TUCANOS QUEBRARAM A VARIG
TUCANOS NA VARIG - CONHEÇA OS BASTIDORES DA NEGOCIAÇÃO QUE COLOCOU O PSDB NO COMANDO DA EMPRESA E A LANÇOU EM ROTA DE COLISÃO COM O GOVERNO FEDERALPor Hugo Studard e Darcio Oliveira
O nível de tensão entre o comando da Varig e o governo federal chegou ao limite na segunda-feira 2. No gabinete do Ministério da Defesa, o presidente da companhia aérea, Luiz Martins, tentava explicar ao vice-presidente da República, José Alencar, por que havia deixado de pagar as taxas aeroportuárias da Infraero. Segundo Martins, o dinheiro serviu para quitar a última parcela do salário de março dos funcionários. Alencar disse que entendia as preocupações com a folha de pagamento, mas que a Varig deveria dar um jeito de honrar seus compromissos com as estatais, não só a Infraero, mas também a BR Distribuidora, que fornece o combustível dos aviões. Martins resolveu ironizar: “Eu ainda não sei quem vai parar a Varig primeiro, se a Infraero ou a Petrobras". Quem conhece de perto Alencar, garante que jamais o viu tão furioso. Ele se levantou da cadeira, apontou para Martins e disse: "Não venha imputar ao governo a culpa pela situação da Varig. Nós estamos buscando soluções para a companhia. O problema de vocês é de má gestão". E prosseguiu: “Quem, afinal, é o responsável por tomar decisões?”. Martins respondeu que era o Conselho de Curadores. “Me dá o telefone do Zanata!”, ordenou Alencar. “Liga imediatamente para o Zanata”. Ernesto Zanata é o atual presidente do Conselho de Curadores da Fundação Ruben Berta, dona de 87% das ações da Varig. Ao telefone, o vice-presidente foi definitivo. “A solução tem que sair esta semana. Vocês têm até a sexta-feira!”. Alencar bateu o telefone. Queria algum plano de salvação concreto. Do contrário, avisou a Martins antes de despachá-lo, abandonaria a Varig à própria sorte.

Na tarde de terça-feira 10, Ernesto Zanata, David Zylbersztajn e os demais membros do conselho foram a Brasília conversar com José Alencar. Esperava-se um clima tenso no encontro. Não foi o que ocorreu. O vice-presidente ouviu atentamente o plano de vôo dos tucanos, que incluía renegociação da dívida, demissões (estão previstas duas mil dispensas) e afastamento da Fundação do controle da companhia. “O Zylbersztajn tem carta branca para negociar a venda da Varig”, contou Zanata. Zylbersztajn, então, apresentou a Alencar oito propostas de compra da companhia. Eram elas: a do empresário Nelson Tanure; a da Ocean Air, de German Efromovich; da empresa aérea TAP; do grupo português Pestana; de um fundo de investimentos do Texas; de outro grupo português ligado a um fundo chamado Fonditec; da companhia aérea Avianca e até da associação dos funcionários da Varig. “Mas cinco dessas propostas são inconsistentes”, explicou Zylbersztajn. Se depender do novo conselho, a Fundação fecha negócio com a estatal aérea portuguesa TAP. “É a mais forte, tem um governo por trás”, justifica Zanata. Nesse jogo Varig/TAP há ainda um componente emocional que pode facilitar as negociações. A empresa portuguesa é comandada por Fernando Pinto, afastado da presidência da Varig em 2000. E ele nunca escondeu o sonho de retomar o manche da companhia, numa volta triunfal. Só tem um problema: a TAP exige o controle da Varig, mas pela lei só pode ficar com 20%. A saída seria se associar a um investidor nacional disposto a bancar os 31% restantes.

A oferta não é nova. O próprio Martins já tinha ouvido a história do português e achou que era uma piada de mau gosto. Segundo confidenciou a amigos, a idéia inicial do tal Alexandrino seria injetar US$ 1,2 bilhão e na seqüência sacar US$ 600 milhões de volta. “Isso me parece lavagem de dinheiro”, disse Martins numa reunião de diretoria. “Eles não revelam sequer a origem dos recursos”. Durante as negociações, os executivos da Varig teriam descoberto que o dinheiro viria da organização católica Opus Dei, que hoje domina um terço da economia do Chile. Na semana passada, Zylbersztajn enviou dois executivos para a Cidade do Panamá para tentar falar com o português. Também despachou equipes para Londres e Nova York a fim de garimpar investidores de verdade. “A grande questão para um novo investidor é a dívida da Varig com o tesouro. E justo agora a companhia elege um board que não se alinha ao governo”, avalia um fornecedor da companhia brasileira. Embora a Varig tenha bons resultados operacionais, seu passivo é enorme: dívidas que chegam a R$ 9,5 bilhões (metade com o governo) e patrimônio líquido negativo de R$ 6,5 bilhões. Nesse
céu de turbulências no qual a Varig entrou, há um vetor essencial a considerar,
a vontade do presidente Lula, titular da caneta que pode prorrogar a vida da companhia ou desligar os aparelhos. Está nas mãos do presidente petista o
destino da Varig tucana.
R$ 9,5 bilhões É o valor da dívida total da Varig.
Ela ainda tem um patrimônio líquido negativo de R$ 6,5 bilhões
Os tucanos - Saiba quem são os novos conselheiros da problemática companhia

Ex-executivo da Shell, ele é tido como um eficiente administrador de empresas. Foi o primeiro a ser convocado por David Zylbersztajn

Comandou o BNDES na gestão FHC. Ficou famoso por nem querer ouvir falar no caso Varig quando estava no banco

O pequeno notável, como é conhecido em Brasília, foi embaixador do Brasil na França durante o governo FHC

Ex-genro de Fernando Henrique e
ex-chefe da ANP tem o difícil desafio
de comandar o time que promete
sanear a Varig
http://www.terra.com.br/istoedinheiro/401/negocios/tucanos_varig.htm
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