segunda-feira, outubro 23, 2006

22/10/2006 16:15h

KAMEL NÃO É EVANDRO

Paulo Henrique Amorim

O que o Jornal Nacional fez na edição na véspera do 1º. Turno – quando ignorou a queda do avião da Gol e se concentrou em dar noticias contra o Presidente Lula – foi mais do que o tradicional “padrão Globo” de qualidade: um jornalismo parcial, militante, anti-trabalhista.

O que vem de longe.

A/O Globo ajudou a derrubar Vargas.

Tentou derrubar JK (mini-série, como se sabe, não é documento histórico).

Ajudou a derrubar Jango.

Foi o porta-voz dos “anos militares” (*).

Lutou contra Brizola.

Sempre foi contra Lula.

Quando Roberto Marinho mandava, era proibido ter “sobe som” do Lula, durante as campanhas presidenciais. Se Lula falasse swahili, o publico não saberia. Fora das campanhas, Lula só aparecia em situações que o prejudicasse.

A edição do Jornal Nacional da véspera da eleição foi uma intervenção no processo político muito mais profunda do que a edição do Jornal Nacional na véspera do segundo turno, que elegeu Collor.

A mídia – com a Globo à frente – levou a eleição para o segundo turno, é o que demonstra, com números, Marcos Coimbra, do Vox Populi, na edição da Carta Capital que está nas bancas.

E na entrevista que me concedeu, aqui, no IG: clique aqui para ler.

O que o Jornal Nacional fez na véspera do primeiro turno é outra coisa: é da categoria do “ódio”, da “vingança”.

É mais do que jornalismo militante, parcial.

E isso é obra de Ali Kamel, Diretor-executivo de jornalismo da Central Globo de Jornalismo (sic).
O cargo de manda-chuva no jornalismo da Globo é provavelmente mais importante, no Brasil de nossos dias, do que o de Ministro da Justiça.

O Brasil já teve ministros da Justiça que eram coordenadores políticos de relevo. Tancredo Neves, de Vargas. Petrônio Portella, de Figueiredo. Fernando Lyra, de Tancredo.

O Ministro da Justiça de hoje faz política de forma ocasional. Por exemplo, quando foi jantar na casa do Senador Heráclito Fortes, em Brasilia, com o empresário Daniel Dantas, depois de a revista Veja publicar que o Presidente da Republica e o chefe da Policia Federal tinham contas secretas no exterior, de acordo com informação, segundo a Veja, de Daniel Dantas.

O manda-chuva do jornalismo da Globo é tão poderoso que pode mandar uma eleição para o segundo turno.

Tanto que na Globo, segundo a revista Carta Capital, chamam Kamel de Ratzinger, o guardião da doutrina da fé.

Nem sempre foi assim.

Evandro Carlos de Andrade também foi o guardião da doutrina da fé do jornal Globo e da tevê Globo.

Mas tinha uma diferença.

Evandro não deixava impressões digitais.

Ele dirigiu o Globo durante um largo período dos “anos militares” (*). E não deixou impressões digitais. (A não ser o próprio jornal que fez).

Na Globo, a mesma coisa. Evandro trabalhava como o Barão Scarpia. Um pelotão de fuzilamento acabava com Cavaradossi, mas Scarpia não precisava subir ao terraço do Castel Sant’Angelo. Até porque Floria Tosca já o tinha esfaqueado.

Kamel deixa impressões digitais.

Numa polêmica publica a respeito da participação da Globo na fraude da Proconsult, que tentou impedir a eleição de Brizola no Rio, em 1982 – polêmica que está na origem de meu livro ("Plim-plim, a peleja de Brizola contra a fraude eleitoral", que escrevi na companhia da jornalista Maria Helena Passos) -, pude dizer a Kamel:

Não seja tão subserviente. O patrão não te pede tanto.

Nesse episodio do Jornal Nacional na véspera da eleição, Kamel foi, provavelmente, sobre-subserviente.

Foi para o campo do “ódio” e da “vingança”, quando um verdadeiro guardião da doutrina da fé, como Evandro, se teria comportado dentro dos limites tradicionais de Globo: parcialidade e anti-trabalhismo.

Kamel foi longe demais.

Vamos imaginar a hipótese de o presidente Lula se reeleger.

Assim como há a Lei da Gravidade, a Lei Geral de Telecomunicações vai ter que mudar. Isso afeta a Globo.

Não faz sentido você chegar lá, pagar R$ 250 mil, comprar uma licença, e colocar no satélite a emissora de tevê que você bem entender. Isso é possível nos Estados Unidos, na Inglaterra, no Japão? Aqui, é assim que funciona. E isso vai ter que mudar. E isso afeta a Globo.

E a polêmica sobre se as operadores de telefonia podem ou não produzir conteúdo? Isso afeta a Globo.

Assim como muitas outras questões geradas pela convergência, e que terão quer institucionalizadas nos próximas quatro anos – com Lula ou Alckmin.

Interessa à Globo construir a imagem de “ódio” e “vingança”, que transparece das capas da revista Veja?

Muitos já disseram que o “ódio” da Veja é uma forma de “vingança” contra uma decisão do Presidente Lula sobre livros didáticos, que, este ano, deu um prejuízo à Editora Abril de R$ 40 milhões (clique aqui).

Porque o Ministério da Educação resolveu mudar uma pratica que beneficiava a Abril. E decidiu beneficiar editoras menores (clique aqui).

Até a edição do Jornal Nacional da véspera da do primeiro turno sempre se imaginou que a Globo preferisse um guardião da fé como o Evandro.

Evandro, antes de ir para a Globo, foi um dos melhores jornalistas políticos do país.

Morto Evandro, a Globo substituiu-o por Kamel, cujo obra jornalística está por construir-se – e não no passado.

Ate aqui, a Globo preferia um guardião da doutrina que não quisesse ser mais do que isso: um guardião da doutrina da família Marinho.

Kamel quis ser papa.

Como Ratzinger.

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(1) A expressão “anos militares” é usada pelo respeitável cientista político Wanderley Guilherme dos Santos. Parece-me mais adequada do que “ditadura militar”, que, no Brasil, mudou de significado.


http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/396001-396500/396225/396225_1.html


22/10/2006 16:06h

BOECHAT CONTESTA ALI KAMEL

O editor-chefe do Jornal da Band, Ricardo Boechat, disse ao Conversa Afiada neste domingo, dia 22, que refuta qualquer argumento que deprecie o “banho” que o jornal da Band deu na cobertura do acidente com o avião da Gol. “Quero preservar os méritos do jornalismo da Band neste episódio”, disse Boechat.

Boechat explicou que a primeira nota do Jornal da Band no dia 29 de setembro sobre o acidente foi às 20h29. Essa nota informava categoricamente que “um avião da Gol caiu numa fazenda no Mato Grosso”.

Às 20h49 o Jornal da Band deu um primeiro boletim extraordinário em que informou que o Avião da Gol com 150 pessoas à bordo estava desaparecido havia mais de três horas e o último contato foi na Serra cachimbo.

Às 20h57 um segundo boletim extraordinário da Band informou que o acidente com o Boeing da Gol que tinha 150 à bordo foi provocado por um choque com jato Lregacy. Esse boletim informou também que o jato havia sofrido uma avaria na asa, mas pousou numa base da aeronáutica na Serra do Cachimbo.

Em sua resposta ao Conversa Afiada o próprio Ali Kamel diz que o Jornal Nacional do dia 29 de setembro terminou às 20h45. Kamel diz ainda que quando o Jornal da Band terminou, o Jornal Nacional já estava no ar havia 14 minutos. Ou seja, segundo essa versão de Kamel, o Jornal Nacional ainda tinha 18 minutos de edição para dar a notícia do acidente com o avião da Gol.

Na verdade, tinha 15 minutos porque o Jornal da Band terminou às 20h30, conforme informou Boechat.

Kamel disse também que o horário do Jornal Nacional estava alterado por causa do horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão. Mas no dia 29 de setembro já não havia mais horário eleitoral no rádio e na TV. O último dia de propaganda eleitoral foi no dia 28 de setembro, quinta feira.

Segundo Boechat, o Jornal na Band não veiculou nenhuma nota especulativa sobre o acidente com o avião da Gol. Ele disse que o jornalismo da Band divulgou as informações à medida que elas foram confirmadas. Boechat ressalta ainda que o Jornal da Band se adiantou a todos os outros veículos, inclusive os sites da internet, na cobertura do acidente.

http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/396001-396500/396222/396222_1.html


22/10/2006 10:53h

ALI KAMEL CONTESTA CONVERSA AFIADA

O diretor-executivo de jornalismo da Central Globo de Jornalismo, Ali Kamel, leu o artigo de Paulo Henrique Amorim no Conversa Afiada, "Kamel errou: o JN sabia da queda do Gol" (clique aqui para ler), e enviou o seguinte e-mail que segue reproduzido na íntegra.

Paulo Henrique,

Li sua nota em que afirma que "Kamel errou" . Gostaria que vc publicasse os esclarecimentos que mando aqui. Para mim, e pensando nos seus leitores, seria ideal que os esclarecimentos fossem publicados na ''integra juntamente com a nota. Sei que vc h''a de entender a importância disso.

Deixei recados em seus celulares, mas o assunto era este.

Grato, cordialmente,


Ali Kamel


1) Na resposta que enviei à Carta Capital, não digo que foi o Terra que deu a primeira notícia sobre a queda do avião da Gol. Quem fez essa afirmação foi a própria revista, na reportagem de capa da semana passada. Na minha carta, eu esclareci, então, que a nota do Terra, especulativa, tinha ido na verdade ao ar às 20h46, após o término do JN daquele dia.

2) Em minha carta, eu disse que a TV Globo só daria as informações do acidente quando tivesse todas as informações a respeito: número do vôo, rota e se ele tinha caído ou desaparecido (poderia ter feito um pouso de emergência).

3) O Jornal da Band, como última nota, às 20h14, disse o seguinte: "Um avião da Gol caiu numa fazenda em Mato Grosso". E acrescentou que novas informações seriam dadas no decorrer da programação. Diferentemente do que está no seu site, o Jornal da Band não leu a nota antes de o JN começar, mas quando ele já estava no ar havia 14 minutos. O JN começou naquele dia às 20:00h. A raiz da confusão pode ser o horário do JN fora de período eleitorais: 20h15.

4) A nota da Band não dizia qual era o número do vôo nem a sua rota.
Pôs, assim, sob suspeita de queda todos os aviões da Gol em vôo nas regiões
norte e central do país, que poderiam ter partido de todas as regiões
brasileiras. Não discuto critérios editoriais da Band, mas, na Globo, uma
notícia assim não seria veiculada para não levar pânico a todas as pessoas
com parentes ou amigos voando em aviões da Gol. Foi o que disse em minha
carta. É o que repito aqui.

5) Àquela altura, ninguém poderia informar se o avião tinha caído ou se estava desaparecido. Quando a notícia completa foi confirmada, com rota e número de vôo, Anac e Gol não confirmavam queda, mas desaparecimento da aeronave.

6) O boletim seguinte da Band foi ao ar depois que o JN tinha acabado. O JN chegou ao fim naquele dia às 20h45.

7) Nas notas subseqüentes, a Band aos poucos deixou de dizer que o avião tinha caído para dizer que ele estava desaparecido e que teria se chocado com uma aeronave menor. Uma visita ao site da Band mostra isso.

8) A Band, portanto, começou afirmando que um avião da Gol caiu para, horas depois, corretamente, dar as informações de uma maneira mais precisa para aquele momento..

9) Sendo assim, o que digo em minha carta continua de pé. Por nossos critérios editoriais, um acidente daquelas proporções só deve ser noticiado quando se tem certeza do número do vôo e da rota.

10) Agradeço a publicação desses esclarecimentos.

Ali Kamel, diretor-executivo de jornalismo da Central Globo de Jornalismo.

http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/396001-396500/396177/396177_1.html

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