CÉSAR MAIA DENUNCIA “PAULICENTRISMO” DE ALCKMIN
05/10/2006 12:18hO prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia (PFL), criticou em entrevista a Paulo Henrique Amorim nesta quinta-feira, dia 05, a hegemonia da política paulista no Brasil (aguarde o áudio). Maia disse que o PSDB deveria ter feito uma escolha que não tivesse essa marca paulista.
Cesar Maia lembrou que o presidente Lula, apesar de morar em São Paulo e ter base política em São Paulo, conseguiu uma identificação com o eleitor do nordeste do país. “Nunca aconteceu em nenhuma eleição aberta no Brasil alguém ter 68%, 70% de votos em uma região”, disse Maia em relação à votação de Lula no nordeste.
Segundo Cesar Maia, quando se toma uma decisão política em relação a um Estado, é preciso se levar em conta as questões regionais. O prefeito do Rio de Janeiro comentou em seu “ex-blog” nesta quinta-feira (clique aqui para ler) que “o paulicentrismo é como se a federação brasileira fosse uma carga para São Paulo, e que nos demais Estados valesse tudo, mas não em São Paulo”.
Veja a íntegra da entrevista de Cesar Maia:
Paulo Henrique Amorim - Prefeito, o seu “ex-blog” tem hoje uma discussão que eu gostaria de tratar dela. Já conhecemos sua opinião sobre o apoio de Garotinho a Geraldo Alckmin, mas seu blog diz a certa altura: “na lógica do vale tudo pelo voto, deveria na lógica do vale tudo pelo voto, deveria fazê-lo exatamente como o fez com Garotinho. Mas aí entra uma questão que a cada dia se torna mais grave: o paulicentrismo. É como se a federação brasileira fosse uma carga para São Paulo, e que nos demais Estados valesse tudo, mas não em São Paulo. Parafraseando um presidente americano: São Paulo não tem amigos, mas interesses”. O senhor coloca na discussão um problema que estava fora da discussão. Por que o senhor fez isso?
Cesar Maia - Bem, esse é um tema que se discute já há algum tempo. Inclusive na hora da escolha do PSDB, teria que se ver uma maneira que se desenvolveria uma candidatura onde não ficasse essa marca paulista. O Lula, que também é de São Paulo, politicamente ele é de São Paulo, ele conseguiu uma identificação com o eleitor do nordeste. Aliás, como nunca aconteceu em nenhuma eleição aberta no Brasil. Alguém ter numa região do Brasil 70% dos votos, 68%, isso é uma novidade. Perigosa também porque divide o país e as pessoas de uma região não sabe por que a outra foi eleita, porque na verdade foi eleita em outra região. Mas essa carga que São Paulo digere, quer dizer.... O ministério do presidente Fernando Henrique era um ministério paulista, o próprio Lula, durante algum tempo também teve um ministério um pouco com essa cara. Então, quando se toma uma decisão em relação a um Estado de uma federação. Federação onde a União é uma abstração e os Estados e Municípios é que compõem essa federação. E não se leva em conta as questões regionais, sequer se consulta sobre se essa decisão seria uma decisão positiva. Não se olha o mata da eleição para saber onde o Alckmin esteve bem ou não esteve bem, ou que tipo de apoio ele necessita para crescer, para absorver os votos, que são votos que pelas perdas no Rio de Janeiro, que não votaram nele nem no Lula: o eleitor da Heloísa Helena e do Cristovam Buarque, que aqui no Rio teve votação maior. Ele vai e acerta esse eleitor na sua decisão. O eleitor da Heloísa Helena e do Cristovam Buarque no Rio de Janeiro são os antípodas do Garotinho. Então ele dá um tiro no pé, na medida em que ele caminha numa direção equivocada e do outro lado ele atropela os próprios parceiros do estado federado, porque eles podiam ter razões. Para eu dizer: atenção, ele é capaz de me dar o voto do evangélico no Pará, no Amazonas, não sei aonde etc. Eu preciso disso. Então vamos ver como é que você vai fazer a coreografia para que não afete a ele aqui no Estado do Rio de Janeiro. Não, fez uma coisa de forma precipitada, um político em decadência no Rio de Janeiro. Na capital mostrou agora: em Niterói e no Rio de Janeiro a Denise Frossard venceu o Sérgio Cabral. E o Alckmin venceu em quase todo o interior, com mais de 40% dos votos, com exceção da região sul, que é a região de Barra Mansa, Volta Redonda e da região dos lagos, que é a região de Cabo Frio, que é onde Lula foi melhor. Então o problema, na verdade, estava na baixada fluminense, onde o PSDB tem o maior líder da baixada fluminense, que é o Zito, que foi prefeito e foi deputado, só que não fez a campanha do Alckmin. Não tinha um papel, não tinha um cartaz, não tinha rigorosamente nada. Eles tinham que resolver primeiro por dentro deles, de que maneira que ele assumiria a campanha. Então, é uma coisa completamente equivocada, sinais para dentro são muito negativos e sinais para fora muito negativos. Eu vi hoje nos jornais e até botei no “ex-blog”, declaração do governador Jarbas Vasconcelos, a declaração do Gabeira, alguns colunistas críticos como o Josias de Souza, como o Chico Vargas. Então eu não sei o que conseguiu com isso. Não se pode imaginar que num segundo turno de eleição, em que o Alckmin vem crescendo e que tem que ser impulsionado esse crescimento dele se improvise.
Paulo Henrique Amorim - Agora, eu pergunto: isso pode ser fatal para a candidatura de Denise Frossard?
Cesar Maia - Isso muda a estratégia da candidatura. Fatal não, pode ser até o contrário. Quer dizer, afirmando uma posição de independência pode ser que puxe um voto que o Alckmin não conseguirá mais puxar. Mas a nossa estratégia era completamente diferente: era colar com Alckmin no interior, onde ele já foi muito forte na campanha eleitoral; colar o Alckmin conosco... quando eu falo de Rio e Niterói, eu falo de metade dos eleitores, não estou falando de duas cidades, estou falando de 50% dos eleitores. E nós teríamos uma equação a ser resolvida para os dois, Alckmin e.... que era a baixada fluminense. Uma equação que tinha que começar a ser resolvida a partir da própria liderança do Zito. E depois em cada um dos municípios, ver a liderança local que não está no poder que poderia se somar, tendo em vista a eleição de 2008 para prefeito. Porque assim: “80 prefeitos apóiam o Sérgio Cabral”. Mas tem do outro lado, 80 candidatos a prefeito, ou 160, que não querem que esses prefeitos permaneçam em 2008. Então acho que mais que sobra para você subir da forma que foi feita, se produziu foi desgaste.
Paulo Henrique Amorim - E eu lhe pergunto, prefeito, isso pode ter um efeito sobre o desempenho do Alckmin e do Lula no Rio de Janeiro como Estado?
Cesar Maia - Já teve, em favor do Lula e contra o Alckmin. Agora, isso pode ser revertido? É claro que pode. Eu sou eleitor do Alckmin, não tenho dúvida nenhuma, ninguém vai mudar o voto em função de uma ação desastrada. Isso pode ser revertido, mas que o primeiro impacto foi esse... Eu meço pelo tipo de informação que eu tenho, sondagens que eu mando fazer. Eu não tenho pesquisa nenhuma não, vou ter no fim de semana só. Mas eu tenho meus e-mails que recebem 500 e-mails por dia. A gente vai poder fazer a seleção, olhar os argumentos, os pontos de vistas.
Paulo Henrique Amorim - É sua pesquisa qualitativa?
Cesar Maia - A minha pesquisa por percepção daquilo que eu recebo, que chega a mim, com a experiência que a gente vai acumulando. Eu diria que o primeiro impacto foi muito negativo. Agora, pode ser revertido? Claro. Pode se explicar? Certamente. Você vê que o Lula vem hoje ao Rio de Janeiro, 15h está com o Sérgio Cabral. E o Garotinho faz uma chapa Alckmin e Cabral. Onde? No interior, onde quem ganhou foi o Alckmin. Então ele está levando o Cabral para o interior. Nós íamos com o Alckmin para o interior... na região serrana, o Alckmin teve uma votação explosiva, quarenta e tantos por cento de votação. Nós iríamos com ele para o interior e o Garotinho está pegando carona no Alckmin, ao contrário do que ele imagina, pegando carona no Alckmin e levando o Cabral atrás do Alckmin. É um desacerto completo.
Paulo Henrique Amorim - E isso, na sua opinião, provém desse mal maior que é o que o senhor chama de “paulicentrismo”?
Cesar Maia - Claro, eu queria ver se o Maluf declarasse hoje que pretende votar no Alckmin se ele faria uma reunião com o Maluf com pompas e circunstâncias. Eu não tenho dúvida, quer votar vota.
Paulo Henrique Amorim - É o que o Fernando Henrique falou hoje: “apoio não se discute”.
Cesar Maia - Claro, agora, reunião sim. Então eu vou dizer, imagine se o Fernandinho Beira-Mar quiser declarar que seu grupo vai votar no Alckmin, ele vai receber um representante do Fernandinho Beira-Mar? O PCC acha que é melhor votar no Lula, aí vão os representantes do PCC.... Eu estou fazendo um exemplo aqui por absurdo, mas para se saber qual a lógica desse tipo de... quer votar? Pelo amor de Deus, “muito obrigado”. Manda até uma carta de agradecimento. Mas nós vivemos numa sociedade da imagem. Na hora que fez a imagem com a família toda e uma imagem prazerosa, todos rindo, todos satisfeitos, essa imagem que impacta e que fica. E é isso que se fez e se produziu no Rio de Janeiro. Não sei o que vai acontecer no Amazonas, Goiás, em Minas Gerais, eu não sei. Sei que no Rio foi uma decisão desastrada para o Alckmin.
Paulo Henrique Amorim - O senhor acredita que esse quadro do segundo turno, o Lula entra derrotado e o Alckmin entra vitorioso ou começa tudo de novo?
Cesar Maia - Acho que nem uma coisa nem outra. O Lula teve 48,5% dos votos, o Alckmin teve 38% dos votos. Então você tem uma diferença aí de 10 pontos. Você tem a Heloísa Helena e o Cristovam Buarque que tiveram 9% dos votos. Então você tem uma parte do eleitor do Alckmin que é o eleitor flutuante, que pode mudar. Eu diria que desses 30%, 3% são flutuantes, que eles migraram na última hora da Heloísa Helena para ele, que ele tendia ter 35%. Você tem o eleitor do Lula que também é flutuante. Eu diria que talvez desses 44% de votos, incluindo brancos e nulos, que o Lula teve...
Paulo Henrique Amorim - 48%, 48%...
Cesar Maia - 48% de válidos. 44% de votos efetivos. E esses 44% de votos efetivos, eu diria que também pelo tipo de avaliação de governo, ele deve ter uns 4 pontos aí que são flutuantes. Então você tem de partida 40% a 35%. É uma boa partida para o Alckmin né? Uma boa partida. Só que você tem de outro lado uma massa de votos de... tirou 4 do Lula, tirou 3 do Alckmin, somou com mais ou 8 aqui, você 15% dos eleitores que vão ter que ser capturados por um outro candidato. Então você tem uma eleição que exige uma qualidade de análise, de intervenção muito grande. O que o Alckmin deveria ter feito na segunda-feira depois da eleição: pego um avião, tomado cafezinho em Fortaleza; depois pega o avião vai para Recife, toma cafezinho em Recife; depois toma cafezinho em Natal; depois toma cafezinho em João Pessoa; depois quem sabe dá um pulo e conversa com o governador Aécio Neves e agradece pelo crescimento que ele teve no final em Minas Gerais; quem sabe dá um pulinho em Montes Claros, a terra do JK. Agora, deixe o Tasso Jereissati, o Sérgio Guerra tratando da política formal. O candidato só entra na política formal depois do acordo estabelecido, não entra de frente. Acho que foi tudo errado, mas vamos crer que recupera.
Paulo Henrique Amorim - Ele não consultou o senhor, não conversou com o senhor, antes de receber o apoio do Garotinho?
Cesar Maia - Rigorosamente nada. Nenhum telegrama. Nem um e-mail. Ele sabe que eu acompanho e-mail. Se ele tivesse mandado um e-mail às 03h da manhã ele teria a resposta às 05h.
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