segunda-feira, outubro 02, 2006

A quem interessa o dossiê dos Vedoin?

“A operação abafa dos tucanos segue em marcha”, denuncia o deputado estadual pelo PMDB, Romeu Tuma, questionando o conteúdo do dossiê

“Não é à toa que o PSDB abomina referências ao conteúdo da papelada apreendida pela Polícia Federal. O calhamaço envolve gente graúda, como o secretário-executivo e depois ministro da Saúde de FHC, Barjas Negri”, denuncia o deputado Romeu Tuma no artigo cuja íntegra publicamos abaixo. E assevera: “Braço direito de Serra, Negri é amigo íntimo do empreiteiro Abel Pereira, apontado pelos Vedoin como a porta de entrada para o início das falcatruas no Palácio do Planalto”

ROMEU TUMA*

José Serra é o principal disseminador da “Lei de Ricupero”, que foi cunhada pelo ex-ministro de mesmo nome no final do governo Itamar Franco: “o que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde”. Entre as preferidas dos tucanos, também podemos separar aquela máxima lançada pelo ex-jogador Gérson décadas atrás, que dizia que era bom levar vantagem em tudo. Só isso pode explicar a desfaçatez dos tucanos, sobretudo os mais graduados, que aparecem na TV cobrando soluções contra quem queria comprar o dossiê da família Vedoin sobre a máfia das ambulâncias.

O principal problema dos petistas gira em torno da origem dos recursos que foram utilizados para a frustrada compra dos documentos. Quanto ao uso do material, existe muito barulho, mas poucas certezas até o momento. Ninguém conseguiu provar que as acusações seriam utilizadas contra José Serra. Também não ficou claro se os petistas queriam agir rapidamente para evitar que o dossiê fosse parar nas mãos dos inimigos. Afinal, até onde se sabe, a munição que poderia ser utilizada em um lado do front causaria estragos iguais, senão maiores, do outro lado do campo de batalha.

Não é à toa que o PSDB abomina referências ao conteúdo da papelada apreendida pela Polícia Federal. O calhamaço envolve gente graúda, como o secretário-executivo e depois ministro da Saúde de FHC, Barjas Negri. Braço direito de Serra, Negri é amigo íntimo do empreiteiro Abel Pereira, apontado pelos Vedoin como a porta de entrada para o início das falcatruas no Palácio do Planalto. O empresário Pereira transitava livremente pelos corredores da gestão tucana, mas pouca gente tem se preocupado em saber como ele foi parar em Brasília. Dizem até que nos últimos dias o senhor Abel Pereira esteve na cidade atrás do tal dossiê. Será que ele iria esconder o documento?

Outro personagem curioso nessa crise é Geraldo Alckmin. Do jeito que fala, o ex-governador paulista nem parece ser a mesma pessoa que entregou as cadeias aos bandidos do PCC nos últimos 12 anos. Serra engrossa o coro. Não comenta, e sequer é questionado sobre a investigação da Polícia Federal em torno da Máfia dos Vampiros, quadrilha especializada na venda de produtos hemoderivados superfaturados na gestão tucana. A investigação indicava que Serra sabia de tudo o que acontecia. Na última hora, porém, seu nome saiu do relatório e foi trocado pelos petistas Humberto Costa e Delúbio Soares. A uma semana da eleição.

Estranhamente, ninguém se lembra que Serra montou um “SNI” paralelo no Ministério da Saúde, dirigido por Barjas Negri e alguns arapongas, que conseguiu destruir a candidatura de Roseana Sarney pelo PFL em 2002, quando se “descobriu” um milhão de reais no cofre da empresa de seu marido no Maranhão. Ao mesmo tempo, eles foram incapazes de desvendar a máfia dos sanguessugas e dos Vampiros, que movimentava o andar abaixo da sala do então ministro. Afinal, foi incompetência ou má fé?

A operação abafa dos tucanos segue em marcha. Não se vê qualquer menção sobre seus projetos para o país ou para os estados. Não se discute educação, saúde, saneamento básico ou segurança pública. Alguém se lembra do PCC? Ou do desvio de verbas públicas da Nossa Caixa para fazer publicidade nas revistas dos amigos de Alckmin? Não há uma linha sobre esses assuntos, embora haja espaço de sobra para estampar manchetes sobre um dossiê que ninguém viu, que não chegou a ser utilizado, e sobre o qual pairam suspeitas a respeito da autenticidade. Mas o modus operandi do tucanato não falha nunca. Doa a quem doer.

* Romeu Tuma é delegado de Classe Especial da Polícia Civil, deputado estadual (PMDB), ex-presidente e atual integrante da Comissão de Segurança Pública, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos do Consumidor e Corregedor da Assembléia Legislativa de SP

http://www.horadopovo.com.br/pag5a.htm

/body>