FHC E SERRA UNIDOS CONTRA AÉCIO
Paulo Henrique Amorim
Júpiter se convenceu de que a raça humana se mancomunou numa conspiração diabólica e decidiu que todos os homens morreriam na inundação que ia provocar.
E uma nova raça nasceria, sob seu comando indiscutível. (*)
FHC, ou Júpiter, não tem saída: ele precisa destruir Lula.
Para evitar a comparação que o transformará numa nota de pé de pagina da História brasileira.
FHC não quer entrar para a História como a versão brasileira de Carlos Salinas de Gortari, Alberto Fujimori e Carlos Menem.
Ele quer ser único: FHC. Ou Júpiter.
E FHC não é FHC só ele. É FHC e a mídia brasileira.
Se quiser, FHC sai na mídia brasileira todo dia. Mesmo quando viaja, a mídia brasileira reproduz qualquer coisa que ele diga no exterior.
Por que será que de todos os ex-presidentes, FHC é o único que não se candidatou a mais nada?
Sarney é senador. Itamar Franco foi governador. Collor é senador.
Primeiro, porque ele corre o risco de perder uma eleição. Qualquer uma.
Segundo, porque ele já tem o púlpito.
FHC e a mídia brasileira são uma coisa só.
E como há essa terrível conspiração contra ele – da esmagadora maioria do povo brasileiro – a única saída de FHC é destruir Lula.
Para conseguir isso, ele usará a mídia -- e o PSDB.
Ele já usou o PSDB para executar a estratégia do “sangramento” – aquela que consistia em fazer Lula sangrar, levá-lo exangue à eleição, e FHC, nos braços do povo, voltaria à piscina quente do Alvorada.
FHC e a mídia foram os responsáveis pela radicalização udenista ultra-conservadora – a refundação do Clube da Lanterna -, que, por um triz, não levou ao impeachment; e, na ultima hora, impediu que a eleição se definisse no primeiro turno.
Agora, FHC não pode permitir que o PSDB aceite a derrota fragorosa – caso o Presidente Lula se reeleja com a margem que as pesquisas anunciam.
O PSDB não pode jogar o jogo da oposição civilizada.
Isso significaria curvar-se à hegemonia de Lula e do projeto político trabalhista.
Significaria admitir que, além de tudo, foi uma derrota no campo ideológico.
Aceitar a derrota, jamais.
O PSDB – e a mídia que segue FHC – tem que manter a chama acesa – a lanterna ligada – e dar “a surra” que o Senador Arthur Virgilio prometeu dar no Presidente Lula, antes de amealhar 4% dos votos para Governador no Amazonas.
Aécio Neves e José Serra, teoricamente, querem jogar o jogo da oposição civilizada.
Ambos são candidatos à Presidência. Não devem (teoricamente) querer muita confusão.
Aécio e FHC não se bicam.
Na verdade, a vitória de um é a derrota do outro.
Interessa a Serra fortalecer FHC para enfraquecer Aécio.
Serra joga o jogo do democrata com Lula.
E apunhala Aécio com a mão de FHC.
A partir deste domingo, FHC se alia a Serra.
Quando se ler “Serra”, leia-se “Serra e FHC contra Aécio”.
Quando se ler “FHC”, leia-se “FHC e Serra contra Aécio”.
Até que isso seja do interesse de FHC.
A partir deste domingo, com Serra e FHC, o PSDB de São Paulo sepulta Alckmin, e retoma o controle do partido.
Serra e FHC sempre poderão dizer: “Eu não disse que o Serra era melhor candidato ?”
O PSDB de São Paulo são três: Serra, FHC e a mídia.
Aécio é um só.
A estratégia de FHC é arriscada: pode dividir o PSDB.
Não tem importância. Se preciso for, FHC destrói o PSDB – na esperança de que isso preserve o que considera seu patrimônio político.
Se preciso for, ele deixa Serra pelo caminho.
E Serra e Aécio que se comam um ao outro.
Júpiter provocará a inundação do PSDB para recriar a humanidade – à sua feição.
Porque FHC, se puder, não vai deixar “o homem trabalhar”.
(*) Trata-se de uma simplificação do magistral poema “Lycaon”, em “Metamorphoses”, de Ovídio, Penguin Books, 2004, Inglaterra, Livro I - pág 13, tradução de David Raeburn.
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