O dossiê do dossiê Vedoin/Serra/Barjas
02/10/2006Seguimos os rastros de um dossiê, e dos crimes cometidos. À irresponsabilidade dos petistas envolvidos, soma-se o crime acobertado pela imprensa cúmplice.
Flávio Aguiar
Meu implacável amigo Saul Leblon traçou o seguinte roteiro:
“1. Na sexta-feira, 15 de setembro, data marcada pelos Vedoins para entrega do dossiê Serra/Sanguessua a um grupo de petistas, num hotel em SP, o delegado de plantão na PF na capital paulista era Edmilson Pereira Bruno
2. O delegado prendeu os petistas em flagrante no hotel Ibis.
3. Antes mesmo que os presos fossem conduzidos à sede da PF, em SP, uma equipe de TV da produção do programa do candidato Geraldo Alckmin já estava a postos no local, para filmar a chegada dos detidos e usar as imagens no horário eleitoral do tucano. A equipe de Alckmin demonstrou agilidade superior a de qualquer órgão da grande imprensa, no principal centro jornalístico do país.
4. No dia 18, três dias depois desses acontecimentos, o delegado Bruno foi afastado do caso após declarar que o suposto dossiê Serra/Sanguessuga continha mais de duas mil folhas e implicava todos os partidos. Na verdade, o que tinha mais de duas mil folhas era o inquérito que investigava a ação dos sanguessugas em Cuiabá.
5. Dez dias depois, na quinta-feira, dia 28, o mesmo delegado Bruno invade
uma sessão de perícia na qual dois técnicos da PF fotografavam o dinheiro
supostamente utilizado para comprar o dossiê Serra/Sanguessua.
6.O delegado Bruno alega aos peritos que havia sido reconduzido ao caso. Enquanto eles realizavam seu trabalho, o delegado sacou uma máquina digital e fez 23 fotos do dinheiro
7. Nos dias anteriores, à medida em que se aproximava a data do pleito e a vitória de Lula no primeiro turno mostrava-se cada vez mais provável, o candidato Alckmin e todo o PSDB, bem como seus ventríloquos na mídia, elevaram o tom das cobranças. A artilharia tucano-pefelê-midiática, centrava fogo em duas cobranças: a liberação das fotos do dinheiro pela PF e a presença de Lula no debate da Globo, marcado para o dia 28, quinta-feira, à noite.
8. Lula, na última hora, decidiu não ir ao debate prevendo um "massacre orquestrado" da oposição contra o seu governo.
9. O Presidente escapou do massacre, que de fato ocorreu, e teve ampla repercussão no JN e nos diários. Mas não escapou das fotos.
10. Na sexta-feira, dia 29, pela manhã, o delegado Bruno pessoalmente entregou cópias em CDs das fotos que havia feito a três jornalistas em frente do prédio da PF, em SP. Sequer marcou um encontro em local mais discreto. Segundo o jornalista Bob Fernandes do site Terra Magazine, teria explicado assim seu gesto aos repórteres: "Quero f... com o Lula e o PT".
11. No mesmo dia, quando as fotos já circulavam na Internet -- divulgadas pela Agência Estado-- o delegado procurou superiores e informou: "Estou desesperado. Pegaram uma cópia das fotos que eu havia feito".
12. Pouco depois, em entrevista à mesma Agência Estado que havia distribuído as fotos e sabia sua origem, o delegado Bruno afirmou: "Estão veiculando que eu cedi o CD. Eu não cedi este CD. Eu não sei se é para me prejudicar ou não. Não sei quem foi o autor do crime, mas não fui eu que distribuí o CD". O delegado afirmou ainda nessa entrevista, divulgada amplamente por um veículo que sabia de antemão a versão verdadeira, que as fotos haviam sumido do seu arquivo pessoal.
13.No sábado, dia 30, as fotos dominaram o noticiário das TVs e as primeiras páginas de todos os jornais. No Globo, a foto ocupou mais de metade da pág. frontal. A Folha foi além e optou por uma composição grotesca. Sob a pilha de dinheiro colocou uma foto de Lula encapuzado, enquanto vestia um casaco. Uma mão apertada sobre o seu ombro sugeria um caso de detenção. Um truque de composição fotográfica, reduziu assim o Presidente e induzia os leitores a enxergarem-no como um marginal preso em flagrante, a 48 horas do pleito presidencial.
14. Todos os jornais publicaram as imagens do dinheiro sem indentificar a origem das fotos. Nenhum informou as palavras ditas pelo ofertante –ainda que sua identidade fosse mantida em sigilo: "quero fu.. com Lula e com o PT".
15. No domingo, finalmente, os jornais traziam uma entrevista do delegado Bruno. Nela , o policial admite que fez e distribuiu as fotos—o que antes havia negado peremptoriamente e os jornais – embora sabendo que era uma mentira – publicaram e atestaram a verdade. O delegado, porém, insiste, desta vez, que eu gesto não teve motivação política e nega qualquer ligação com a campanha tucana. Os jornais de novo publicam suas declarações, sem contextualizá-las.
17. No mesmo domingo, dia do pleito, os jornais afirmam que o desgaste desse episódio reduziu dramaticamente a vantagem anterior de Lula nas pesquisas de intenção de voto, referentes ao primeiro turno. Segundo as novas enquetes, mesmo no segundo turno, a reeleição do Presidente agora tornara-se incerta.
18. Tudo fica como dantes no quartel do Abrantes. A imprensa continua a acobertar e a ser cúmplice do crime de violação do segredo de justiça. Por quê? Porque ao invés dos eventuais crimes cometidos por petistas, desta vez os crimes a interessam, e favorecem seu candidato, Geraldo Alckmin”.
Eh, Leblon bom de bola!
Flávio Aguiar é editor-chefe da Carta Maior.
http://agenciacartamaior.uol.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3330
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