terça-feira, outubro 10, 2006

Contrapauta (10/10/06)

Mídia omite passado de Barjas Negri

Reproduzido do Blog Contrapauta

A revista Veja faz qualquer negócio para eleger Geraldo Alckmin presidente, nem que, para isso, seja levada a imitar FHC no "esqueçam o que escrevi". A memória seletiva da revista esqueceu o que publicou quatro anos atrás sobre Barjas Negri e negócios suspeitos de seu irmão, "Jorginho". O texto traz o dono do laboratório EMS, Carlos Sanchez, dizendo que "deu um presente em dinheiro" para Jorge Negri por ele "ter aberto as portas do Ministério da Saúde" ainda na gestão de José Serra. Na época, o colunista Cláudio Humberto publicou uma nota venenosa, como de costume, dando conta que "o papel de ‘Jorginho’ já foi documentado até em gravações telefônicas". Os Negri foram vitais para a ascensão do EMS, que hoje é o segundo ou terceiro maior laboratório farmacêutico do Brasil.

O EMS, de Emílio Sanchez, seu fundador, nasceu como uma farmácia de Santo André, em 1950. Em 1964, tornou-se laboratório e, com os genéricos, viu seu faturamento multiplicar-se. A ajuda de "Jorginho" consistia em aproximar a empresa ao PSDB, então o partido do pode, e obter autorizações para a produção de genéricos antes dos demais, em um período – frise-se – que esses remédios começaram a concorrer com preço menor com os chamados "medicamentos éticos", justamente os que podem ser comprados sem receita e de maior vendagem. "No auge de seu trabalho", publicou a revista, "Jorge Negri conseguiu marcar uma audiência de Carlos Sanchez com o então ministro da Saúde José Serra, hoje candidato à sucessão de Fernando Henrique Cardoso. A festa de inauguração foi um sucesso."

Barjas Negri, atual prefeito de Piracicaba, reapareceu como um fantasma para o PSDB, por suas ligações com o empresário Abel Pereira, suspeito – e sob investigação da Polícia Federal – de ter sido beneficiado ilegalmente com dinheiro público com cheques assinados por Negri. Agora prefeito, ele se enroscou novamente com Abel Pereira, que esteve em Cuiabá para negociar, pelo PSDB, o dossiê fajuto dos Vedoin.

No debate da Bandeirantes, Lula lembrou Alckmin da existência da assombração. Não como secretário de Serra e depois ministro da Saúde, nem como prefeito, mas em outra circunstância. Barjas Negri foi secretário de Habitação de Alckmin. Saiu do cargo porque irregularidades apontadas pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado) forçou sua demissão. Como prêmio de consolação, Bagri recebeu a estrutura e dinheiro do PSDB para eleger-se prefeito. A rapinagem na Cohab gerou mais de um escândalo nos doze anos de governo do PSDB e resultou em processos por improbidade na Justiça, mas, ao final, fortaleceu-se a regra de que, no Brasil, a punição da lei varia de acordo com os "subsídios advocatícios".

O comportamento da revista Veja de simplesmente esquecer de mencionar Barjas Negri, em sua festiva edição pós-eleição, repete-se, em menor ou maior grau, em toda a mídia. No conjunto, a ideologia moralizante em voga mostra-se apenas como uma questão de conveniência. O discurso construído pelas notícias imprecisas e seletivas pretende transformar o candidato aliado da direita atrasada e corrupta como o paladino que vai nos libertar da bandalheira. Nada mais contraditório.

Empresas não têm ideologia, têm negócios.

A mídia é poderosa e têm instrumentos para nos enganar, como mostram exemplos recentes da história. Seguem dois: o da edição do debate no Jornal Nacional, às vésperas da eleição Collor x Lula; e, noutra dimensão, o da Escola Base, onde as vítimas foram pessoas comuns. O engodo que agora pretendem nos passar é a de que a corrupção é de exclusividade do PT, onde se aninham bandoleiros chefiados por Luiz Inácio Lula da Silva. Não é bem assim.

Após ler as informações que Veja esconde de seus leitores, há que se concordar, de novo, com o que disse o jornalista Mino Carta em seu blog:

A mídia brasileira é a mais facciosa do mundo.

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O laboratório campeão de genéricos… …adora pedir conselhos a "Jorginho", o polêmico irmão do ministro da Saúde

Alexandre Oltramari para a Veja, 25/05/2002

O mercado brasileiro de remédios genéricos, aqueles que fazem o mesmo efeito e têm a vantagem de ser mais baratos que os de marca, é uma promessa de potência. Desde que o Ministério da Saúde começou a autorizar sua circulação no país, em 2000, esse mercado só cresceu. Hoje, já fatura 250 milhões de dólares por ano, embora ainda responda por apenas 5% do comércio global de medicamentos. Estima-se que até 2003 a participação dos genéricos chegue a um terço do mercado e, com isso, seu faturamento salte para 1,6 bilhão de dólares. Na disputa por esse filé, já existe um campeão: o laboratório EMS, cuja sede fica em Hortolândia, no interior paulista.

Segundo dados oficiais do Ministério da Saúde, dos 574 genéricos já autorizados a circular nas farmácias brasileiras, o EMS é o fabricante de 95. Essas são as informações públicas e oficiais sobre o assunto. O que quase ninguém sabe é que nesse mercado circula um personagem polêmico. Chama-se Jorge Negri, 43 anos. Ele é irmão do atual ministro da Saúde, Barjas Negri.

Jorge Negri já teve vínculos com o laboratório EMS, o campeão nacional do pedaço. Há três anos, quando o EMS estava para inaugurar uma fábrica em Hortolândia, Jorge Negri foi genericamente acionado para atrair autoridades tucanas à festa. Nessa missão, ele levou o empresário Carlos Sanchez, dono do EMS, para encontros importantes. Em São Paulo, abriu as portas do gabinete do então governador Mário Covas e de seu vice, Geraldo Alckmin. Em Brasília, foi com Sanchez ao gabinete de seu irmão, Barjas Negri, na época secretário executivo do Ministério da Saúde. No auge de seu trabalho, Jorge Negri conseguiu marcar uma audiência de Carlos Sanchez com o então ministro da Saúde José Serra, hoje candidato à sucessão de Fernando Henrique Cardoso. A festa de inauguração foi um sucesso.

"Ele abriu as portas. Eu nunca tinha feito uma festa de vulto. Não tinha entrosamento político", conta Sanchez.

"Não fiz contrato. Foi informal. Eu dei um presente a ele na ocasião. Um presente em dinheiro. Acho que foram uns 2 000 reais."

Jorge Negri tornou-se amigo do maior empresário de genéricos do país. Nas freqüentes idas de Carlos Sanchez a Brasília, Jorge Negri acompanhou-o em algumas oportunidades. O empresário não se lembra de quantas viagens fizeram juntos. "Como é que eu vou contar quantas vezes estive com ele em Brasília? Estive uma p… de vezes. Não sei se foi uma, duas ou três!", diz. O empresário faz questão de esclarecer, no entanto, que as visitas a Brasília com o irmão do atual ministro foram sempre para tratar, especificamente, da tal festa de inauguração em Hortolândia, e não por quaisquer outros motivos genéricos – mas até hoje o empresário telefona para Jorge Negri pedindo conselhos. "Ele liga pra mim e diz assim: ‘Jorginho, você sabe como eu faço isso, como eu faço para conseguir?’. Mais nada. A gente só troca idéia por telefone. Não sou funcionário dele", conta Jorge Negri. Barjas Negri lembra-se de ter recebido o empresário, levado por seu irmão, mas também diz que foi para falar da festa de Hortolândia. "Não acredito que meu irmão faça lobby. Não tenho conhecimento disso", afirma o ministro. Na agência responsável pela aprovação de genéricos, a Anvisa, há quem acredite.

Na semana passada, VEJA teve acesso ao conteúdo de uma fita cassete em que se ouve um diálogo. De um lado da linha está o diretor da Anvisa, Luiz Felipe Moreira Lima. A conversa ocorreu há cerca de dez dias. Existem trechos curiosos. Num deles, perguntado se Jorge Negri faz lobby para laboratórios, Moreira Lima responde o seguinte: "É. Disso não há dúvida. Ele vai lá, ciceroneia. Mas o que ele faz na hora que entra na sala e vai conversar, isso eu não sei".

Em outro trecho, ao ser questionado sobre se o irmão do ministro seria sócio do laboratório EMS, o diretor da Anvisa é cuidadoso.

"Não, atuar assim como dono, isso eu não sei, não. "E atuar como lobista? "Isso é óbvio. Ele vai lá na Vigilância (refere-se à Anvisa) para reunião com empresário. Isso faz parte do trabalho dele, entendeu? É um trabalho de intermediação, né?"

Que Jorge Negri gosta genericamente de intermediar, não há dúvida. Em São Paulo, ele já se apresentou como assessor do Ministério da Educação. Tem até cartão de visita, com a função impressa: "assessor do ministro". Consultado, o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, que se encontrava em Washington, advertiu: Jorge Negri não trabalha nem nunca trabalhou para ele.

http://www.informante.net/resources.php?catID=2&pergunta=3523#Cena_1

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