Peso da imagem de Lula ganha relevo na largada do 2º turno
03/10/2006As entrevistas coletivas do candidato à reeleição Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, e do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, do PSDB, deixaram evidentes que a imagem do presidente estará no centro da disputa presidencial.
Maurício Hashizume - Carta Maior
BRASÍLIA – Os dois candidatos que disputam à Presidência da República – o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, e Geraldo Alckmin, do PSDB – concederam coletivas de imprensa, nesta segunda-feira (2), para apresentar seus respectivos pontos de largada neste segundo turno.
De sua parte, o presidente Lula, que terminou o primeiro turno com 48,61% dos votos válidos no primeiro turno, deu início a um movimento que será decisivo – mais até do que novos nomes na coordenação de campanha parcerias e a busca de apoios recíprocos de lideranças políticas, especialmente do PMDB – neste segundo turno: a reconstrução de sua imagem, abalada por uma seqüência de desastrados episódios – os quais culminaram com o chamado Dossiê Vedoin – que enredaram correligionários petistas.
Sorridente e bem humorado, Lula enumerou aos jornalistas presentes no Palácio do Alvorada uma série de agradecimentos: ao povo brasileiro como um todo, pelo comportamento exemplar nas eleições; à Justiça Eleitoral, pela rápida apuração e por fazer valer as leis; e aos eleitores que votaram nele no último domingo. “Obviamente que qualquer candidato gostaria de vencer no primeiro turno, mas nem sempre a sabedoria popular permite que isso aconteça”, disse. “Faltou voto. Certamente não vai faltar no segundo turno. Só vai demorar um pouco mais”.
Nas respostas para as perguntas, o candidato à reeleição deu ênfase à questão da transparência. “Se o fato aconteceu, tem que ser mostrado”, afirmou, com relação ao vazamento (cada vez mais) mal explicado pelo delegado da Polícia Federal (PF), Edmílson Bruno, e publicação das polêmicas fotos do dinheiro que seria utilizado para a compra do Dossiê Vedoin, apreendido com integrantes da campanha do PT. Segundo Lula, não há político que não tenha queixas da imprensa, mas a instituição exerce um papel muito importante para a democracia. A citação do caso das fotos serviu para que o presidente voltasse a tocar justamente no assunto. “Peço que não me aconteça nada antes que eu saiba o que houve” no que ele chamou de “mistério”. “Quem arquitetou essa engenharia para atirar no próprio pé?”, emendou, ressaltando a autoridade da PF para investigar e esclarecer o caso.
“Não posso culpar o PT porque o PT é muito grande”, continuou o pleiteante à reeleição, atribuindo a atrapalhada ação a “meia dúzia de pessoas”. “Quem negocia com bandido, vira um deles”, repetiu.
O presidente também voltou a tratar da questão da ausência no debate realizado pela Rede Globo na quinta-feira (28) da semana passada. Ele declarou que não recebeu pesquisas para saber se o não comparecimento ao debate acabou mesmo influenciando na hora do voto, como muitos analistas da mídia interpretaram, mas garantiu que está disposto a enfrentar um enfrentamento “tête-à-tête” com o adversário tucano nesta etapa final.
Lula disse estar preparado para uma disputa “justa, verdadeira”, para discutir os “problemas do Brasil”. O segundo turno, definiu o presidente, é “extremamente importante”, pois “consolida o apoio da maioria” e “torna mais possível a comparação entre dois candidatos”. O atual presidente também aposta na comparação direta com Alckmin para a consolidação da sua imagem perante a sociedade.
A prioridade dos programas sociais à população pobre deve voltar com força ao centro da disputa. Lula afirmou que tanto empresários quanto trabalhadores ganharam, mas ressaltou que o seu governo “privilegia o atendimento dos mais pobres com programas sociais", citando mais uma vez os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) 2005, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), razões pelas quais o seu apoio nas regiões Norte e Nordeste segue alto. “Se eles ganham, ganha toda a sociedade. Até o rico ganha. Porque (os pobres) se tornam consumidores e compram mais produtos”, colocou.
Indiretamente, o candidato tucano - que terminou o primeiro turno com exatos 41,64% dos votos válidos - joga suas fichas justamente no desgaste da imagem de Lula. "Ultrapassamos uma barreira dura, que é a descrença. E no segundo turno, o que pesa é a rejeição. E a minha rejeição é menor", realçou na entrevista coletiva. E uma das formas mais contundentes de arranhar o prestígio do atual presidente, enquanto a PF ligada ao Ministério da Justiça não apresenta o resultados das investigações, continua sendo o caso Dossiê Vedoin. "A sociedade brasileira está esperando as respostas: de quem é o dinheiro? quem é o dono das contas? De quem é o dólar? como é que entrou no país? É óbvio que a sociedade espera, não sou eu", sublinhou. "O Lula teve sua chance e ele deixou passar”, complementou.
Em termos propositivos, o tucano repetiu expressões inodoras, insípidas e incolores como a de que o Brasil continua “andando de lado", dando enfoque principalmente na questão dos baixos índices de crescimento da economia. Como proposta, Alckmin propôs um "grande projeto nacional de desenvolvimento", com base numa agenda de reformas "que o País precisa".
Alianças
A principal vantagem de Alckmin, por enquanto, parece estar nas alianças estratégicas – especialmente nos dois principais colégios eleitorais: São Paulo e Minas Gerais, onde respectivamente os seus colegas tucanos José Serra e Aécio Neves foram eleitos no primeiro turno. "Existe um provérbio popular que na política é muito importante. Diga com quem andas e direi quem és”, destacou Alckmin na coletiva. “O Serra e o Aécio são importantíssimos. Tem um grande peso o apoio deles e de outras lideranças".
O ex-governador de São Paulo também tende a ser o principal beneficiado dos votos dos outros dois candidatos melhores colocados que saíram da caíram no primeiro turno – Heloísa Helena, do PSol, e Cristovam Buarque, do PDT. Ambos cravaram uma postura anti-Lula na etapa inicial e, com isso, acumularam votos de eleitores teoricamente mais distantes de Lula.
Lula, por sua vez, considerou “sóbria” a decisão tomada pela candidata derrotada do PSol de “abrir o voto”, ou seja, de não apoiar nenhum dos dois candidatos que estão no segundo turno. “O PT já passou por isso muitas vezes”. A direção do PDT e Cristovam não decidiram definitivamente quem apoiar, mas, ao que tudo indica, estão mais próximos da candidatura tucana. “Eleitor não espera a burocracia do partido. Pode ficar certo que os eleitores já estão se mobilizando”, comentou Lula. “Isso é saudável”.
O candidato à reeleição alçou os governadores petistas eleitos da Bahia e de Sergipe, Jaques Wagner e Marcelo Deda, e o ex-ministro e deputado campeão de votos no Ceará, Ciro Gomes, hoje no PSB, para integrar a coordenação de sua campanha. Para tentar fazer o contrapeso à dupla Serra/Aécio, Lula já ensaia acerto com Sérgio Cabral, do PMDB, que disputa o segundo turno contra a juíza Denise Frossard (PPS) depois de ter saído na dianteira nas eleições para o governo do Rio de Janeiro. A negociação deve envolver o terceiro colocado no pleito fluminense, Marcelo Crivella, do PRB, do partido do vice-presidente José Alencar. Cabral tem o apoio de Anthony Garotinho, que chegou a ser pré-candidato, mas ficou de fora das eleições para a Presidência da República representando o PMDB.
Lula deve continuar explorando as disputas estaduais tentando agregar forças do PMDB, como no caso de Cabral. O PMDB passou a ser o maior partido da Câmara dos Deputados com 89 parlamentares, saiu vitorioso no primeiro turno no pleito pelo governo em quatro estados (Espírito Santo, Amazonas, Tocantins e Mato Grosso do Sul) e participa do segundo turno em outros seis (Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro, Goiás, Rio Grande do Norte e Paraíba). Os "aliados nos estados ficam mais claros" no segundo turno, constatou Lula. "Ou é um ou é outro". A
coordenação política está decidindo sobre as "ajudas" aos candidatos a governador nos estados.
Alckmin também está de olho no PMDB e deve se aproximar da ala oposicionista da legenda, que tem como um dos principais expoentes o deputado federal reeleito Michel Temer (PMDB-SP).
Em São Paulo, a candidatura petista deve investir na intermediação da ex-prefeita Marta Suplicy, preterida na disputa com o senador Aloizio Mercadante, que acabou derrotado no primeiro turno por Serra. Marta demonstrou força nas urnas: metade dos 14 deputados federais eleitos pelo PT em São Paulo mantém ligações estreitas com ela. Marta foi a única, entre os presentes à coletiva do presidente, que não faz parte do governo federal. Acompanharam a performance de Lula o vice José Alencar, o porta-voz e secretário de imprensa André Singer, a assessora da Presidência Clara Ant, a primeira-dama Marisa Letícia, o coordenador de campanha Marco Aurélio Garcia, e os ministros Walfrido Mares Guia (Turismo), filiado ao PTB, e Sérgio Rezende (Ciência e Tecnologia), do PSB. O presidente também teve, antes da coletiva, conversa telefônica com Eduardo Braga, do PMDB, governador eleito no Amazonas.
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