domingo, abril 23, 2006

JORNAL O GLOBO - PF INVESTIGA ELO ENTRE VALÉRIO E SECRETÁRIO DE AÉCIO

23/04/2006

Jailton de Carvalho

BRASÍLIA. A Polícia Federal e o Ministério Público deverão aprofundar as investigações sobre as relações entre o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, o operador do caixa dois petista, e o secretário de governo de Minas Gerais, Danilo de Castro, um dos principais auxiliares do governador Aécio Neves.

Laudo recém-concluído pelo Instituto Nacional de Criminalística (INC) comprova que Castro foi avalista de um empréstimo de R$ 707 mil que a SMP&B, uma das agências de Valério, fez no Banco Rural no dia 25 de novembro de 2004. Valério está entre os principais integrantes da suposta organização criminosa denunciada pelo procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, ao Supremo Tribunal Federal (STF).

O laudo informa ainda que o empréstimo foi pago pela DNA Propaganda, outra agência de Valério, a partir de recursos recebidos da Visanet, operadora de cartão de crédito ligada ao Banco do Brasil, em setembro do ano passado.

O laudo confirma que o empréstimo da empresa de Valério foi avalizado também pelo presidente da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, deputado Mauri Torres (PSDB-MG). Neste período, a SMP&B de Valério detinha um contrato de R$ 10 milhões com a Assembléia. O contrato foi suspenso ano passado em meio ao escândalo do mensalão.

Castro e Torres deixaram de ser avalistas depois da crise

A PF chegou aos nomes de Danilo de Castro e Mauri Torres a partir da análise da movimentação financeira do valerioduto em Minas Gerais. Chamada para depor, em fevereiro deste ano, a presidente do Banco Rural, Kátia Rabelo, confirmou o empréstimo para a SMP&B avalizados por Castro e Torres. Após o depoimento, os peritos produziram o laudo informando também que parte do empréstimo foi pago pela DNA depois de receber recursos da Visanet, empresa investigada por, supostamente, repassar recursos do Banco do Brasil para o valerioduto petista.

O laudo mostra ainda que Danilo de Castro e Mauri Torres só deixaram de ser avalistas do empréstimo de Valério no dia 13 de junho do ano passado, uma semana depois da entrevista em que o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) denunciou o esquema de repasses do PT para parlamentares da base governista, o chamado mensalão, operado por Marcos Valério e o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares.

http://oglobo.globo.com/jornal/pais/246924950.asp


JORNAL O GLOBO - AVAL TERIA SIDO DADO A PEDIDO DE DEPUTADO

BRASÍLIA. Os peritos do INC afirmam que, mesmo com a saída do secretário Danilo de Castro da lista de avalistas, o Banco Rural não teve preocupação em buscar outras garantias para o pagamento do empréstimo. Procurado pelo GLOBO, Danilo de Castro disse, por meio de uma de suas assessoras, que entrou como avalista no empréstimo da SMP&B a pedido do amigo Mauri Torres, presidente da Assembléia de Minas. Procurado pelo GLOBO no fim da tarde de quinta-feira, o deputado não foi localizado.

No histórico traçado pelos peritos, a SMP&B tomou R$ 707 mil emprestados do Rural no dia 25 de novembro de 2004. A maior parte dos recursos, R$ 563.500, foi sacada na boca do caixa. Documentos do Rural informam que o dinheiro seria para “pagamentos diversos” a fornecedores, mas não revelam os nomes dos beneficiários dessas transações.

Negócio intriga os peritos

Outras circunstâncias do negócio também deixaram os peritos intrigados. No dia 13 de junho do ano passado, o Banco Rural aceitou a exclusão de Danilo de Casto e Mauri Torres da relação de avalistas. Naquele período, a SMP&B já tinha com o banco dívidas num total de R$ 32 milhões. Num outro aspecto considerado inusitado, a DNA, que não estava entre os avalistas do empréstimo, pagou a dívida da SMP&B no dia 20 de setembro do ano passado. Segundo a perícia, a DNA quitou o débito depois de receber pagamentos do Banco do Brasil por intermédio da Visanet.

Outro laudo do INC, ainda em fase de conclusão, indica que pelo menos R$ 10 milhões do Banco do Brasil, via Visanet, abasteceram o valerioduto petista. A hipótese foi levantada inicialmente pela CPI dos Correios e, depois, reforçada pelas análises do INC. Este segundo laudo deve ser encaminhado ao STF para amparar as investigações sobre o suposto mensalão do PT para parlamentares aliados. O inquérito sobre os tentáculos de Valério em Minas Gerais foi aberto no dia 15 de dezembro do ano passado. As conclusões iniciais da investigação foram enviadas ao STF e, em seguida, para o Ministério Público Federal.

Investigações devem ser aprofundadas

Mas, para policiais e procuradores, ainda é importante aprofundar as investigações sobre estes e outros negócios de Valério. Um dos advogados do empresário, Marcelo Leonardo disse que, por enquanto, o cliente não vai se manifestar sobre o assunto:

— Este caso é objeto de levantamento da PF e do Ministério Público. Vamos esperar que ele (Valério) seja chamado para, a partir daí, prestar os devidos esclarecimentos.

http://oglobo.globo.com/jornal/pais/246924951.asp

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