de compra junto ao banco, assim como a venda para nossos clientes foi feita de maneira segura e legal, atendendo totalmente as normas estipuladas pelo Banco Central e seguindo rigidamente as normas internas de Compliance", diz a nota.

O diretor da Confidence, Valter Morais, informou que as regras do BC impedem que a corretora venda dólares em espécie em lotes maiores de R$ 10 mil.

Lorenzetti, Bargas, Lacerda e Veloso foram "políticamente expulsos"

do PT na sexta-feira passada e reconheceram ter envolvimento com o dossiê.

(Conheça os personagens do escândalo)

Dinheiro pode ter vindo do jogo do bicho

A PF e a CPI dos Sanguessugas ainda investigam a suspeita de que parte do dinheiro apreendido para a compra do dossiê possa ter vindo do jogo do bicho ou outra atividade irregular. Segundo integrantes da CPI que se reuniram com Diógenes Curado, a suspeita se baseia em dois fatos: há uma grande quantidade de dinheiro em cédulas de pequeno valor, como notas de R$ 5, R$ 10 e R$ 20. Essas cédulas não seriam novas, o que demonstra que já circularam. Outra informação considerada relevante pelos parlamentares é que o carimbo que aparece nas fitas, e que se pensava tratar-se de agências bancárias, pode, na verdade, remeter a bancas do jogo do bicho. Em um maço de notas há um carimbo com os dizeres "Caxias 118" e, em outro, "Campo Grande 119". As duas referências podem ser de locais no Rio de Janeiro.

- Há indícios de que parte dos recursos sejam provenientes do jogo do bicho principalmente por causa das fitas, que é um procedimento típico nesse tipo de atividade - disse Carlos Sampaio (PSDB-SP).

Mas a suspeita não envolve só o jogo do bicho:

- Pelo volume de recursos e notas miúdas isso pode ter vindo de casas de bingo, casas lotéricas, grandes armazéns que negociam em centros comerciais das principais cidades do centro sul e do sudeste. Talvez nunca seja encontrada a origem de parte desse dinheiro, porque certamente são recursos de origem ilícita - explica o deputado Paulo Rubem Santiago (PT-PE)

O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) também afirmou que a PF vê indícios de que parte do dinheiro possa ter como origem o jogo do bicho. Uma fonte da própria PF confirmou que na conversa com os deputados o delegado informou ser essa uma das linhas de investigação. Diógenes, porém, não se manifestou sobre o encontro com os parlamentares. Segundo a PF, foram integrantes da CPI que levaram a suspeita de uso de dinheiro do bicho na compra do dossiê. Como considerou a suspeita pertinente, a PF decidiu abrir essa linha de investigação. De acordo com Santiago, há suspeitas de que os recursos possam ter vindo de várias fontes.

Com base nas informações obtidas com a Polícia Federal, Carlos Sampaio disse acreditar que será infrutífero continuar insistindo para que o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) identifique sacadores de recursos que excederam R$ 100 mil.

- Não temos de perguntar ao Coaf sobre a origem do dinheiro. Temos de perguntar ao PT, uma vez que o dinheiro é de origem ilícita e não declarada.

Os parlamentares tiveram acesso a fotos da mala apreendida com o dinheiro e, segundo eles, é a mesma que aparece nas filmagens do hotel em poder de Hamilton Lacerda. Em depoimento à PF, Lacerda havia dito que apenas levara um laptop para Gedimar, além de boletos para recebimento de recursos contabilizados para a campanha.

http://oglobo.globo.com/pais/eleicoes2006/mat/2006/10/10/286049317.asp

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