LEMBO: "IMPEACHMENT É BOBAGEM" (Íntegra do texto postado hoje, mais abaixo)
O governador de São Paulo, Cláudio Lembo, disse em entrevista a Paulo Henrique Amorim nesta quarta-feira, dia 01, que não há a possibilidade de a oposição partir para um movimento de impeachement contra o presidente Lula (aguarde o áudio). “Isso é bobagem. Impeachment por quê? O presidente Lula está fora de qualquer problema”, disse o governador.
Segundo o governador, que é do PFL (partido aliado do PSDB na última eleição), o PSDB tem traços udenistas . “O PSDB tem tudo de UDN e está aí o problema”, disse Lembo.
A UDN foi um dos partidos determinantes da política brasileira entre as décadas de 40 e 60, de caráter fortemente conservador. Carlos Lacerda foi um dos principais expoentes da UDN. O partido passou a maior parte de sua vida na oposição com um discurso caracterizado pelo moralismo. “A UDN era um partido de pequenos e estreitos segmentos da sociedade”, explicou Cláudio Lembo.
O governador de São Paulo disse que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso contribui para que o PSDB tenha as características da UDN. “Ele contribui muito, foi ele quem lembrou a imagem de Carlos Lacerda. E só lembra a imagem de Carlos Lacerda quem tem na alma um espírito udenista”, disse Lembo.
Segundo Cláudio Lembo, Geraldo Alckmin, que disputou a presidência pelo PSDB também tem traços udenistas.
Para Lembo, a oposição, tanto o PFL quanto o PSDB, devem “atravessar a rua” e dialogar com o presidente Lula. “PSDB e PFL devem atravessar a rua e dialogar com o presidente. O Brasil é maior do que as situações transitórias e o embate político”, defendeu Cláudio Lembo.
Leia a íntegra da entrevista do governador Cláudio Lembo:
Paulo Henrique Amorim: A primeira coisa que eu gostaria que o senhor nos ajudasse a entender é o que significa essa vitória do presidente Lula com essa margem que o New York Times chamou de esmagadora.
Cláudio Lembo: Eu creio que é muito simples, Paulo Henrique, está clara a motivação: é a onda social que corre todo o mundo. Se toda a gente defendeu a necessidade de uma mudança visando aspectos sociais da vida, nós não podíamos aqui no Brasil estar diferentes. Ganha o banqueiro dos pobres, o Yunus, ganha por toda parte a necessidade de uma cláusula nos contratos internacionais social. Por que o Lula não ganharia se ele tem essa mensagem, esse discurso? Eu acho que a vitória do presidente Lula é uma coisa absolutamente clara, nítida e precisa. A UDN foi vencida pelo PSD urbano.
Paulo Henrique Amorim:
Cláudio Lembo: O PTB era um partidinho, agora, o PSD era um partidão. E ele sempre ganhava as eleições com seus candidatos: Juscelino Kubitschek, Tancredo Neves, e assim vai. E o Lula, no fundo, conseguiu captar essa vontade urbana, muito presente no Brasil, em que 70% vivem em áreas urbanas.
Paulo Henrique Amorim: E por que não foi possível a oposição colar no presidente Lula a questão das denúncias de corrupção, dossiê, mensalão, isso tudo?
Cláudio Lembo: Esse é um problema muito interessante que teria que se analisar com mais profundidade, o aspecto ético não foi levado a sério. Talvez a diminuição da classe média, talvez uma visão mais pragmática da sociedade. Todas essas situações eram marginais ao governo, não era o presidente Lula. Eram figuras amiga ou próximas, ou até longínquas da estrutura do PT. Talvez isso... a sociedade fez uma reflexão muito mais inteligente que as elites acadêmicas.
Paulo Henrique Amorim: Por que o senhor chama a oposição de UDN? O senhor se inclui nisso, o PFL e o PSDB?
Cláudio Lembo: Eu acho que o PFL nem seria a UDN. Eu diria que o PFL é hoje um partido conservador sem a coragem de ser. Tem que deixar claro que é conservador. Eu digo firmemente: é preciso ter um partido conservador no Brasil. E o PSDB é uma UDN, isso é inevitável. Depois de oito meses aqui dentro como governador e quatro anos como vice eu tive um contato direto, e tem tudo de UDN o PSDB e está aí o grande problema.
Paulo Henrique Amorim: Por que o senhor, depois de quatro anos como vice e agora como governador, se convenceu que o PSDB é a UDN?
Cláudio Lembo: Porque eu tive um contato direto e percebo as mensagens. E sou velho. Então, o velho pode comparar o que era UDN do passado com o PSDB do presente. Os moços como você não podem, mas eu posso. E percebo no PSDB um traço de UDN que ele tem que deixar. Porque a UDN era um partido de pequenos e estreitos segmentos da sociedade.
Paulo Henrique Amorim: O senhor diria que o Fernando Henrique contribui para isso?
Cláudio Lembo: Muito. Muito. Foi ele que lembrou a imagem do Carlos Lacerda. E só lembra a imagem de Carlos Lacerda quem tem na alma o espírito udenista.
Paulo Henrique Amorim:
Cláudio Lembo: Tem traços. É um homem bom, honrado. Você recorda o brigadeiro Eduardo Gomes, um homem bom, honrado, sério. Mas tinha traços que não chegavam até a massa, até o grande movimento social. O famoso caso dos marmiteiros, a frase do [empresário Hugo] Borghi contra o brigadeiro: “ele não gosta de marmiteiro”. Hoje o operário não usa nem mais marmita. Veja que a coisa ficou hoje mais complicado.
Paulo Henrique Amorim: Mas no fundo, no fundo, o senhor acha que o PSDB não gosta de marmiteiro ainda?
Cláudio Lembo: Eu acho que tem que aprender a gostar. Ele até fez o Bom Prato, você veja que é uma marmita bem agradável, a R$ 1, muito sadia. Mas tem que ter cara de marmiteiro, não basta de gosto de marmiteiro.
Paulo Henrique Amorim: E o Serra, é udenista?
Cláudio Lembo: Não, o Serra rompe um pouco essa imagem do udenista, ele não é não. Você vê que o Serra tem coragem de fazer afirmações, o Serra é um homem desenvolvimentista, o Serra é um homem que tem raiz muito popular, é um italianinho, isso muda muito as pessoas.
Paulo Henrique Amorim: E o que o senhor acha que a oposição deve fazer daqui para frente? O que o PFL vai fazer?
Cláudio Lembo: Eu não sei o que o PFL vai fazer porque acho que o PFL está num momento muito difícil depois dos resultados amargos ele se reúne e baixa uma nota de oposição etc. Acho que o PFL tem que parar os seus líderes nacionais, devem voltar para seus Estados, descansar, e voltar a falar só lá para dezembro, quando tiver o horário de verão, porque aí eles perderam uma hora. Porque, agora, é bobagem falar. Agora, depois dessa vitória notável do presidente Lula, falar que não atravessa a rua é bobo, é uma coisa ingênua. Vamos atravessar a rua sim e se o presidente Lula vier a São Paulo vou recebê-lo porque é o presidente, foi eleito pelos brasileiros e nós temos que respeitá-lo.
Paulo Henrique Amorim: E o que o senhor acha que o PSDB deveria fazer?
Cláudio Lembo: O mesmo. Atravessar a rua e dialogar com o presidente. O Brasil é maior que as situações transitórias do embate político.
Paulo Henrique Amorim: E qual é a avaliação que o senhor faz do papel da mídia nessa eleição?
Cláudio Lembo: A mídia portou-se normalmente. Fez críticas, apresentou fatos, ofereceu tudo sobre a corrupção, até de uma forma bastante ampla, e acho, portanto, que se portou como deve ser a mídia: transparente, clara e instrumentalizar a verdade. Claro que a verdade é a verdade de cada um, e cada veículo teve a sua verdade.
Paulo Henrique Amorim: O senhor acredita que vai ser possível fazer uma agenda única ou mínima, de aprovar medidas que sejam do interesse da sociedade, como a reforma política?
Cláudio Lembo: Primeiro eu acho que o Brasil não é um país suicida, muito pelo contrário. É o país da conciliação, portanto, essa agenda mínima vai ser construída. Porém, na pauta, não coloca a reforma política, como disse o José Serra ontem, como ponto prioritário. Eu acho que isso é cortina de fumaça. Ponto prioritário: reforma tributária, reforma da estruturação da dívida interna das unidades federadas. Como está, os estados federados brasileiros vão todos eles para a insolvência. Já estão praticamente, é só uma questão de tempo.
Paulo Henrique Amorim: São Paulo está insolvente?
Cláudio Lembo: Não está insolvente, mas está numa posição de extremo perigo. Se São Paulo que está em situação de desequilíbrio, não tem como investir no futuro, imagina nos Estados mais fracos economicamente, financeiramente. Dramático, né? Então, a dívida interna os Estados tem que ser repensada. Depois, a reforma previdenciária. Eu não ouvi uma palavra da reforma previdenciária em toda a campanha. E é uma coisa catastrófica. Em quaro lugar eu colocaria a problemática da segurança urbana, a segurança interna, também não se falou nada. E eu que vivi aqui, nesse lugar, como governador, com a problemática, a questão do PCC, sei como isso é grave. E nunca escondi da sociedade. E o último ponto que eu levantaria são os aglomerados urbanos brasileiros, são 70, são explosivos. Só na Grande São Paulo são 2.798 favelas. Se isso não for examinado com cuidado, não se fizer um grande projeto nacional de urbanização, dos grandes grupos aglomerados urbanos, nós vamos ter situações muito difíceis no futuro.
Paulo Henrique Amorim: O senhor acha que a oposição vai para o impeachment?
Cláudio Lembo: Não, que nada! Que ingenuidade! Impeachment por quê? O presidente está fora de qualquer problema. Isso é ingênuo.
Paulo Henrique Amorim: E o senhor vai abandonar a política?
Cláudio Lembo: Vou. Vou para casa, Paulo Henrique!
Paulo Henrique Amorim: Fazer o que, governador?
Cláudio Lembo: Vou assistir Paulo Henrique Amorim todos os dias. Olha que coisa boa. E vou falar: ‘o Paulo acertou, o Paulo errou’. Vou ser crítico.
Paulo Henrique Amorim: Quem sabe o senhor venha ser analista político?
Cláudio Lembo: Já fui uma vez na vida, está vendo? Mas eu vou ficar no PFL, tentar ajudar quem for, mas quero estar à distância um pouco.
Paulo Henrique Amorim: E vai continuar dando aula?
Cláudio Lembo: Ah, vou, preciso, né? Preciso. Gosto e é bom porque também tem a remuneração.
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